FESTIVAL DE
INVERNO, SUA CONTRIBUIÇÃO CULTURAL PARA CAMPINA GRANDE
REPÓRTER: PAULO A. VIEIRA e WAGNER WOLNEY
A
cidade paraibana de Campina Grande oferece todos os anos o Festival de Inverno,
uma oportunidade quase única de se revelar artistas locais, bem como de poder
apresentar outros já consagrados pela mídia, nacionalmente conhecidos. Com o
objetivo de estimular a cultura da população, o Festival de Inverno teve início
em 1974, sendo aberto oficialmente pelo escritor Ariano Suassuna, apresentando
o recém criado Balé Armorial. Inicialmente, o Festival era sediado apenas no
Teatro Municipal Severino Cabral, porém nessas últimas edições vem se
descentralizando, incluindo outros lugares da cidade.
Durante
mais de uma semana são oferecidos gratuitamente ao público diversos shows
musicais (especialmente ao longo da Avenida Floriano Peixoto, no centro), além
de recitais, espetáculos de dança e teatro, conferências, debates e oficinas
pedagógicas. Uma infinidade de atrações culturais e outras alternativas são
proporcionadas ao público campinense, bem como de outras cidades e estados
brasileiros. Em
2013 o evento chegou à sua 38ª edição, comemorando o
jubileu de ouro da professora universitária e ativista cultural, Eneida Agra
Maracajá, a principal responsável pela criação do Festival de Inverno em Campina Grande.
Foi
realizada ainda nessa edição uma exposição sobre os 50 anos de atividades da
professora Eneida, alguém que fez da cultura e da arte a sua própria vida. E de
fato, ela se agregou ao poder apenas e tão somente para “obrigar” os donos do
poder a permitirem arte e cultura. Ela, melhor do que ninguém, sabe da
importância e da contribuição cultural desse evento para Campina Grande, uma vez
que o Festival abre as portas para artistas da terra, ajudando-os a se
projetarem profissionalmente na carreira. Segundo Eneida, somente em 2013 cerca
de 700 artistas locais se apresentaram, sendo 150 deles da área musical.
Ao
longo desses anos, Eneida Agra trouxe vários nomes conhecidos do público para
Campina, a exemplo de Regina Duarte, Elba Ramalho, Paulinho da
Viola e, para esta última edição, o cantor Lenine e os bailarinos Carlinhos de
Jesus e Ana Botafogo. Para ela, há muito que o Festival de Inverno virou uma
“consagração da resistência”, tendo em vista as poucas verbas disponibilizadas
para sua realização. Defensora de que todos tenham acesso aos bens culturais
ela criou, entre outros projetos, grupos que ensinam arte a detentos e aos
moradores de periferia, motivo esse que enche de orgulho a professora.
Ao
ser questionada sobre os 38 anos do Festival de Inverno, de que maneira ele
está representado nas manifestações culturais da cidade, ela afirmou que
Campina Grande já sente os reflexos e o legado positivo desse evento, durante
todo o ano, considerando que o Festival passou a ser uma espécie de
instituição, por não se limitar apenas aos dias de apresentação. De acordo com Eneida, o Festival de Inverno
adaptou-se de forma eclética aos novos tempos, agregando-se às novas tendências
culturais e fugindo da eventologia. Lembrando ainda que a cidade hoje já conta
com o teatro Facisa, o Sesc, além de vários grupos de dança e academias
espalhadas pela cidade. “O que o Festival fez e faz é reafirmar o seu
compromisso, não com festas, mas utilizando-se de um caráter pedagógico.
Havendo, portanto, uma distribuição gratuita dos bens culturais”, assegurou
ela.
Segundo
a professora Eneida, vivemos em uma sociedade globalizada, capitalista,
consumista, que vai tirando a subjetividade e o sentimento de todos. No seu
ponto de vista, a cultura, de uma maneira geral, não vai bem em Campina. “É
necessário que a enxerguem com sensibilidade, com os olhos do coração, visto
que a arte transforma as pessoas”, ressaltou, não escondendo a sua indignação
com o descaso na cultura. Ela defende que os bens culturais deveriam ser
apresentados sempre em locais abertos, de fácil acesso ao povo, visto que nem
todo mundo dispõe de locomoção e meios adequados para chegar aos locais de
apresentação.
Para
Reinaldo Vieira, Sub-gerente do Bar do Cuscuz, aqui em Campina, o Festival de
Inverno este ano superou todas as expectativas, visto que no calendário de
eventos havia muita coisa interessante. “Fiquei emocionado com algumas apresentações,
em especial, com o grupo teatral encenado por detentos locais. Aquilo me fez
repensar sobre vários conceitos que eu tinha em relação aos presidiários. As
artes, a cultura em geral, sem dúvida, desenvolvem um papel fundamental na
sociedade, sensibilizando as pessoas e mostrando que o mundo ainda pode ter
salvação”, conclui Reinaldo.
Eneida
Agra Maracajá, uma das mais influentes ativistas culturais contemporâneas,
agregou-se ao poder tão somente para obrigar os donos do poder a permitirem
arte e cultura. “Se o Festival tivesse o apoio e patrocínio do Maior São João
do Mundo, essa cidade daria um banho de cultura na Paraíba e no Nordeste, pra
ficar na história”, finaliza ela, comunicando que nos próximos anos será apenas
uma mera expectadora, não ficando mais a frente da organização do Festival de
Inverno.
Uma matéria excelente e uma ótima cobertura. Parabéns aos repórteres!
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