sábado, 19 de março de 2011

MINHAS MEMÓRIAS - CAP. 4


PARTE
II

A MINHA ADOLESCÊNCIA, UMA MENTE
CRIATIVA SEMPRE EM EVOLUÇÃO
(SEM NENHUMA MODÉSTIA),
A ERA DO REI DAS FRUTAS
E ÁLBUM DE FAMÍLIA





CAPÍTULO 4
IDEIAS, INICIATIVAS E INVENÇÕES

         O tempo então passou, muita coisa mudou durante esse intervalo e o pensamento e as ideias também acompanharam o mesmo ritmo. Essas “importantes” transformações foram surgindo a cada dia, evoluindo, assim, gradativamente.
Entre os anos de 1988 e 1998, e mais precisamente dos meus 15 aos 25 anos (depois disso viajei para o Rio...), eu fiz coisas que até Deus duvida. Para todos os efeitos, era apenas diversão garantida e da boa, somente isso. E o que falava mais alto, na verdade, era o meu espírito aventureiro (havia quem dissesse que era por falta de mulher...), a inquietação constante da busca pelo novo, qualidades estas adquiridas ao longo dos anos, através das mil e uma estórias encontradas nos gibis, que eu praticamente “devorava”.
A literatura dos quadrinhos foi mesmo predominante, eu diria até determinante em toda a minha “trajetória”, especialmente na minha agitada adolescência, revelando-me muita coisa que eu até então desconhecia. Uma influência um tanto positiva, apesar de não ter o mesmo conteúdo requintado e o padrão formal das estórias eruditas, dos livros infantis, fábulas e romances clássicos.
O gibi, para melhor se dizer, era a fonte de conhecimento e de diversão mais barata, além de ser a mais acessível que tínhamos prontamente em mãos. Eu, juntamente com o meu irmão Reinaldo, a essa altura, já com mais de 10 anos, fazíamos todo tipo de negócio, em casa, na rua, em qualquer lugar. E até as minhas irmãs mais novas, Adriana e Viviane, também faziam parte desse movimento.
A seguir os meus principais parceiros de troca e também de alguns “negócios” envolvendo gibis, em diferentes épocas:
  • Sandro, o Sandrinho do finado Seu Deca, um grande eletrônico;
  •  Ângelo, o irmão mais velho de Cristiano, Cristofher e “Pitbul”;
  • Ângela (Anginha), cunhada do meu amigo Estefâneo;
  • Neildo, filho do saudoso “Necid” e da Dona Domingas;
  • Gilberto, “Betinho”, de Zé Geraldo;
  • Mário Henrique, meu grande amigo inventor;
  • Estefâneo, “Fãe”, que adorava ler A espada selvagem de Conan;
  • Dida da Rua do Cruzeiro, irmã do amigo Eduardo, o “Duda”;
  • Marivaldo (in memorian);
  • Eduardo, o amigo “Du” de Seu Bertino;
  • Vanusa, que me fará sempre recordar o Disney Especial Os Namorados;
  • Cláudio “Aleixo”, com quem me lembro ter feito minha primeira troca de gibis;
  • Naldim, meu pequeno grande amigo, o baixinho mais inteligente de Queimadas;
  • Narcélio, irmão do amigo “Helinho” de Dona Neném;
  • César, irmão de Sandro e Vital, filhos do saudoso Fernando Vital;
  • Linaldo, irmão de Zezinho da eletrônica;
  • Um amigo da Rua do Castanho, o qual não lembro mais seu nome;
  • Valter, que residia na “Rua Nova”; e
  • Um amigo do meu primo “Baquinha”, que morava no sítio Pedra do Sino.

Mas, sem dúvida alguma, o maior leitor de gibis em Queimadas, nessa época, chamava-se Lula de Seu Luiz Pereira, com quem, por motivos bem pessoais, eu não tinha nenhum contato.
...
Mesmo sob a influência constante e a perturbação contínua do TOC, ainda assim consegui aproveitar, como ninguém que conviva com essa “maldição”, os 10 anos mais criativos da minha existência.
Quem conhece na “pele” os efeitos desse distúrbio psicológico (para muitos, algo até incompreensível) sabe realmente o que estou dizendo. Fica praticamente impossível, por exemplo, ler um livro e ter de ficar voltando páginas a todo instante, porque no meu pensamento ficaram folhas grudadas. E também a fixação obsessiva numa palavra, a contagem de sílabas e observação da métrica. Sem falar nas manias (Roberto Carlos que o diga), nos exageros de organização, tudo sempre juntinho, certinho, alinhado, rótulos para frente... é um perfeccionismo levado ao extremo, melhor simplificando.

