quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

A ANTIGA HISTÓRIA DO CORDEL, ATÉ OS DIAS ATUAIS - AMPLIADO

 

QUEIMADAS, JUNHO/2024

 

As origens da poesia de cordel

De fato, são bastante remotas,

Pois surgiu na idade media,

Lá pras bandas da Europa.

Chegando aqui nas Américas,

O Brasil lhe abriu as portas.

 

          Isso levou bastante tempo,

          Alguns séculos se passaram,

          Pois na história dessa poesia

          Vários episódios se separam.

          E até ela chegar ao Brasil,

          Inúmeras águas rolaram.

 

Veio desde a colonização

Na embarcação de Cabral,

Um navegador audacioso

Que, às ordens de Portugal,

Chegou pra explorar o Brasil,

Trazendo escravidão e o mal.

 

Essa história de descoberta

É apenas um papo furado.

O nosso país já tinha dono,

Por 300 anos foi saqueado.

Mas isso é uma outra história

Para um momento adequado.

 

Entre outras coisas, trouxeram

Em meio à cultura de Portugal,

A poesia de trovas, o cordel,

No seu formato ainda original.

Ou seja, versos na oralidade,

Declamados de forma oral.

 

Nessa época tão distante

O Brasil ainda nem existia,

Sendo apenas uma colônia

Que só a Portugal obedecia.

A leitura, em prosa e verso,

Somente aos ricos pertencia.

 

Entretanto, os trovadores

Desempenhavam seu papel,

Recitando para um público

Que era quase sempre fiel,

Aquilo que mais tarde seria

Popularizado como cordel.

 

          Por muito tempo ele ficou

          Tão somente na oralidade.

          Os trovadores desde então

          Eram poetas de capacidade,

          Criavam os poemas e saiam

          Declamando pelas cidades.

 

Somente a partir do século XIX

Começaram a ser registrados.

Naquelas antigas tipografias

Os cordéis eram prensados,

Depois eram todos vendidos

Nas feiras e ruas, pendurados.

 

        Isso foi por volta de 1850,

A partir daí, se expandiu.

O cordel ganhou formato

E como um livreto surgiu.

Inicialmente se encontrava

Por quase todo o Brasil.

 

Espalhou-se rapidamente

Por toda a região Nordeste,

Terra de muitos desafios,

Lugar de cabra da peste.

De uma natureza sofrida,

Onde o azul é tão celeste.

 

Terra de cangaceiros hostis

Numa época bem distante,

De Lampião, Antônio Silvino,

Corisco e Jesuíno Brilhante,

Matéria prima para cordéis,

Com histórias interessantes.

 

O Nordeste, enfim, abraçou

Essa antiga e simples arte,

Sendo um grande produtor,

Dessa poesia fazendo parte

Onde o Ceará, Pernambuco

E a Paraíba são baluartes.

           

          Surgiram grandes poetas

          Nesse novo estilo cordelista,

          Alguns até se destacaram

          Como sendo grandes artistas,

          Numa época sem Internet,

          Sem televisão e sem revista.

 

Mas, sem dúvida o melhor,

O grande poeta e menestrel,

Foi Leandro Gomes de Barros,

O maior escritor de cordel.

Mais de cem anos falecido,

Há muito foi rimar no céu.

 

          Escreveu centenas de cordeis,

          Levando às cidades e sertões.

          Vendia nas feiras, ruas, praças,

          Dependurando-os em cordões.

          Dessa maneira disseminando

          Suas maravilhosas criações.

 

Essa é a única explicação

Para a nomenclatura cordel.

Pois, depois que essa poesia

Foi transposta para o papel,

Passou a ser comercializada

Numa corda exposta ao léu.

 

          Seja corda, cordel ou cordão,

          Até hoje eles são esticados

          Para que esses tais livrinhos

          Sejam então, dependurados,

          Atraindo os leitores diversos

          Desses causos improvisados.

 

Forma de poesia popular,

O cordel a todos cativou.

Pelas histórias fantasiosas,

Por tudo o que já se falou.

Uma tradição de séculos

E que jamais se ofuscou.

 

 E essa é parte da história,

 De uma forma de poesia

 Que começou na oralidade

 Pois a prensa nem existia.

 E de tão antiga e relevante

 Existe até os nossos dias.

 

Porque o cordel é imortal,

Narra histórias de peleja,

Dos valentes cangaceiros,

Do Padre Cícero e igrejas.

Podendo até mesmo falar

De qualquer coisa que seja.

