UMA
QUEIMADAS
DO FUTURO
UM SONHO INUSITADO
Paulo Seixas
QUEIMADAS, JANEIRO/2025
Certa
noite eu tive um sonho
Uma
visão pra lá de inusitada,
De um
realismo tão profundo
E com
cenas tão detalhadas
Que
pouco lembrou fantasia,
O que
me fez buscar na poesia
Uma
narrativa aproximada.
Pode até parecer bobagem
As estórias que irei descrever,
Porém, como fogem do real,
Tudo é bem possível acontecer.
Não estou inventando, eu juro,
Imaginei Queimadas no futuro,
Onde o mundo todo pude ver.
Cenas
do cotidiano e também
De
todo acontecimento recente,
Nesse
sonho eu pude vislumbrar
Idealizando
uma viagem na mente.
Mas,
apenas no papel de espectador,
Como
que diante de um “cronovisor”,
Sem
interferir de corpo presente.
Para
tanto precisei utilizar
Toda
a minha imaginação,
Tentando,
enfim, compreender
Várias
décadas de evolução.
500
anos tinham se passado,
A
cidade havia atravessado
Por
uma ampla modificação.
Foi
o mesmo período de tempo
Desde o descobrimento do Brasil.
Coincidência no sonho, eu só sei,
Que de 1500 até os anos dois mil,
O país não desenvolveu quase nada.
Em comparação com Queimadas
Que, nestes 500 anos, só evoluiu.
Pois
falando em desenvolvimento
Nada
que se compare ao progresso
O
qual Queimadas alcançou com êxito,
Comprovadamente,
obtendo sucesso.
Cinco
séculos se passaram, a se saber,
Todo
o município cresceu pra valer,
Envolvendo
a todos nesse processo.
Numa
retrospectiva do tempo
Fiz
uma busca do que passou,
E,
contemplando a realidade
Que o
sonho me apresentou,
Vi um
lugar muito diferente,
Nada
se via do nosso presente;
Toda
área física se transformou.
As ruas principais do centro,
João Barbosa e Eunice Ribeiro,
Sofreram inúmeras alterações,
Bairros se modificaram por inteiro.
A cidade evoluiu num grande salto,
Queimadas
tinha prédios tão altos
Que mais lembrava o Rio de Janeiro.
Sim,
o ano era exatamente este,
O
calendário não deixava mentir.
Dois mil quinhentos e vinte e quatro (2524),
Quanta
coisa aconteceu até aqui!
Inúmeras
gerações que se passaram,
Milhões
de coisas se transformaram,
Modificaram
ou deixaram de existir.
As
mudanças mais impactantes
Estavam
no cenário urbanístico,
O
núcleo da cidade tão radiante
Ganhara
um aspecto futurístico.
Edifícios
modernos, luzes de neon
À
noite lembravam ruas do Leblon,
Atraindo
certo potencial turístico.
Era o sonho da “Nova Iorque”
Por alguma gestão anunciado,
Após vários mandatos eletivos
Fora então, finalmente alcançado.
Prefeitos sérios, com determinação,
Deram ao povo sua contribuição,
Em prol de um lugar avançado.
E
nesse contexto, ficaram de fora
Ideologias
e atuais formas de poder.
A
política mudou todo seu formato,
Esquerda
ou direita, nada tinha a ver.
Havia
novas regras para se governar,
Os
Três Poderes resolveram se aliar,
Havendo
mais transparência ao reger.
E não
somente a gestão pública,
Como
também a iniciativa privada,
Donde
surgiram vários investidores
Resolvendo
apostar em Queimadas.
Ao
longo do tempo toda a cidade
Rendeu-se
de vez à prosperidade,
Crescendo
de forma acelerada.
Um
mérito esse do comércio local
Que impulsionou tal crescimento,
Diversas empresas aqui se instalaram
Gerando enorme desenvolvimento.
Queimadas demonstrando potencial
Tornou-se importante polo industrial,
Fazendo sua história em pouco tempo.
A
localidade se dividia agora
Em
várias zonas de expansão,
E
como toda grande metrópole,
Crescera
também em população.
O
município inteiro se expandiu,
Seu
povo já somava dez mil x mil,
Havendo
um déficit na habitação.
Os
problemas de cidade grande
Vieram todos no
mesmo pacote,
Assaltos,
sequestros, homicídios,
Crimes e
infortúnios de toda sorte.
