segunda-feira, 26 de março de 2012

PRÉ - PROJETO/ LITERATURA DE CORDEL


Há uma semana de postar aqui o meu 3° folheto de cordel (ignorando minhas antigas publicações dos anos 90), intitulado – Queimadas, eleições 2012 - DA FILIAÇÃO À CONVENÇÃO, achei por certo colocar antes este texto (inacabado, porém, bastante esclarecedor), um pré-projeto que desenvolvi propondo discorrer a respeito das origens e consolidação da literatura de cordel no estado da Paraíba. Mas, sobretudo, onde eu procuro (ou, pelo menos, tento) utilizar como objeto de estudo o futuro do cordel quanto à sua forma de comercialização, uma ideia que poderei desenvolver mais tarde e mais profundamente. Podendo, até mesmo, transformá-la no meu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso).
Vejamos o texto a seguir.

    O FUTURO DA LITERATURA DE CORDEL NA
 PARAÍBA, ENQUANTO MERCADORIA E FORMA RÚSTICA
                                     DE VENDAGEM

INTRODUÇÃO
                                            
A Literatura de cordel é muito antiga, já temos alguns registros inclusive nos escritos de Camões, como também em Gil Vicente, Cervantes e outros. No Brasil, teve início com a vinda dos portugueses durante a colonização. E no Nordeste brasileiro ganhou um espaço muito grande até metade do século XX. Porém, nos últimos tempos, esta forma de literatura, popular por excelência, anda meio estagnada e possivelmente fadada ao esquecimento.
Identificada a partir da concepção e do pressuposto comum em que se pode considerá-la como uma “literatura de fácil acesso”, mesmo apresentando, de forma peculiar, temas sérios do cotidiano do interior nordestino e outrora de outras localidades, a poesia de cordel tem as suas origens bastante remotas, provenientes em parte, da Europa Medieval do século XII.
De acordo com o escritor e cordelista Gustavo Dourado, esse tipo característico de literatura tem suas bases na França (Provença), e posteriormente em Portugal (século XVII), na Espanha, Itália, Alemanha, Holanda e Inglaterra. Por sua vez, chegou ao Brasil com a colonização portuguesa e se consagrou definitivamente como sinônimo de poesia popular. Se levada ao pé da letra, a designação cordel vem de corda, cordão. Até hoje ainda vê-se expostos esse tipo de folheto como era antigamente, dependurado nas feiras livres, nas praças, bancas e mercados.
Outrora bastante utilizada no estado da Paraíba, até mesmo por algumas escolas do ensino primário, a poesia de cordel contribuía positivamente no aprendizado e no gosto pela leitura de muitos estudantes, tendo sido, portanto, um poderoso aliado no processo de educação e alfabetização de jovens e adultos.
O cordel revelou-se, desde então, um meio de informar às pessoas de uma maneira mais simples, por possuir fácil compreensão e conseguir levar suas histórias a diversos lugares. Por ser uma manifestação popular, sempre encontrou espaço para informação e opinião sobre os fatos do cotidiano.
A literatura de cordel ganhou notoriedade ainda por meio do estudo, pesquisa e divulgação de pessoas interessadas em propagarem essa arte tão simplória e, com efeito, o resultado direto das manifestações da cultura popular. Renomados criadores das artes, da música e da literatura brasileira, deixaram-se influenciar pelos traçados e rimas simples de um folheto de cordel, abraçando-o e definindo-o como base para algumas de suas determinadas criações. Autores como o paraibano Ariano Suassuna, providenciaram suas próprias classificações dentro do contexto cordelista.
Segundo Joseph Luyten (apud Dourado), a literatura de cordel já ultrapassou mais de cem mil títulos publicados só no Brasil (este que é o maior produtor de cordéis no mundo ocidental), em cerca de 20.000.00 (vinte milhões) de folhetos impressos, aproximadamente, já que algumas tiragens, segundo outros pesquisadores, não ultrapassam 200 (duzentos) exemplares. E ainda de acordo com Dourado, o primeiro folheto de cordel reconhecidamente publicado no Brasil data do ano de 1902. Impresso na cidade de Campina Grande - PB, é de autoria de Francisco Chagas Batista, e encontra-se catalogado na casa de Rui Barbosa - no Rio de Janeiro, onde se situa a ABLC (Academia Brasileira de Literatura de Cordel).
A literatura de cordel representa a versão impressa da poesia popular e reflete diretamente na forma como os poetas do povo encaram a realidade. Seja a partir de fatos explorados ou não pela mídia, a opinião do cordelista sempre esteve presente no cordel durante séculos, sem o temor da concorrência do mercado. O cordel é, então, uma mídia alternativa e popular, carregada de conteúdo informativo e opinativo. Não tem o objetivo de servir de jornal, até porque não segue um padrão editorial empresarial.

Sabe-se que, embora impresso e veiculado pelo folheto, o cordel é uma forma de literatura oral feita expressamente para ser recitada. A rima do cordel é feita para o ouvido e a memória, não para os olhos. Ela é, antes de tudo, mnemônica e comunicativa. O folheto é apenas o suporte material de uma poesia que permanece oral. (KUNZ, 2001, p. 79-80).

