LEANDRO GOMES DE BARROS, O PIONEIRO
DA LITERATURA DE CORDEL
Autor de vários clássicos da Literatura de Cordel e campeão absoluto de vendas, com alguns folhetos que ultrapassam a casa dos milhões de exemplares vendidos, fora denominado de "O Primeiro sem Segundo", o maior poeta popular do Brasil de todos os tempos. Estima-se que a vasta produção literária de Leandro, iniciada em 1889, no estado de Pernambuco, atinge cerca de 600 títulos, dos quais foram tiradas mais de 10 mil edições.
Foi
educado pela família do Padre Vicente Xavier de Farias (1823-1907),
proprietários da fazenda onde nascera, e dos quais era sobrinho por parte de
mãe. Em companhia dessa sua família "adotiva", acabou mudando-se para
a Vila do Teixeira, a qual se tornaria mais tarde o berço da Literatura Popular
nordestina. Nela permaneceu até os 15 anos de idade, tendo conhecido ali vários
cantadores e poetas ilustres da época.
Do
Teixeira vai para Pernambuco e fixa residência primeiramente em Jaboatão, onde
morou até 1906, depois em Vitória de Santo Antão e a partir de 1907, no Recife,
onde viveu de aluguel em vários endereços. Casou-se com Venustiniana Eulália de Barros, com quem teve quatro filhos.
Sua atividade
poética o obrigava a viajar bastante pelos sertões para divulgar e vender seus
poemas, os quais eram impressos, em grande parte, no próprio prelo ou em
diversas tipografias. Entretanto, depois de fundar uma pequena gráfica, em
1906, seus folhetos se espalharam ainda mais pelo Nordeste, sendo considerado
pelo historiador Câmara Cascudo como o mais lido entre os escritores populares.
Compôs
obras-primas que eram utilizadas em obras de outros grandes autores, como por
exemplo, Ariano Suassuna, que utilizou a história do cavalo que estercava
dinheiro no seu "Auto da Compadecida".
Há
duas versões para sua morte: a primeira é que ele teria sido vítima da epidemia
da gripe Influenza Espanhola, a qual, inclusive, ele chegou a tratar em um de
seus folhetos. A segunda hipótese afirma que nessa data, 1918, Leandro teve um
folheto proibido pela polícia pernambucana – A Palmatória e o Punhal –
trama em que ele narra um crime ocorrido entre um trabalhador que se vinga do
senhor de engenho.
Segundo o romancista Permínio Ásfora,
Leandro Gomes de Barros teria sido preso porque o chefe de polícia considerou
uma afronta às autoridades alguns dos versos desta obra. Por ser um homem
honrado e sentindo-se humilhado com a prisão, acabou falecendo.
por Paulo A. Vieira
Leandro Gomes de Barros, poeta
criativo, recriou História da Donzela Teodora numa versão brasileira com
uma produção bastante significativa, de grande divulgação e recepção.
No Brasil, a tradicional estória de Teodora, donzela-escrava-sábia-bela, que venceu os sábios do rei, livrando o seu amo da falência, cujas origens mais remotas são árabes, vem atravessando os tempos e encantando o nosso povo, notadamente no Nordeste brasileiro.
Composta poeticamente em sextilhas, nota-se na relação narrador-leitor (inicial e final), como Leandro, com grande poder de síntese e lisura, não esconde as fontes européias que lhe inspiraram a recriação poética do folheto luso em prosa (tradução do pliego suelto espanhol):
"Eis a real descrição “Caro leitor escrevi
da história da donzela tudo que no livro achei
dos sábios que ela venceu só fiz rimar a história
e a aposta ganha por ela nada aqui acrescentei
tirado tudo direito na história grande dela (...)
da história grande dela (...) muitas coisas consultei"
A sedutora narrativa dessa incomum donzela tem, em síntese, a seguinte fabulação: um negociante compra uma donzela e manda educá-la. Rapidamente ela torna-se muito sábia. Tendo o mercador perdido sua riqueza, ela propõe que tente vendê-la ao rei. Depois de ricamente vestida, eles vão ao palácio e a donzela enfrenta três sábios que lhe testam os conhecimentos, derrotando-os. O terceiro quase se vê nu, como haviam apostado, mas paga em dinheiro. O rei lhes dá o dinheiro pedido e eles vão para casa.
por Paulo A. Vieira
História da donzela Teodora (Cordel), de Leandro Gomes de Barros
No Brasil, a tradicional estória de Teodora, donzela-escrava-sábia-bela, que venceu os sábios do rei, livrando o seu amo da falência, cujas origens mais remotas são árabes, vem atravessando os tempos e encantando o nosso povo, notadamente no Nordeste brasileiro.
