CORDEL, UMA LITERATURA SECULAR
A Poesia popular na
Paraíba a na Rainha da Borborema
Parte
integrante da cultura popular nordestina, onde a Paraíba se destaca com grande
relevância, a Literatura de Cordel já faz parte da identidade cultural do nosso
estado, atravessando várias gerações com suas histórias quase sempre
fantasiosas e tradicionalmente folclóricas. Se levada ao pé da letra, a
designação cordel vem de corda,
cordão. Podemos confirmar isto ao encontrar esse tipo de folheto exposto, da
mesma forma como era vendido antigamente, dependurado nas feiras livres, nas
praças e bancas de mercados.
A poesia
de cordel chegou ao Brasil com a colonização portuguesa, encontrando um espaço
maior na região nordeste do país, sobretudo, até metade do século XX, e
consagrando-se definitivamente como sinônimo de poesia popular, além de ser um
meio de informar as pessoas de uma maneira mais simples, por possuir fácil
compreensão e conseguir levar suas histórias a diversos lugares. Ainda hoje, o
cordel é bastante utilizado no estado da Paraíba, especialmente por escolas do
ensino fundamental, contribuindo no aprendizado e no gosto pela leitura de
muitos estudantes, sendo assim, um poderoso aliado no processo de educação e
alfabetização de jovens e adultos.
Em Campina Grande fica evidente o prestígio desse
gênero literário, tanto que existe um espaço exclusivo para a conservação dos
folhetos, a Biblioteca Átila Almeida. Instalada no Campus I da Universidade
Estadual da Paraíba, essa biblioteca dispõe de uma valiosa coleção de cordéis,
oriundos de diversos lugares da região Nordeste. Ela é considerada pelos
pesquisadores do assunto como um dos maiores acervos do mundo, com mais de dez
mil títulos de cordéis e 17.532 (dezessete mil, quinhentos e trinta e dois)
exemplares.
Podemos encontrar também em Campina Grande
aquele que é considerado o “papa” dos cordelistas, o poeta popular Manoel
Monteiro da Silva. Nascido em 1937, no município de Bezerros, Pernambuco, é o
maior escritor do gênero em atividade. Dentre os muitos títulos de sua
autoria, destacam-se: O Castigo da Soberba; Uma Tragédia de Amor; Peleja de
Manoel Camilo com Manoel Monteiro; Padre Cícero: Político ou Padre? Cangaceiro
ou Santo?, entre outros. Membro da ABLC, Manoel Monteiro ocupa a Cadeira de
número 38, patroneada pelo poeta pernambucano Manoel Tomaz de Assis.
É importante
ressaltar que vivemos em plena era digital e a informatização já provocou uma verdadeira
revolução nos meios de comunicação. Grande parte da produção de livros e
revistas já são agora publicados pela Internet, ficando evidente o fato de que
um número cada vez maior de pequenos escritores, cordelistas em especial, já se
rendem a esse novo processo de integração literária, procurando novas
alternativas nas quais possam inserir os seus trabalhos.
A Literatura de Cordel é
a representação impressa da poesia popular, refletida na forma como os poetas
do povo enxergam a realidade. Assim, o cordel nunca deixou de ser uma mídia
alternativa e popular, recheada de conteúdo informativo e opinativo. Por outro
lado, embora impresso e veiculado pelo folheto, o cordel será sempre uma forma
de literatura oral feita para ser recitada, pois a sua rima é feita para o
ouvido e a memória, não necessariamente para os olhos. O folheto é apenas a
base material de uma poesia que precisa continuar existindo, tanto pela
estética quanto pela cultura.
Temos,
portanto, a poesia de cordel como um dos maiores patrimônios culturais do
estado da Paraíba. Seus versos não seguem uma métrica rígida ou própria, porém,
possui características únicas, como o fato de encontrar-se historicamente
ligados a um simples pedaço de corda, mediante uma representação secular.
Curiosidades sobre o cordel:
A
Literatura de Cordel é muito antiga e tem as suas origens bastante remotas,
provenientes em parte, da Europa Medieval do século XII. Temos alguns registros
inclusive nos escritos de Camões, como também em Gil Vicente, Cervantes
e outros.
Segundo
o escritor e cordelista Gustavo Dourado, o primeiro folheto de cordel
reconhecidamente publicado no Brasil data do ano de 1902. Impresso em Campina Grande, é
de autoria de Francisco Chagas Batista, e encontra-se catalogado na casa de Rui
Barbosa - no Rio de Janeiro - onde se situa a Academia Brasileira de Literatura
de Cordel (ABLC).
De
acordo com o pesquisador Joseph Luyten, a literatura de cordel já ultrapassou
mais de cem mil títulos publicados só no Brasil (este que é o maior produtor de
cordéis no mundo ocidental), em cerca de 20.000.00 (vinte milhões) de folhetos
impressos, aproximadamente, já que algumas tiragens, segundo outros
pesquisadores, não ultrapassam 200 (duzentos) exemplares.
Paulo
A.Vieira/ junho/ 2012
O texto acima é um produto acadêmico, um compromisso obrigatório com a
disciplina Projeto Gráfico e editoração,
do professor Mestre Arão Azevedo. O intuito, na verdade, era publicá-lo na
revista PARAÍ-BÊ-A-BÁ, uma realização pessoal dos discentes do 3° ano de
Comunicação Social da UEPB. Por problemas burocráticos com a editora da
universidade, a revista acabou não saindo.
Muito boa sua matéria. Li coisas que eu não sabia sobre cordel. Abraços.
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