Existia trabalho
para todo mundo,
Mas ainda havia
ladrão, vagabundo
Que só temiam a
pena de morte.
No
ano de 2062, precisamente
Nos
seus 100 anos de existência,
Queimadas
há muito se destacava
Como
uma cidade de referência.
Proporcionalmente,
digo até mais,
Deixara
Campina Grande pra trás,
Provando
assim sua competência.
Mas o meu sonho
fora além,
Estávamos no século
XXVI,
Muitos projetos do passado
E que antes, não
tiveram vez,
Agora se tornavam
realidade;
A cura pra várias
enfermidades,
Enorme avanço na
ciência se fez.
Muitas doenças
vieram a surgir,
Grandes e
incessantes pandemias,
Mas o mundo estava
preparado
E a ciência em
pouco tempo agia.
Governantes mudaram
a concepção,
E, embora ainda
tivesse corrupção,
Em educação e saúde
se investia.
O
conhecimento e a tecnologia
Fizeram
do mundo obra de arte,
A
automatização era evidente,
Havendo
robôs por toda parte.
Relativo
à economia e crescimento
O
planeta progrediu em 100%,
Tendo
a poluição como contraste.
A natureza - ou o
que restou dela -
Ainda lutava para
ser preservada,
Para que as
gerações seguintes
Não fossem de vez
ameaçadas.
Na medida em que a
Terra evoluía
A qualidade de vida
desaparecia,
E todas as classes
eram afetadas.
A violência
ferozmente acentuada
Tornava o mundo
mais decadente,
As drogas eram
praga anunciada,
Mais letais,
mortalmente eficientes.
Nações em guerras
se destruíam,
Corações
desiludidos endureciam,
Buscando na fé
soluções ausentes.
As
religiões a mil se multiplicavam
Como
ópio, tranquilizavam o povo,
Mas
nem por isso a humanidade
Recusava-se
em buscar algo novo.
Uma
era moderna pedia passagem
Com
suas invenções e engrenagens,
Dominando
a terra, água, ar e fogo.
Com o mundo todo
informatizado
Generalizou-se o
uso do computador,
Globalização virou
coisa do passado,
A
“universalização”podia se propor.
A Ciência e
tecnologia em toda parte,
O homem, inclusive,
já habitava Marte
Aventurando-se como
conquistador.
Muita parafernália
científica
Que vemos em filme
de ficção,
A essa altura a
humanidade
Já proporcionara
sua invenção.
Exceto algo que
ainda lhe seduz:
Conquistar a
velocidade da luz,
Adiando para a
infinita geração.
Quanto ao Brasil, por sua hora e vez,
Desempenhando aumento profundo,
Apesar de tanto roubo, tanta corrupção
Entrou finalmente no primeiro mundo.
A região Nordeste avançou sem risco
Com a transposição do rio São Francisco
O Sertão virou mar e seu solo fecundo.
Nosso pequeno
Estado da Paraíba
Passou como nunca a
produzir,
Com sementes e
cultivo adequado
A evolução se
estabeleceu por aqui.
Agrônomos semeavam
fertilidade,
Modernização do
campo à cidade,
Crescimento do
Sertão ao Cariri.
Durante este sonho
também pude ver
As consequências de
um mundo louco,
Relembrando as
tradições e costumes
Os quais se
perderam pouco a pouco.
Filhos que já não
obedeciam aos pais,
Longe de princípios
e valores morais,
Tratando
professores na base do soco.
Nesse contexto, a vivência foi afetada,
As virtudes se desviaram no caminho,
A juventude, uma geração fracassada,
Não demonstrava mais amor e carinho.
Aquela boa educação, de base familiar,
No futuro não haverá de se encontrar;
Filhos desde cedo vão se virar sozinho.
E no decurso dessa
era caótica
Tudo de melhor que
já existiu,
A exemplo da
cultura, das artes...
Infelizmente, o mau
gosto engoliu.
A boa música,
apenas pra lembrar,
Virou artigo raro
de se encontrar,
Havendo só
imundície no Brasil.
A nostalgia se
revelava a saída
Para aqueles mais
inconformados,
Um refúgio para os
saudosistas
Que optavam buscar
no passado
As produções que se
perderam,
E os ignorantes não
perceberam
Ao difundirem lixo
midiatizado.
