quarta-feira, 14 de julho de 2021

POR TODA A ETERNIDADE... A HISTÓRIA FANTASIOSA E A VERDADE DE FATO SOBRE DESPEJO DE MÁRIO QUINTANA.


             Porto Alegre. O ano era 1983. O Hotel Majestic colocou Mário  Quintana  no  olho  da  rua.  A miséria  havia  chegado absoluta ao universo do poeta. Mário não se casou e não tinha filhos. Estava só, falido, sem esperança e sem ter para onde ir.

     O porteiro do hotel, jogou na calçada um agasalho de Mário, que tinha ficado no quarto, e disse com frieza: - "Toma, velho!"

       Derrotado, recitou ao porteiro: - "A poesia não se entrega a quem a define."

       Mário estava só, absolutamente só.

       Onde estavam os passarinhos?

     A sarjeta aguardava o ancião. Alguém como Mário Quintana jogado à própria sorte!

    Paulo Roberto Falcão, que jogava no Roma, à época, estava de férias em sua cidade natal e soube do acontecido. Imediatamente se dirigiu ao hotel e observou aquela cena absurda. Triste, Mário chorava.

      O craque estacionou seu carro, caminhou até o poeta e indagou: - "Sr. Quintana, o que está acontecendo?"

       Mário ergueu os olhos e enxugou as lágrimas - daquelas que insistem em povoar os olhos dos poetas - e, reconhecendo o craque, lhe disse: - "Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor. Ninguém vive de comer poesia."

       Mário explicou a Falcão que todo seu dinheiro acabara, que tudo o que possuía não era suficiente para pagar sequer uma diária do hotel.

        Seus bens se resumiam apenas às malas depositadas na calçada. De súbito, Falcão colocou a bagagem em seu carro, no mais completo silêncio. E em silencio, abriu a porta para Mário e o convidou a sentar-se no banco do carona.

       Falcão manobrou e estacionou na garagem de um outro hotel, o pomposo Royal. Desceu as malas. Chamou o gerente e lhe disse: - "O Sr. Quintana agora é meu hóspede!" O porteiro perguntou: "Por quanto tempo, Sr. Falcão?"

       O jogador observou o olhar tímido e surpreso do poeta, e enquanto o abraçava, comovido, respondeu: - "POR TODA ETERNIDADE."

       O Hotel Royal pertencia ao jogador!

       O poeta faleceu em 1994.

       Por isso sou fã desse ex-jogador!!

       POR TODA ETERNIDADE.

 

       Agora, a versão verdadeira do fato...

 

     Amigos rebatem texto viral e esclarecem como Mario Quintana foi ajudado por Falcão.

        Um conto a respeito de Mário Quintana, que  narra como o poeta teria sido retirado da sarjeta pelo jogador de futebol Paulo Roberto Falcão, na década de 1980, viralizou nas redes sociais há alguns anos. O texto do médico e escritor pernambucano Roberto Vieira conta que Quintana estaria “falido, sem dinheiro, e que teria sido expulso do Hotel Majestic”.

     A situação relatada comoveu internautas e chegou a amigos próximos de Quintana. Em publicação em seu perfil oficial, o músico Henrique Mann destaca que a história contada é uma inverdade. O único fato é que o escritor foi convidado por Falcão para viver um período no Hotel Royal, de propriedade do ex-jogador, em dezembro de 1983.

        Na ocasião, Quintana já havia deixado o Hotel Majestic, onde viveu por quase 12 anos, e estava morando no Hotel Presidente. Ele havia realizado uma cirurgia há pouco tempo. Em entrevista ao jornal Lance!, em maio, Falcão contou que ficou emocionado com o encontro e comovido com o procedimento médico pelo qual o poeta tinha passado.

      - Diante de uma pessoa admirável como ele, você escuta mais do que fala, né?! E ele sempre humilde, fazendo piadas sobre a cirurgia. Mario é um poeta muito intuitivo, escreve com naturalidade sobre a vida - disse Falcão.

        Conforme Mann, naquele período, Quintana era “apoiado e cuidado por pessoas maravilhosas, como a sua sobrinha-neta Elena, teve apoio da Sandra Ritzel, de Dulce Helfer, das empresas Samrig e Ipiranga, mas, fundamentalmente, de um homem de extremo valor chamado Enio Lindenbaum”.

      Também amigo de Mário Quintana, o professor e ensaísta Armindo Trevisan aponta que o escritor era solitário, mas que “jamais era alguém de se humilhar”. A única preocupação, naquela fase, era que ele não ficasse sem companhia.

     - Ele saiu de lá muito tranquilo e era muito independente, um senhor de si. É uma total falta de respeito e de conhecimento de quem ele era esse conto - afirma.

       Trevisan ainda recorda que Quintana viveu somente por um ano no hotel de Falcão, pois o quarto era pequeno para seus pertences e a rua em que se localizava (Marechal Floriano Peixoto) era íngreme, o que complicava suas andanças.

       As informações foram confirmadas por Milton Quintana, 64 anos, sobrinho-neto do poeta. Ele comenta que o escritor tinha muitos amigos e que chegou a frequentar casa de familiares em São Gabriel e Alegrete, mas era “um cara habituado a viver em hotéis”.

     - Ele se sentia bem em hotéis. Mas, pelo texto, parece que ele era miserável, o que não é verdade, porque tinha duas aposentadorias e recebia dinheiro pelos livros. A Elena (Quintana) o ajudou a cuidar sempre das finanças, ele nunca ficou por aí exposto. Para mim, foi uma tentativa de “lacração” - explica Milton.

 

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