Mas eu sobrevivi, como sobrevivo até hoje, convivendo com esse meu transtorno (esse desabafo agora me ajuda e vem bem a calhar). Um analista? Eu sou o meu próprio psicólogo, afinal, de médico e de louco todo mundo tem um pouco.
Viagem a São Lourenço, Minas Gerais, em 97. Eu lá no fundo
pendurado no teleférico e a minha prima Aline.

       A seguir descreverei, passo a passo, dentro de excelentes tópicos, toda uma “saga” repleta de emoções. E, na medida do possível, de forma cronológica, narrando um período de aproximadamente 10 anos (se estendendo até mais, em antes/ depois), recheado de “causos”, de aventuras e muita diversão. Tudo com base no referencial III... (Ideias, Iniciativas...)

A MINHA 1ª “ESTORINHA”
O meu desejo de escrever e até a necessidade de fazer-se ouvir, através de relatos e “causos”, vem de muito longe. Os meus primeiros poemas, versinhos totalmente despretensiosos, datam de 1984/1985, e o cunho principal sempre foi de caráter debochado e crítico (algumas meninas de Queimadas que o digam), motivos os quais até hoje me inspiram para desenvolver estorinhas do tipo “esculachativas”.
Contudo, foi quando eu tinha uns 13 anos, mais ou menos isso, que eu tive a mais mirabolante das minhas ideias “literárias” até então. Criei, desenvolvi e até desenhei (meu ponto fraco) “As aventuras de uma pequena laranja grande”, dentre todas as outras, a trama mais complexa e mais inteligente para um garoto com tão pouca idade. O enredo era algo simples, porém convincente, interessante até, em um formato de gibi, e que, infelizmente, perdeu-se no tempo. Assim como tantas outras estorinhas, pequenos projetos ainda em andamento, em especial, dos tempos de escola.

OS “DONOS DA BOLA”
Dentre as ideias mais infelizes que já tive, porém muito engraçada, foi a de compartilhar uma bola com aproximadamente 15 meninos. Eu, como “sócio majoritário” da empreitada, guardava-a em casa, até porque ela só nos servia mesmo para jogar uma “cabecinha”, à noite, na calçada do então Colégio de D. Dulce, que era ao lado da minha casa.
A confusão todo dia, ou melhor, toda noite, era certa, principalmente por parte de “Bega”. Todos queriam mandar na bola e ter a sua vez garantida no jogo, a todo custo, gerando discussões, brigas e muito “muído”. Então, eu só vi uma solução: “indenizar” um por um, ficando sozinho com a bola.
A minha intenção, na realidade, era unir cada vez mais os meus amigos, fazendo-os interagir melhor, proporcionando alegria e diversão, e não provocar atritos entre eles. E a moral que tirei disso tudo é a de que: dividir uma coisa, seja ela qual for, é uma arte que nem todo mundo domina, sendo este um adulto ou criança, consequentemente.

INICIANDO NO SKATE
Por volta de 85/86 eu já me arriscava em algumas manobras um tanto radicais no skate, descendo como sempre a calçada do antigo Colégio Maria Dulce Barbosa, ou da então padaria de Seu Luiz Pereira. Sem esquecer, no entanto, que devo ao amigo “Merson” esse meu contato inicial no mundo do skatismo, através daquele seu “skatinho” fino.
Meu irmão Reinaldo e o nosso inseparável skate

          Nos anos 90, mesmo sem ter uma prática de rua necessária para tanto, ou ainda pior, sem ter um skate à altura, lembro-me que eu já inventava. Eu colocava um ou dois garotinhos nos meus ombros (normalmente os dois “cãezinhos” de Terezinha: Willian e Jackson, irmãos de “Zu”, entre outros) e pulava no shaper ladeira abaixo, deixando os mais velhos horrorizados. Foi a partir daí, talvez, que surgiu a minha fama de “doido”, mais tarde melhor identificada com a de um “maluco beleza”.
Eu em Botafogo, no Rio de Janeiro. Foto bem atual.

Os anos 2000 trouxeram-me, enfim, a era do long board (influências do Rio), a qual atravesso até o momento ileso, sem fraturas ou escoriações maiores.


