segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

MINHAS MEMÓRIAS - CAP. 5 - PARTE 2

CAPÍTULO 5
A ERA DO REI DAS FRUTAS – PARTE II

Com um nome de fantasia bem sugestivo, O Rei das Frutas foi, durante mais de 20 anos, o mercadinho mais popular do Centro de Queimadas. Era o meu porto seguro, o lugar onde eu trabalhava (quando queria) e de onde eu retirava os “recursos” necessários (quase sempre renováveis) para inventar tanta brincadeira.

Evellyn Luana, minha sobrinha, de patins na calçada do antigo mercadinho "O Rei das Frutas".

Graças a esse comércio foi que eu cresci sabendo de verdade e conhecendo na prática o significado da palavra fartura, uma dádiva que também se estendia aos meus familiares mais próximos, amigos e àqueles menos favorecidos, desprovidos. Pois o meu pai não desamparava aos mais necessitados e nunca dava as costas aos mais carentes, apesar daquele seu jeito reconhecidamente autoritário. O velho também participava ativamente de toda e qualquer campanha beneficente, ajudando, sobretudo a Igreja Católica, a qual frequentava.
Em certa campanha para arrecadar fundos e fazer uma reforma completa na área externa da igreja matriz (bem antes do teto vir abaixo, destruindo todo o seu interior), da qual participaram várias personalidades locais, inclusive o promotor de Justiça da época, o Dr. Glauberto Bezerra, foi organizada uma grande festa em homenagem a Nossa Senhora da Guia, padroeira de Queimadas. Entre as atrações, houve uma quermesse no estilo junino, com direito a barraquinhas, comidas típicas e o tradicional bingo do “boi”. Na realidade, um garrote doado pelo saudoso Clodomiro Gonzaga, outra figura célebre do lugar. Essa festa, por sinal, acabou emplacando e até hoje ainda é realizada, sempre nos dias 24 de setembro.
Num bingo de boi realizado anteriormente, em ocasião semelhante, eu havia me encarregado de distribuir 100 cartelas que o meu pai comprara, propondo uma razão de meio a meio para quem as marcasse, algo, aliás, bastante justo. Por fim, não resultou em nada. Já neste último, com apenas duas cartelas, levei o 1º prêmio sozinho. Ganhei ainda outros brindes menores, em outros tantos sorteios, justificando certa fama de “sortudo”.
Mas voltando a falar da “CEASA”, esta que era considerada por alguns como uma alternativa, uma fonte inesgotável (?) de vitaminas e proteínas para amenizar a fome da molecada, muitas lembranças me vem agora “refrescar” a mente. Pois, logo após as brincadeiras, eu adorava providenciar, quase diariamente, aqueles “banquetes” à base de bananas, laranjas, maçãs, abacaxis e qualquer outro tipo de fruta que já estivesse um tanto “passada”, imprópria apenas para ser vendida. É normal consumir uma banana que esteja “pintando”, ou uma laranja que tenha endurecido um pouco. E como vendíamos muito, consequentemente também sobrava muita coisa no fim do dia, caixas e.“balaios” cheios de frutas que, se não fossem logo doados, certamente iriam parar no lixo (atualmente, sou eu que procuro por algo assim). Essa foi realmente a era das “vacas gordas”.


Meu sobrinho Fernando, no interior da loja. 

Em certas épocas do ano existem as chamadas “safras”, de determinadas frutas, quando elas tornam-se, então, mais baratas devido à enorme oferta de mercado. E quando era a de abacaxi, por exemplo, meu pai comprava centenas de unidades para revender, um carro cheio (no auge da safra), especialmente no Dia de Finados, quando o povo tem por tradição não comer carne. No final, eu aproveitava a “bóia”, aquilo que sobrava do “paiol” (muita coisa boa), para bolar alguma disputa entre a “gurizada”, algo que desse prioridade para alguém na escolha da “xêpa”.
Falando em disputa, certa noite eu desafiei “Zú de Baca”, meu querido amigo Jonas, a troco de nada, numa corridinha suicida por sobre o muro do Grupo Escolar José Tavares, no centro. Exibido como sempre, deixei Jonas partir na frente, com aquele seu bracinho pendurado e... não deu outra! Ele caiu do outro lado do muro, por dentro do colégio. Mas, por sorte, não quebrou nada, para meu alívio. Em seguida, enganei-lhe com alguma coisa e acabou ficando por isso mesmo. Em se tratando de “tirar o meu da reta”, eu era craque.
E assim era o meu dia-a-dia durante as décadas de 1980 e 1990. Passava duas horas (aproximadamente) dentro do comércio, organizando uma coisa e outra, e mais outras duas horas na rua, sempre atrás de alguma ideia nova para colocar em prática. A exceção era somente a escola, compromisso que sempre me atraiu (pelo menos até a 8ª série), porque nem à noite eu sossegava. Aliás, eram justamente as madrugadas que me inspiravam a gerar alguns novos “projetos”.

Foto de 1994: Adriana, minha irmã, em um momento de descontração.

Fazem parte ainda desta fase, dentre as muitas personagens que trabalharam ou que contribuíram conosco, de alguma forma, duas pessoas em especial, as quais eu não poderia deixar de citar aqui seus nomes: Nevinha e Moaci. Entre os anos de 1981 e 1985, quando ainda estávamos inaugurando o prédio e suas novas instalações, eles nos ajudaram muito a tocar para frente o nosso comércio, trabalhando no atendimento à clientela.
Nevinha vive hoje no Rio de janeiro, ela que é tia dos meus amigos Suelâneo, Gilson, Giselda, “Bolar”, entre outros. E Moaci, que, aliás, é meu primo, filho do simpático Zequinha. Vive há muitos anos em São Paulo onde é motorista de carretas do tipo “cegonhas”.
...
Continua...

2 comentários:

  1. Lembro muito bem dos tempos da "CEASA". Todas as vezes que ia para o Colégio Menino Jesus, gostava de passar na calçada para sentir o cheirinho das frutas. Lembro também que vocês vendiam uns chicletes diferentes e eu sempre ia com as minhas colegas para comprá-los.

    ResponderExcluir