segunda-feira, 11 de julho de 2011

MINHAS MEMÓRIAS - CAP. 4 (4)


CAPÍTULO 4
IDEIAS, INICIATIVAS E INVENÇÕES (4)

NOME RAUL SEIXAS NA “PEDRA DO TOURO”
O desejo de propagar aos quatro ventos o nome de RAUL SEIXAS não tinha limites. E até mesmo em lugares exóticos, como na Pedra do Touro, um importante mini-sítio arqueológico em Queimadas, eu deixei a minha marca (sem comprometer pontos históricos), pintando um enorme letreiro na frente do "paredão" de pedra, no lajedo por onde todos sobem para contemplar a paisagem.

Aline, Adriana, Roseane e Reinaldo subindo em direção à Pedra do Touro. Detalhe: a corda está amarrada na minha cintura.

Foram necessários quase dois. dias para concluir a “obra”, ficando o primeiro dia apenas para fazer o esboço com giz, e. torcendo pra que não chovesse. Pena que esse nome fora pintado apenas com cal (a verba era curta) e, com o passar do tempo, foi desaparecendo por completo. Pois, durante essa época em.que a pintura sumia, eu já não me encontrava mais na Paraíba para poder, então, retocá-la.

Reinaldo e uma vista parcial da "Pedraq"

Eram letras enormes, do tipo "góticas". Algumas, como o "R" e o primeiro "S", tinham até 6 metros de altura, compreendendo ao todo, inclusive o espacejamento, um letreiro com aproximadamente 30 metros de comprimento, talvez até mais. Eu soube, inclusive, de turistas que andaram fotografando o local e procurando saber mais sobre aquela arte. 

Foto do paredão com o nome "RAUL SEIXAS" (1994/1995)

Muita gente até hoje me pergunta quando é que vou reacendê-lo (teria que fazer tudo novamente, o nome todo), e eu só respondo:
- Quem sabe, um dia...

RÉVEILLON NA PEDRA DO BICO – EXPEDIÇÕES
Outra pedra curiosa em Queimadas é a Pedra do Bico, que pode ser observada de toda a cidade. Desde criança eu já vagava por lugares como este, sempre em busca de aventuras (e de muitos hematomas também).
Entre os anos 80 e 90 eu não consigo imaginar quantas vezes subi esta pedra (perigosa, diga-se de passagem), deixando inscrições por onde passava e fazendo muitos “piqueniques” de frutas, juntamente com a molecada que me acompanhava. O "culto" a Raul Seixas iniciara aqui.
Mas foram as “expedições” à noite que ficaram marcadas e obviamente registradas (ver foto), num total de oito jornadas, entre os anos 92 e 96. Dentre as quais é impossível esquecer que passamos dois finais de ano, réveillon (em 93 e 96), trepados nessa pedra enquanto todos nos assistiam lá embaixo. E nunca que faltavam.candidatos a participar dessas aventuras.noturnas, a exemplo de Pedro (segurando tocha), Suelâneo, “Mamale”, Ironildo,.“Aliada” e tantos outros malucos.

Numa dessas "expedições" estavam Pedro, "Calho", Júnior (de azul, irmão de moisés), "Foguim", Benildo, Flamarion (Mamale), Luciano Pereira, entre outros.

Nessa época, havia uma tradição na virada do ano, quando todas as luzes da cidade eram apagadas durante um minuto, logo após a meia-noite, tornando o nosso réveillon particular algo ainda mais emocionante.
Munidos apenas de um facão e uma grande tocha que eu fazia com estopas e arame (a foto não me deixa mentir), também querosene, fósforos e muita coragem, subíamos a serra na calada da noite, com cuidado para não despertar a atenção de ninguém. Uma vez lá em cima, a gente podia gritar à vontade, pois somente as cobras, lagartos e os moradores da cidade dos “pés juntos” (cemitério) podiam ouvir-nos.
Numa dessas passagens de ano, a primeira, se não me engano, eu levei um montão de fogos (foguetões) que trouxera lá da Pedra de Santo Antônio, e que não tinham sido estourados por falta de varetas. O brilho da tocha acesa e o efeito das luzes gerado pelos foguetões, explodindo no ar, produziram um verdadeiro espetáculo pirotécnico, visto e comentado por todos em Queimadas. Com a exceção de algumas queimaduras leves na minha mão e outras escoriações menores, esta expedição foi um sucesso.
...

        Ainda no roteiro de pedras, eu não poderia esquecer-me, no entanto, de citar a caverna onde morava o avô de Adriano, sogro do velho “Pereira” de guerra. Lembro-me que fui lá pela primeira vez na companhia de Estefâneo, confesso até meio assustado, ouvir as estórias fantásticas sobre discos voadores e seres de outros planetas, contadas por Seu “Atássio”. É um lugar extraordinário de bonito, valendo a pena ir lá para conferir.

