Entrevista concedida através de e-mail para um professor da Universidade Estadual da Paraíba - UEPB, Campina Grande.
PERGUNTAS A MIM DIRIGIDAS:
1 -
Como você analisa o espaço que a Literatura de Cordel tem na mídia impressa
campinense?
R - Nos dias atuais, vou ser taxativo: É quase nulo! A exceção é quando
se trata de algum evento que envolva a poesia de cordel ou alguma homenagem
póstuma a um cordelista de destaque. Ou seja, o cordel vem sempre em segundo
plano.
2 - Você acredita que a mídia tem um papel fundamental no resgate da Literatura de
Cordel, para torná-la mais acessível às novas gerações?
R - Sim, com certeza. Esse papel bem que lhe caberia. O problema é a
falta de incentivo, pois não veem qualquer retorno ao difundi-lo. Acredito que
se depender da mídia televisiva, por exemplo, para que a literatura ou poesia
de cordel sobreviva, nós só iremos ouvir falar sobre cordel em alguma aula
futura de história.
3 -
Que importância você acha que o cordel tem, em temos culturais, para a vida de
Campina Grande e das futuras gerações?
R - O folheto de cordel faz parte da nossa cultura, isso é fato. Em
Campina Grande fica evidente o prestígio desse gênero literário, tanto que
existe um espaço exclusivo para a sua conservação. É a Biblioteca Átila
Almeida, a maior do mundo em acervo de cordel. Fica instalada no Campus I da
Universidade Estadual da Paraíba.
Segundo o escritor e cordelista Gustavo Dourado, o primeiro folheto de
cordel reconhecidamente publicado no Brasil data do ano de 1902. Impresso em
Campina Grande, é de autoria de Francisco Chagas Batista, e encontra-se
catalogado na casa de Rui Barbosa - no Rio de Janeiro - onde se situa a
Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).
4 -
Não se vê nos jornais artigos, ensaios ou outras publicações sobre o cordel. A
que você atribui isso?
R - O problema, como já frisei, é a falta de incentivo financeiro. Para
muita gente, creio não há qualquer interesse em escrever algo sobre um gênero
literário e poético que, por sua tradição, não rende tanto dinheiro. Tanto da
parte de quem escreve como de quem publica esse material.
5 -
Há quem diga que o cordel deixa de ter divulgação pelos veículos de
comunicação, em virtude desses veículos favorecer outros tipos de trabalhos,
por exemplo, o axé, os que estão em moda. Na sua opinião, isso existe? O cordel
acaba perdendo espaço para esse outro tipo de cultura?
R - A mídia, como toda grande empresa, vive de fazer dinheiro. O que
interessa é o lucro, e eu sei que não estou falando nenhuma novidade aqui.
Diariamente temos que engolir toda espécie de "lixo cultural"
oferecido pela TV, rádio, internet... A poesia de cordel, bem como outras
formas de "cultura sadia", ficam sempre em segundo plano.
6 -
Que estratégias poderiam ser adotadas pelos produtores dessa cultura para que o
cordel passe a ser mais divulgado?
R - Esse trabalho deveria começar pelas escolas, a exemplo do que fazia
o saudoso cordelista, Manoel Monteiro. Para ele, o cordel nunca deixou de ser
uma ferramenta paradidática, alfabetizando e cativando o interesse pela leitura
desde cedo.
7 -
Dentre as quatro obras que compõem a bibliografia do Vestibular 2008 da Universidade
Estadual da Paraíba, está a obra “História da donzela Teodora”, do poeta
Leandro Gomes de Barros. Que importância tem esse fato? Isso seria, também, uma
forma de divulgação desta cultura?
R - Coincidentemente, foi o ano em que prestei vestibular na UEPB. Não à
toa, esse cordel é uma das publicações mais notáveis de Leandro Gomes, um
clássico do gênero. Além de divulgar a nossa arte, visto que o Nordeste é o
maior produtor de cordeis no mundo, vejo isso como uma forma de mostrar que a
literatura de cordel tem força e resiste através dos tempos.
8 -
Qual sua expectativa em relação ao futuro do cordel?
R - Falei sobre isso no meu TCC, quando me formei em Jornalismo.
É importante ressaltar que vivemos em
plena era digital e a informatização já provocou uma verdadeira revolução nos
meios de comunicação. Grande parte da produção de livros e revistas já são
agora publicados pela Internet, ficando evidente o fato de que um número cada
vez maior de pequenos escritores, cordelistas em especial, já se rendem a esse
novo processo de integração literária, procurando novas alternativas nas quais
possam inserir os seus trabalhos.