FROTA RAUL SEIXAS
Numa época em que todo o meu tempo disponível era somente para brincar (não mudou muito até hoje), e por que não criar uma frota de caminhõezinhos para o meu irmão Reinaldo e alguns de seus inúmeros amigos brincarem?! Dava um trabalho enorme e eu nem era remunerado para tanto, mas valia a pena. O detalhe é que todos eles já saiam de “fábrica” com o carimbo da “Sociedade Alternativa” estampado na carroceria.

E assim, de repente havia 4 ou 5 representantes da frota juntos, divulgando a música (nomes) e a arte de Raul Seixas pelas ruas e calçadas de Queimadas. Meu esforço, portanto, estava recompensado.
Reinaldo ainda "guri" expondo o nosso "patrimônio"

ZARABATANAS
Para fazer uma boa zarabatana, a conhecida arma indígena, eu só precisava de 1 metro de “caninho”, desses que compõem uma antena externa de TV. Também de uma boa agulha de costura e o principal, o segredo da (minha) invenção: uma cortiça, uma rolha de garrafa, daquelas de madeira bem “molinha”.
A mira dessa “arma branca” era praticamente infalível em até 5 ou 6 metros de distância, o que me permitia realizar proezas como, por exemplo, acertar num pirulito. Com um detalhe: esse pirulito, do tipo “Zorro”, encontrava-se muitas vezes dependurado pelo palito na boca de algum “voluntário”, uma “cobaia” que, para ganhar o doce, tinha de confiar na minha pontaria; e eu nunca decepcionava! Meu irmão Reinaldo sempre se prontificava para tal, confiando, pois, na minha incrível destreza.

DEDOS EM CHAMAS
Uma brincadeira perigosa e de muito mau gosto, na qual eu utilizava-me de álcool para criar um efeito real de chamas nos próprios dedos. Ou seja, eu incendiava os meus polegares e também os dedos indicadores por alguns segundos, abafando-os antes que queimassem de verdade. Bastava apenas despejar um pouco de álcool por sobre uma superfície lisa e atear fogo. Em seguida, os mais corajosos eram convidados a acompanhar-me nessa empreitada, deslizando as pontas dos dedos por entre o líquido flamejante. Era ainda mais divertido quando faltava luz, assim como toda “brincadeira” que correspondesse ao fogo.
Apesar de todos os cuidados e precauções (?), ainda assim, vez ou outra, alguém acabava saindo com um dedo ardendo. Sem falar nos “menorzinhos” que tentavam copiar-nos em casa. O resultado era sempre o mesmo: queimaduras leves e a culpa toda apontada para mim.

AS SUPERCAMINHADAS
O ano era 1991/1992, tenho isso registrado e, portanto, não haveria como esquecer. Uma das melhores aventuras de que participei.
Com 18 anos (metade da minha idade hoje) eu tinha coragem, vitalidade e energia suficientes para encarar qualquer parada (Pudera! Eu nunca soube o que era trabalhar duro, até esse momento.), inclusive, para organizar algumas caminhadas superlongas (ida e volta), como:
  • Queimadas/Boqueirão (60 km);
  • Queimadas/Boqueirão (30 km, só ida);
  • Queimadas/Barra de Santana (50 km);
  • Queimadas/Campina Grande (35 km).
Para isso eu contava com poucos e raros companheiros de jornadas, como Jailson Nóbrega, meu amigo “Batata”, “Nêgo” de Dona Irene e, principalmente, aquele que nunca recusava uma boa caminhada, meu grande amigo, irmão e parceiro, Ironildo, o super-homem da resistência física. Os meus pés, coitados, diante dessas extravagâncias todas, necessitavam de dias para recuperar-se. Ao contrário de Ironildo que, após chegar de uma caminhada como a de Boqueirão, ida e volta (dez léguas), ainda foi dançar no Clube Municipal.
Lembrando também que todo ano havia (e ainda há) a tradicional caminhada até a Pedra de Santo Antônio, município de Fagundes, durante o mês de junho, a qual já era para mim um programa anualmente certo. Recordo-me de ter ido, pelo menos, umas oito vezes a pé, sempre acompanhado por turmas, e ainda outras tantas vezes de bicicleta.
Reinaldo na Pedra de Santo Antônio, numa das minhas tantas idas até lá.
 Continua...