Voltemos,
pois, a focar Queimadas,
Delimitando este sonho eloquente.
Minhas observações quanto ao futuro,
Em comparação com o nosso presente,
Revelam que o lugar avançou bastante.
Já não era tão pequeno quanto antes,
Evoluindo de forma surpreendente.
Lembrando que a
história mostra
Que Queimadas é bem
mais antiga,
Fora fundada ainda
no século XVIII
Com características
de pequena vila.
Ligada a Campina
Grande, está escrito,
Há muito
permanecera sendo distrito;
Antes
de emancipada, gerou até briga.
A partir de 1940
tentaram registrar
Essa vila próspera
como Tataguassu,
Na época, ninguém
quis ouvir falar,
Causando assim,
tremendo “sururu”.
O nome indígena
seria para lembrar
As origens e o
surgimento do lugar,
Um céu que sempre
se revelou azul.
Já a
Queimadas que vi no futuro
Em
nada lembrava o seu passado,
As
ruas, avenidas e até viadutos,
Túneis
por toda parte espalhados.
Um
trânsito confuso se instalara
E a
vida tranquila era coisa rara,
Havendo
iniquidade por todo lado.
No entanto, a
cidade crescia
Dentro de certo
planejamento,
Uma política de
infraestrutura
Dava o respaldo e
embasamento.
E assim, prefeitura
e empresariado
Uniam forças no
mesmo traçado,
Em benefício do
desenvolvimento.
Os fins
justificavam os meios
E Queimadas
investira pesado,
Um moderno terminal
rodoviário
Enviava ônibus para
todo Estado.
Obras que surgiam a
todo vapor,
Inclusive, a
construção de um metrô
Tornando o
município interligado.
E se Queimadas atualmente clama
Por transporte público de qualidade,
Saibam que no futuro até um metrô
Cruza todos os bairros dessa cidade.
Hoje sequer tem um ônibus, que sina,
Pra se deslocar e chegar até Campina;
É um desrespeito com a dignidade!
Porém, ao longo
desses cinco séculos
Queimadas e
município se via crescer.
Torna-se impossível
lembrar de tudo,
Mas, enfim, vou
buscando descrever
Os avanços da
ciência e da tecnologia.
Novas edificações
surgiam a cada dia,
Até nas comunidades
rurais podia ver.
Sem esquecer-se da
penitenciária,
Heliporto,
aeroporto internacional,
Investimentos na área
de saúde,
Em prevenção e
segurança total...
Havia compromisso
só em crescer,
Ainda que não
conseguisse resolver
Problemas
relacionados ao social.
Como em toda cidade avançada,
Havia bairros menos favorecidos,
A vida “perfeita” era pros abastados,
Ricos e empresários estabelecidos.
Na “banda podre” de Queimadas
A lei era descumprida e ultrajada,
Sendo o “Bairro 13” dos esquecidos.
Era a infância
sendo corrompida,
Estupros ocorrendo
à luz do dia,
Mendigos e menores
abandonados,
Prostituição era o
que mais se via.
Delinquentes
juvenis, gente do mal
Buscava na droga
apoio emocional;
O “Underground” se
estabelecia.
A população já não
podia comportar
Essas “subclasses”e
a criminalidade,
Buscavam-se, pois,
atitudes enérgicas
“Erradicando-os”de
vez da sociedade.
Mesmo eficiente, a
lei em Queimadas
Psicologicamente
era despreparada,
Resolvendo o
problema pela metade.
Alheias a quaisquer dificuldades
Todas as autoridades se fechavam.
Para dirigentes, religiosos e juízes
Tais infelizes pouco importavam.
Se a vítima fosse um reles viciado,
Transferiam o problema pro Estado,
Na medida em que se afastavam.
Reinando assim,
toda a hipocrisia
E descaso com os
problemas sociais.
De nada adianta um
sistema de cotas
Se as oportunidades
não são iguais.
Por gerações, a
desigualdade somou.
Em séculos e
milênios, nada mudou,
Rico e pobre não se
misturam, jamais.
Isso ocorre desde
tempos passados,
Quem pode pagar,
tem tudo na mão.
O luxo e a riqueza
são para poucos,
Pobre só sabe o que
é ostentação.
Seja em pleno
século XXI ou XXVI,
Os mais pobres
nunca terão vez,
Amargando a miséria
e a desilusão.