9 -
Durante um ano inteiro, pesquisamos o Caderno de Cultura do jornal Diário da
Borborema, nas edições de sábados e domingos, e encontramos um número
baixíssimo de divulgação, algo em torno de 1,27%. Isso nos leva a supor que não
há uma boa divulgação do cordel na mídia impressa. A que se pode atribuir esse
fato?
R - Volto a dizer que, o que não soma pra um Jornal ou pra qualquer
outro meio de comunicação, sempre vai ficar em segundo plano.
10 -
Podemos considerar o cordel como um meio de comunicação ou um instrumento de
educação?
R - O cordel faz a função de ambos. Até a década de 1970, mais ou menos,
além de sua utilização nas escolas do ensino fundamental, o cordel era
considerado como "O Jornal do sertão". Dessa forma, sendo o cordel
uma ferramenta de uso paradidática, podemos apontar também na literatura de
cordel um viés de caráter comunicativo que, por vezes, faz o papel da mídia,
informando à população sobre problemas sociais e ambientais que estão presentes
em nossa sociedade de maneira séria e prazerosa. O cordel nunca deixou de ser
uma mídia alternativa e popular, recheada de conteúdo informativo e opinativo.
11 -
A que público se destina o cordel, hoje em dia?
R - Ao público que lê, simples assim. Àqueles leitores que dão preferência a este tipo de leitura regional, secular e de tradição inquestionável. Afirmo categoricamente que não há
uma faixa etária definida nesse sentido.
12 -
Seria importante colocar o cordel como matéria obrigatória ou optativa nas
escolas do ensino médio, para que os jovens passem a conhecer melhor essa
cultura?
R - Particularmente, acredito que essa seria uma das melhores medidas a
serem adotadas. A literatura de cordel oferece um imenso leque de alternativas
dentro do aprendizado. Tem a sua história secular, os seus escritores/poetas e
todo um arcabouço de informações; além do fato de se trabalhar a poesia em sala
de aula, estimulando o alunado a desenvolver seus próprios cordeis.
13 -
Na sua opinião, a Indústria Cultural, de modo específico, prejudica a
Literatura de Cordel e outras culturas? A Indústria Cultural poderia ser
utilizada para reerguer a Literatura de Cordel?
R - A Indústria Cultural é a grande responsável por toda essa
degeneração da cultura que presenciamos todos os dias. A começar pela televisão
que é parcial em qualquer circunstância e já não apresenta mais uma grade de
programação sadia para as famílias brasileiras; além das estações de rádio que
só veiculam as piores músicas possíveis, quase uma pornografia pra cego. O
importante é que se pague, que se gere renda. Portanto, é de se esperar que os
manipuladores da cultura em nosso país nunca vão fazer algo a favor do cordel,
ou pra qualquer outra cultura de raiz.
14 -
Ao longo deste ano (2017), a Secretaria de Educação e Cultura (Sedec-JP) estará
executando o projeto “Cordel na Sala de Aula”, com o objetivo de despertar o
interesse do professor e dos alunos pela cultura popular, como forma de
valorizar a memória. Na sua opinião, esse projeto deveria ser estendido a todas
as escolas?
R - Não resta dúvida que sim! Eu fazia justamente esse trabalho em
escolas do ensino fundamental, na cidade de Queimadas PB, até o final do ano
passado. Por motivos políticos, fiquei impossibilitado de levar aos alunos
dicas sobre leitura e sobre a estrutura física de um cordel, desde o esquema de
estrofes, rimas e o próprio enredo. No melhor estilo Manoel monteiro: aprenda a
fazer, fazendo.
15 -
Você acredita que diante da baixa divulgação, o cordel pode estar relegado aos
arquivos históricos ou poderá vir a estar, caso não sejam adotadas políticas de
divulgação da referida literatura?
R - Eu já temo pelo simples fato do cordel, a médio prazo, não sair mais
impresso. Muitos cordelistas da atualidade já se renderam ao Novo Cordel, sem
fazer mais uso de xilogravuras, papel jornal e inovando na escrita. Outros vão
mais além, buscando a forma midiatizada, o ciber-cordel. A preocupação, no
entanto, é de que os folhetos não desapareçam, embora mantenham-se publicados
num site qualquer.
CAMPINA GRANDE,
Janeiro/2017
Em outro momento, um trecho em vídeo de uma entrevista também sobre cordel, a qual concedi para alguns alunos do ensino médio de uma escola particular de Campina Grande, em novembro de 2015.
Trabalhei com cordel em sala de aula e obtive um retorno considerável dos meus alunos. Parabéns pela entrevista!
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