terça-feira, 12 de novembro de 2013

38ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE INVERNO, EM CAMPINA GRANDE


FESTIVAL DE INVERNO, SUA CONTRIBUIÇÃO CULTURAL PARA CAMPINA GRANDE
                                                                 
                                                  REPÓRTER: PAULO A. VIEIRA  e WAGNER WOLNEY

A cidade paraibana de Campina Grande oferece todos os anos o Festival de Inverno, uma oportunidade quase única de se revelar artistas locais, bem como de poder apresentar outros já consagrados pela mídia, nacionalmente conhecidos. Com o objetivo de estimular a cultura da população, o Festival de Inverno teve início em 1974, sendo aberto oficialmente pelo escritor Ariano Suassuna, apresentando o recém criado Balé Armorial. Inicialmente, o Festival era sediado apenas no Teatro Municipal Severino Cabral, porém nessas últimas edições vem se descentralizando, incluindo outros lugares da cidade.
Durante mais de uma semana são oferecidos gratuitamente ao público diversos shows musicais (especialmente ao longo da Avenida Floriano Peixoto, no centro), além de recitais, espetáculos de dança e teatro, conferências, debates e oficinas pedagógicas. Uma infinidade de atrações culturais e outras alternativas são proporcionadas ao público campinense, bem como de outras cidades e estados brasileiros. Em 2013 o evento chegou à sua 38ª edição, comemorando o jubileu de ouro da professora universitária e ativista cultural, Eneida Agra Maracajá, a principal responsável pela criação do Festival de Inverno em Campina Grande.
Foi realizada ainda nessa edição uma exposição sobre os 50 anos de atividades da professora Eneida, alguém que fez da cultura e da arte a sua própria vida. E de fato, ela se agregou ao poder apenas e tão somente para “obrigar” os donos do poder a permitirem arte e cultura. Ela, melhor do que ninguém, sabe da importância e da contribuição cultural desse evento para Campina Grande, uma vez que o Festival abre as portas para artistas da terra, ajudando-os a se projetarem profissionalmente na carreira. Segundo Eneida, somente em 2013 cerca de 700 artistas locais se apresentaram, sendo 150 deles da área musical.
Ao longo desses anos, Eneida Agra trouxe vários nomes conhecidos do público para Campina, a exemplo de Regina Duarte, Elba Ramalho, Paulinho da Viola e, para esta última edição, o cantor Lenine e os bailarinos Carlinhos de Jesus e Ana Botafogo. Para ela, há muito que o Festival de Inverno virou uma “consagração da resistência”, tendo em vista as poucas verbas disponibilizadas para sua realização. Defensora de que todos tenham acesso aos bens culturais ela criou, entre outros projetos, grupos que ensinam arte a detentos e aos moradores de periferia, motivo esse que enche de orgulho a professora.
Ao ser questionada sobre os 38 anos do Festival de Inverno, de que maneira ele está representado nas manifestações culturais da cidade, ela afirmou que Campina Grande já sente os reflexos e o legado positivo desse evento, durante todo o ano, considerando que o Festival passou a ser uma espécie de instituição, por não se limitar apenas aos dias de apresentação. De acordo com Eneida, o Festival de Inverno adaptou-se de forma eclética aos novos tempos, agregando-se às novas tendências culturais e fugindo da eventologia. Lembrando ainda que a cidade hoje já conta com o teatro Facisa, o Sesc, além de vários grupos de dança e academias espalhadas pela cidade. “O que o Festival fez e faz é reafirmar o seu compromisso, não com festas, mas utilizando-se de um caráter pedagógico. Havendo, portanto, uma distribuição gratuita dos bens culturais”, assegurou ela.
Segundo a professora Eneida, vivemos em uma sociedade globalizada, capitalista, consumista, que vai tirando a subjetividade e o sentimento de todos. No seu ponto de vista, a cultura, de uma maneira geral, não vai bem em Campina. “É necessário que a enxerguem com sensibilidade, com os olhos do coração, visto que a arte transforma as pessoas”, ressaltou, não escondendo a sua indignação com o descaso na cultura. Ela defende que os bens culturais deveriam ser apresentados sempre em locais abertos, de fácil acesso ao povo, visto que nem todo mundo dispõe de locomoção e meios adequados para chegar aos locais de apresentação.
Para Reinaldo Vieira, Sub-gerente do Bar do Cuscuz, aqui em Campina, o Festival de Inverno este ano superou todas as expectativas, visto que no calendário de eventos havia muita coisa interessante. “Fiquei emocionado com algumas apresentações, em especial, com o grupo teatral encenado por detentos locais. Aquilo me fez repensar sobre vários conceitos que eu tinha em relação aos presidiários. As artes, a cultura em geral, sem dúvida, desenvolvem um papel fundamental na sociedade, sensibilizando as pessoas e mostrando que o mundo ainda pode ter salvação”, conclui Reinaldo.
Eneida Agra Maracajá, uma das mais influentes ativistas culturais contemporâneas, agregou-se ao poder tão somente para obrigar os donos do poder a permitirem arte e cultura. “Se o Festival tivesse o apoio e patrocínio do Maior São João do Mundo, essa cidade daria um banho de cultura na Paraíba e no Nordeste, pra ficar na história”, finaliza ela, comunicando que nos próximos anos será apenas uma mera expectadora, não ficando mais a frente da organização do Festival de Inverno.