                                           

O cordel é entretenimento,

É cultura, é informação,

Pois traz o conhecimento

Fazendo certa interação.

Já fazia isso mesmo antes

Da internet e da televisão.

 

Literatura, poesia de cordel,

Ambos são gêneros textuais,

Referem-se a um conceito

Iniciado muito tempo atrás.

O folheto é mais moderno,

É sua estrutura física, aliás.

 

É também pedagógico,

Auxiliando na educação,

Desde décadas anteriores,

Contribuindo na alfabetização.

Especialmente na zona rural,

Quando cumpria essa missão.

 

Forma rica de narrativas,

O cordel preserva tradições,

As memórias e os costumes

De um povo e suas condições.

Utilizado pra informar e educar,

Segue certas formas e padrões.

 

A base estrutural do cordel

É a métrica, a rima e a oração.

Seja com rima rica ou pobre,

O cordel não foge ao padrão.

Onde as estrofes embalam

Um acontecimento ou ação.

 

Os folhetos de antigamente

Já traziam em sua estrutura

Um formato padronizado

No comprimento e largura.

E ainda utilizam bastante

Nas capas a xilogravura.

 

Xilogravuras eram ilustrações

Que nas capas se faziam,

Das histórias estampadas

Que nos cordéis traziam.

Das pelejas e das crenças

E de tudo o que ofereciam.

 

Uma técnica de impressão

Em uma imagem entalhada.

Usa-se a madeira, um bloco,

Que depois de ser trabalhada

Passa a servir como carimbo,

E capas são confeccionadas.

 

Por tudo o que ela contribuiu,

A poesia de cordel é especial.

Paradidática, ampliou mentes,

Trazendo auxílio educacional.

Na informação, foi referência,

Teve mais crédito que Jornal.

 

O Instituto Histórico e Artístico

(Iphan) à arte sempre assistiu.

Tornando o cordel Patrimônio

Cultural e Imaterial do Brasil.

O título, concedido em 2018,

É um reconhecimento gentil.

 

Isso demonstra a importância

Dos cordeis para nossa cultura.

De uma simples forma de arte,

Mas que faz parte da literatura.

Um viva aos folhetos de cordel,

À sua poesia e à sua estrutura!

 

A Biblioteca de cordel Átila Almeida

Fica na UEPB, em Campina Grande.

Possui por volta de 18.000 títulos e

Cada vez mais cresce e se expande.

É a maior do mundo nesse sentido,

Não existe outra que a desbanque.

 

Afinal, o Nordeste já produziu

Milhões de cordeis, até então.

Uma poesia que se transformou

E se adaptou à nossa região.

Com tantas produções haveria

De se pensar numa coleção.

 

E foram tantos os cordelistas,

Do passado como do presente,

Alguns se tornaram clássicos,

Com suas obras onipresentes.

Fizeram cordeis com maestria,

Folhetos que são excelentes.

 

        Exaltando aqui Patativa do Assaré,

Compôs A Triste Partida, penoso.

José Camelo de Melo Resende fez

O Romance do Pavão Misterioso.

Manoel Camilo dos Santos criou

Viagem a São Saruê, maravilhoso.

 

Leandro Gomes de Barros, repito,

Foi o maior cordelista brasileiro.

Escreveu um cordel engraçado,

O Cavalo Que Defecava Dinheiro.

Inspirou ainda Ariano Suassuna

E grandes autores desse celeiro.

 

O João Martins de Athayde e a

História do Juvenal e o Dragão.

        Zé Da Luz, poeta itabaianense,

        E seus cordéis curtos de então.

As Frô de Puxinanã, Ai! Se Sêsse,

Onde poesia encontrava refrão.

 

Podemos descobrir muito mais

Entre os cordelistas do passado.

Silvino Pirauá de Lima, Zé Soares,

Sem esquecer o Cego Aderaldo.

A sua Peleja com o Zé Pretinho

É um folheto de cordel afamado.

 

As Façanhas de Lampião, cordel

De Apolônio Alves dos Santos.

No nordeste existia cordelistas

Em praticamente todos os cantos.

No passado eram numerosos,

Hoje já não se encontra tantos.

 

Por fim, um cordelista moderno,

Mas digno de ser homenageado.

Manoel Monteiro, pernambucano,

Já falecido, deixou o seu legado.

Trocou Pernambuco pela Paraíba,

Onde viveu e mostrou resultados.

 

Escreveu vários folhetos de cordel,

Sua aplicação na escola defendia.

        Em palestras, sempre aconselhava,

        Pelo Brasil afora, também difundia.