Composta poeticamente em sextilhas, nota-se na relação narrador-leitor (inicial e final), como Leandro, com grande poder de síntese e lisura, não esconde as fontes européias que lhe inspiraram a recriação poética do folheto luso em prosa (tradução do pliego suelto espanhol):
"Eis a real descrição “Caro leitor escrevi
da história da donzela tudo que no livro achei
dos sábios que ela venceu só fiz rimar a história
e a aposta ganha por ela nada aqui acrescentei
tirado tudo direito na história grande dela (...)
da história grande dela (...) muitas coisas consultei"
A sedutora narrativa dessa incomum donzela tem, em síntese, a seguinte fabulação: um negociante compra uma donzela e manda educá-la. Rapidamente ela torna-se muito sábia. Tendo o mercador perdido sua riqueza, ela propõe que tente vendê-la ao rei. Depois de ricamente vestida, eles vão ao palácio e a donzela enfrenta três sábios que lhe testam os conhecimentos, derrotando-os. O terceiro quase se vê nu, como haviam apostado, mas paga em dinheiro. O rei lhes dá o dinheiro pedido e eles vão para casa.
Situação
de desequilibro: falência do mercador.
Contrato
1: Proposta
da Donzela - ser vendida ao Rei Almançor para salvar seu amo da falência.
Contrato
2: Contraposta
do Rei - disputa entre Teodora (mulher-escrava) e os três sábios do Rei (homens
letrados).
Primeira
prova: A
Donzela enfrenta e vence o primeiro sábio. Consequência glorificante para
Teodora e deceptiva para o sábio.
Segunda prova: a Donzela enfrenta
e vence o 2º sábio. Conseqüência glorificante para ela e deceptiva para o
segundo sábio.
Contrato 3: Aposta entre
Teodora e o terceiro sábio (Abraão de Trabador): O vencido ficará despido como
nasceu.
Terceira prova: Donzela versus
Abraão de Trabador. (Consequência glorificante para Teodora e deceptiva para
ele que fica semi-despido, apenas, pagando à Donzela o acréscimo de cinco mil dobras
de ouro).
Contrato 4: palavra de honra do
Rei (dar à Donzela o que esta lhe pedir).
Prêmios: O Rei dá à Teodora
mais dez mil dobras de ouro; a donzela-escrava e seu amo regressam ricos e
felizes para casa.
A História da Donzela Teodora faz uma viagem no imaginário
popular do fim do século XIX, início do século XX, sobre a mulher moderna,
alguém formosa, bem formada e com substância de conteúdo; a sabedoria. É
realista, pois a mulher, como na sociedade atual, ainda é tratada como objeto
de troca, vendida como mercadoria. Teodora supera a escravidão através do seu
talento e estudos, levando a refletir sobre a igualdade de gênero. No final, ao
negar a corte do rei, prefere ficar com o senhor que lhe trata como filha,
fazendo, da mesma maneira, refletir sobre a liberdade.
A
estrutura profunda, formada pelas antinomias básicas (SABEDORIA x IGNORÂNCIA;
JUSTIÇA x INJUSTIÇA e HONRA x DESONRA) que são de caráter universal, associadas
aos traços marcantes da oralidade, à recorrência aos enigmas e adivinhações, ao
processo de escritura e reescritura, vêm assegurando a permanência dessa
sedutora estória, independentemente das peculiaridades regionais das diferentes
comunidades (espanhola, portuguesa e brasileira) por onde ela tenha traçado uma
trajetória.
Fonte: Paulo Seixas e material pesquisado na Internet
Excelente post. Serve, inclusive, para quem deseja fazer alguma pesquisa.
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