No futuro um dos pontos positivos
Estava no bem-estar proporcionado,
A
modernidade a serviço de todos,
Um direito amplamente assegurado.
A busca por um mundo confortável
Tornava o planeta menos sustentável,
Tendo seus recursos quase esgotados.
E esse era o preço
do progresso
Quem podia, se
dispunha a pagar.
Porém, haviam leis
em Queimadas
Onde tudo se
obrigava a reciclar.
A vida urbana
relativamente boa,
Só perdia pra
capital, João Pessoa,
Sem pretender aqui
comparar.
Foi fazendo essa
viagem no tempo
Que eu pude
contemplar exaltado,
Uma cidade crescendo
verticalmente,
Um ambiente
altamente sofisticado.
No lugar do antigo
mercado municipal,
Ergueu-se uma praça
monumental,
Um antigo sonho,
enfim, realizado.
Existia em completo funcionamento
Um teatro e um amplo espaço cultural,
Um moderno centro administrativo
Com a prefeitura e Câmara Municipal.
E ainda se destacavam em toda a cidade,
Várias escolas técnicas e universidades,
Como também um estruturado hospital.
Uma frota de
automóveis luxuosos
Trafegava pelas
ruas de Queimadas,
Hotéis cinco
estrelas e até shoppings,
Para deleite das
classes privilegiadas.
A moeda corrente
entre rico e pobre
Não era mais papel,
níquel ou cobre;
Havia uma debitação
automatizada.
Museus e cinemas
foram construídos,
Bem como uma
moderníssima arena,
A “Queimadense” na
elite do futebol
Vencia grandes
clubes, sem problema.
Do baixo Castanho
até a Vila de cima,
Cruzando pelo
“Cássio Cunha Lima”,
Sonhei com uma
cidade nada pequena.
Corpo de bombeiros, quartel militar,
Bibliotecas físicas e no campo virtual,
Fundações, Institutos, diversas ongs...
E até um jardim botânico municipal.
Sim, em Queimadas havia quase tudo,
Podendo mencionar ainda, sobretudo,
Um zoológico e um centro espacial.
Estátuas e bustos
foram erguidos
Homenageando pessoas
merecidas.
Espalhados pelos
calçadões e praças,
Encontravam-se
também nas avenidas.
Professor José
Miranda, Padre Lisboa,
Dulce Barbosa, Tião
do Rêgo, não a toa,
Figuras que jamais
serão esquecidas.
Mas foi o turismo
no município,
Ao contrário do que
se pensa,
Que contribuiu com
a economia,
Fazendo uma notável
diferença.
Com seus mil
atributos e atrativos,
Queimadas virou
meio alternativo,
Atraindo turistas à
sua presença.
Uma
região tão rica por natureza
Não
podia simplesmente ignorar,
Sua
grande herança pré-histórica
Que,
por milênios, pôde preservar.
Sítios
arqueológicos foram criados
E com
frequência eram visitados
Por
estrangeiros de todo lugar.
O lajedo que leva à
Pedra do Touro,
Incluindo toda a
área compreendida,
Tornou-se uma bela
estância ecológica,
Atraindo pessoas
não só da Paraíba.
Vinha gente do
Nordeste aos montes
Descer de rapel,
banhar-se nas fontes,
Fazendo do turismo
renda garantida.
Já no finalzinho
desse sonho,
Antes de voltar pra
realidade,
Procurei
inutilmente descobrir,
Tentando saciar a
curiosidade,
Algo sobre a minha
existência,
Filhos, netos, toda
descendência,
Gerando a minha
continuidade.
Houve,
porém, uma proibição
No
tocante ao meu destino.
Nada
eu podia ver ou saber;
O
futuro de cada um é divino.
Ia
depender do que se realizaria,
Das
escolhas que eu ainda faria,
Como
já o faço desde menino.
E após essa
infindável noite,
Entre devaneios e
imaginações,
Vim despertar no
dia seguinte
Fazendo incontáveis
anotações.
E, ao transcrever
esse sonho ativo,
Resolvi anotar tudo
neste livro,
Sempre fiel com as afirmações.
Leiam o livreto na íntegra, incluindo apresentação, histórico sobre Queimadas, cronologia, anexo... basta copiar o link abaixo e buscar no Google.
https://www.recantodasletras.com.br/e-livros-de-poesias/8297949