Infelizmente, o cordel vem sofrendo nessas últimas décadas uma certa discriminação, sendo ignorado principalmente pelo público adolescente. Talvez até porque essa forma de cultura seja vista ou considerada um tanto arcaica aos olhos desses jovens. Seria necessário agora mais do que um simples convencimento para integrá-los a este maravilhoso universo mítico da poesia.
O objetivo deste trabalho é realizar uma discussão sobre a importância cultural e financeira da poesia de cordel, avaliando as consequências causadas pela falta de incentivo e de estímulo no que diz respeito a esta arte tão secular e recheada de elementos folclóricos. Focaremos especificamente o cordel produzido na Paraíba que é muito rico, porém um tanto esquecido, de uma forma geral.
Nos propomos analisar mais profundamente alguns dos aspectos e familiaridades da poesia de cordel, uma área que tem se revelado insatisfatória e financeiramente inviável para os nossos cordelistas nesses últimos tempos, especialmente os paraibanos. Dessa forma, a nossa preocupação direta é também com o futuro desse gênero literário, sua comercialização e distribuição. A exposição do problema, bem como a função social do cordel em todo seu contexto histórico e cultural, apresentadas durante esta pesquisa, darão respaldo a estas escolhas.
Todavia, é importante ressaltar que vivemos em plena era digital, e a informatização já provocou uma verdadeira revolução nos meios de comunicação. Livros e revistas, por exemplo, já são agora publicados exclusivamente pela Internet, condenando a um fim muito próximo, até por comodidade, o acesso físico das pessoas às bibliotecas convencionais.
Com a revolução e a inovação cada vez mais rápida nos meios de comunicação, e com a literatura sendo mais informatizada a cada dia que passa, acaba restando, consequentemente, pouco espaço para algumas publicações, pequenas edições locais literariamente menos favorecidas. E também fica evidente o fato de que um número cada vez maior de pequenos escritores, cordelistas em especial, já se rende a esse novo processo de integração literária, procurando novas alternativas, nas quais possam inserir os seus trabalhos.
Nossa perspectiva é medir o impacto causado pela modernidade na poesia de cordel, uma cultura que pode vir a ser seriamente ameaçada de extinção. O problema sugerido e o qual iremos avaliar terá como referencial teórico, principalmente, os trabalhos e análises de Gustavo Dourado, referentes ao assunto pesquisado.

Defendo os folhetos em papel e acho que eles precisam continuar existindo, tanto pela estética quanto pela cultura. Sem eles não se consegue juntar os amigos para uma leitura ou não é possível guardar de recordação para mostrar aos filhos. (SILVA, 1998, apud MEIRA, 1998).

Logo, tomando como base os estudos levantados por Dourado, em que ele procura enfatizar, de forma esclarecedora, desde as origens da literatura de cordel até sua contemporaneidade, conseguimos, portanto, elaborar uma problemática por meio da qual iremos avaliar, num futuro bem próximo, a continuidade e permanência do cordel em sua forma atual de comercialização e distribuição, em especial no estado da Paraíba. Ou seja, procuraremos determinar, analisando mais especificamente o ponto de vista financeiro, qual será o futuro da literatura de cordel na Paraíba, enquanto mercadoria e forma rústica de vendagem.
Segundo Silva e Barbosa, a Literatura de Cordel está sofrendo um desgaste criminoso por parte do modelo modernista de desenvolvimento e do consumo de culturas exóticas de forma demasiada no Nordeste, sem apresentar a menor preocupação com a importância, a identidade e a preservação dos costumes regionais.
Buscaremos, ainda, através de uma série de entrevistas com profissionais regionais do ramo, avaliar também o ponto de vista cultural e as suas expectativas quanto ao comércio futuro de suas obras, uma vez que sabemos da realidade da literatura de cordel, a qual já não tem mais aquela mesma difusão ou importância de antes.
Guardando, portanto, as suas devidas proporções, temos o folheto de cordel como sendo um dos maiores patrimônios culturais brasileiros, uma forma de literatura um tanto quanto leiga e que surgiu da mais absoluta necessidade de comunicação entre a grande massa. Seus versos não têm uma métrica rígida, ou têm uma métrica própria. Sua poesia não teme ir às raias da prosa, ou sua prosa de tão musical vira poesia. Seu vocabulário resgata termos arcaicos com tanta naturalidade que os fazem soar contemporâneos, assim como termos moderníssimos são incorporados à fala matuta com um sem preconceito que os fazem soar naturais.
 Essa característica única de se encontrar historicamente ligada a um simples pedaço de corda, mediante uma representação secular, é, talvez, o que diferencia a literatura de cordel e a coloca em uma posição bastante curiosa em relação à memória cultural do povo brasileiro.

“O cordel resiste, reexiste, subsiste, sobrevive, apesar das idiossincrasias, intempéries, dificuldades e antropofagias da Indústria cultural midiática, globalizante e da invasão cultural norte-americana...” 
 (GUSTAVO DOURADO)

Um comentário:

  1. O cordel é uma arte que vem de Portugal e que representa a manifestação mais popular que conheço. Não deixem o cordel morrer!

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