        O cordel Salvem as Águas do Brasil!

        Está entre os títulos que escrevia.

 

Há, porém, a preocupação

Quanto à extinção do cordel.

Com as novas tecnologias,

Estão abolindo de vez o papel.

Até mesmo o jornal impresso

Já pode ir parar no beleléu.

 

         Cordelistas da atualidade

         Já escrevem para a internet.

         O cybercordel, nome chique!

         Esses nomes meio “chiclete”.

         Um meio bem interessante,

         Mas pouco recurso oferece.

 

Nunca será a mesma coisa

Ler através de computador,

Por notebook, smartphone,

Ou tablete, seja como for.

Sem ter seu formato físico,

Um cordel não tem valor.

 

Pois um cordel de verdade,

Para ter significado e efeito,

Precisa ser escrito, impresso,

Vir no formato de um folheto.

Seguindo as regras básicas

Pra poder assim, sair direito.

 

Propagando dessa forma

Uma memória tão secular,

Onde a poesia e literatura

Formam um belíssimo par.

Sendo aliadas à educação,

Pôde muita gente alfabetizar.

 

Certas culturas nunca deviam

Ser arrastadas pela evolução.

O folheto de cordel é exemplo,

No Nordeste é uma tradição.

Tem que vir impresso, é claro,

        Dispensa qualquer explicação.


                    MINHA PRODUÇÃO CORDELISTA (Autoral):

 

01. A SOLUÇÃO DE QUEIMADAS - DEFINITIVA - 1997

02. UMA SOLUÇÃO PARA O PEQUENO COMÉRCIO EM QUEIMADAS - 1998

03. QUEIMADAS, MINHA CIDADE MARAVILHOSA! (A ESCULHAMBAÇÃO FINAL) - 1998

04. RETRATO 3X4 DE UM PAÍS NO BURACO - 2009

05. QUEIMADAS, 50 ANOS DE HISTÓRIA RECENTE - 2011

06. QUEIMADAS - ELEIÇÕES 2012 - DA FILIAÇÃO À CONVENÇÃO - 2012

07. QUEIMADAS NÃO PERDE POR ESPERAR, PAULO SEIXAS 13.123,  ESTE PROMETE DAR O QUE FALAR - 2012

08. JACOmeçou UM NOVO TEMPO! - 2012

09. DISCURSOS POÉTICOS DE UM CANDIDATO FRUSTRADO - 2013

10. UMA QUEIMADAS DO FUTURO - UM SONHO INUSITADO - 2014

11. JOÃO DE CARMINHO, UM MITO QUEIMADENSE - 2014

12. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NA INFÂNCIA - 2016

13. EM DEFESA DA CULTURA E DA EDUCAÇÃO, PAULO SEIXAS 13.123 É A SUA MELHOR OPÇÃO - 2016

14. DISTINÇÃO ENTRE VERSO E RIMA, POEMA E POESIA - 2016

15. FALANDO UM POUCO SOBRE DIURÉTICOS - 2017

16. INVENÇÕES E CRIATIVIDADE DO ÍNDÍGENA BRASILEIRO - NOSSO POVO ORIGINÁRIO - 2019

17. UM POUCO DA HISTÓRIA DO BAIRRO CÁSSIO CUNHA LIMA (TIÃO DO RÊGO) - 2019

18. O BARULHO INSANO DE CADA DIA - 2021

19. QUEIMADAS, 60 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA - DE SUAS ORIGENS À ATUALIDADE - 2021

20. RAUL SEIXAS - DA BAHIA PARA A POSTERIDADE - 2021

21. TIÃO DO RÊGO - VIDA E TRAJETÓRIA POLÍTICA EM QUEIMADAS-PB - 2022

22. DROGAS, NÃO! O CAMINHO É A PREVENÇÃO - 2022

23. COM AMIZADE E CARINHO, UM CORDEL PARA VITINHO - 2022

24. MASTITE CAPRINA - COMO EVITAR E COMBATER ESSE MAL - 2023

25. O PORQUÊ DO IHGQ - INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE QUEIMADAS/PB - 2024

26. O PREÇO E O VALOR FINAL DE UM VOTO - Parte 2 - 2024

27. A ANTIGA HISTÓRIA DO CORDEL, ATÉ OS DIAS ATUAIS - 2024

28. CORRE, CORRE CABACINHAS - PRECONCEITO NÃO É FANTASIA - 2025 


        Há também a minha produção cordelista em coautoria com outros cordelistas, alguns folhetos impressos onde trabalhei apenas na supervisão e na organização desses materiais


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