UMA NOITE NO CEMITÉRIO
Quando todos acreditavam que eu já tinha aprontado de tudo (exceto coisas ilícitas e que prejudicassem ou ferissem alguém, mesmo que nos seus sentimentos), ainda assim encontrava um meio de superar-me e de surpreender a todos.
Certa noite, como havíamos planejado antes, eu, Pedro, “Mininim” e “Mamale” resolvemos ir curtir um lual num lugar, digamos, um pouco diferente daquilo que já estávamos acostumados. E como já tínhamos decidido previamente que seria no cemitério, talvez para provar a nós mesmos que não havia nada demais em realizar esse nosso intento, não podíamos mais desistir e, portanto, fomos em frente com o plano.
Uma vez prontos, passamos pelo antigo “Top Dance” e compramos uns comes e bebes para levar conosco, algo como um litro de “caipirinha”, biscoitos e uns churrasquinhos de “gato”.
Por volta de meia-noite entramos escondidos pelo muro dos fundos, que naquele tempo era bem mais baixo e desprotegido, e ficamos lá por trás mesmo, quietinhos, contando piadas e conversando abobrinhas para passar o tempo. Era “Mamale” tremendo (segundo ele, de frio) e Pedro “sacaneando” com os defuntos, oferecendo para eles um pedaço de carne e um gole da caipirinha. Sentados numa catacumba próxima, eu e “Mininim” só fazíamos rir de tudo. Saímos dali, mais ou menos, umas 04h00 da manhã, nem esperamos o dia amanhecer.

SURFISTAS RODOVIÁRIOS
Eram muito frequentes nessa época (1988 a 1998) as viagens e passeios à praia durante o verão. Eu adorava fazer parte dessas caravanas, tanto para o litoral paraibano como para lugares ainda mais distantes, tal qual o Rio Grande do Norte (onde conheci as praias de: Jenipabu, com suas enormes dunas, e a de Pirangi, onde tem o maior cajueiro do mundo), Pernambuco (onde visitei Porto de Galinhas e também pude vislumbrar de perto a Ilha de Itamaracá) e Alagoas, onde fomos para a Praia da Sereia (ver foto). Estas viagens mais longas ficavam a cargo de Lula de Seu Luiz Pereira, irmão do meu amigo Júlio e também de Luciano.

Eu, na praia, em cima da estátua da sereia.

Foi numa dessas viagens que eu resolvi, pra variar, aprontar. Quem sabe até para vingar-me da última, quando tive a maior das diarréias na volta para casa e todos ficaram rindo de mim dentro do ônibus. Foi cruel o que fizeram comigo.
Ao retornar de Alagoas, da Praia da Sereia, em 1996, e quando o ônibus já adentrava em Queimadas, eu e mais algumas cabeças “brilhantes” como Silony, irmão da amiga Silany e do amigo Sibamar, Gerônimo, Benildo e Maurício, este último irmão do meu amigo Renato, tivemos a infeliz ideia de subir no “busão”, ainda em movimento, através de uma abertura no teto.
Como no Rio de Janeiro e em outras grandes metrópoles, ficamos de pé na cobertura, na parte externa do ônibus (óbvio), equilibrando-se por entre os cabos e fios de alta tensão das ruas. Mas como diz aquele velho ditado (sou perito neles), o Diabo quando não vem, manda o secretário. Aqui, neste caso, foram os “secretários”. Pois os mesmos camaradas que subiram no ônibus e até concordaram comigo na empreitada, covardemente desceram e, logo em seguida, trancaram-me com Maurício, deixando-nos sozinhos no teto do ônibus, para certamente humilhar-nos.
O desespero de Maurício ao ver parar o veículo, com medo, talvez, de uma repreensão por parte do motorista, fez com que ele não pensasse duas vezes e resolvesse pular de qualquer jeito de cima do ônibus, enroscando o pé numa janela e machucando-se feio. Também não tive outra opção e tive de pular, uma altura de cerca de três metros, correndo imediatamente para socorrê-lo, já que ele bateu com a cabeça no meio-fio, chegando, inclusive, a ter convulsões. O resultado é que ele foi parar no hospital, recuperando-se dias depois, e eu fiquei a noite inteira sem dormir pensando no ocorrido.

JUDAS NA RUA JOÃO BARBOSA
A ideia de confeccionar bonecos que representem a figura de Judas Escariotes, o traidor de Jesus Cristo, vem de muito longe. É uma das manifestações populares e profanas mais antigas, e que provavelmente nunca deixará de existir.
A propósito, havia um “bonequeiro” em Queimadas nos anos 90 o qual fazia toda a diferença, expondo as peças mais extravagantes em plena rua central. Mas sempre depois que passava a procissão da Sexta-Feira Santa, demonstrando assim certo respeito pela comunidade católica. Sem mais “delongas”, eu assumo agora, como sempre o fiz, a autoria dessas criações e toda a sua “presepada”, consequentemente.
Esperando dar meia-noite para poder malhar o Judas, lá estava “nêgo” já armado de foice, faca em punho, pedaços de pau, pedras e até armas de fogo. Eles nunca respeitavam a hora certa e, de repente, avançavam no boneco (até para evitar que outra turma maior viesse, de um outro lugar, e estragasse a festa).

O meu Judas pendurado na casa em que morei

Era mesmo uma zona de guerra. Numa dessas feriu-se Júnior Pit bull, com uma pedrada na cabeça, e em outra ocasião o amigo “Guerreiro”, este levando a pior, com um tiro disparado na boca. Quando isso acontecia, tiros principalmente, já era bem longe do local onde eu expunha o boneco, em brigas e confusões isoladas. Depois dessa experiência, acredito que “Guerreiro”, hoje evangélico (?), jamais tentou novamente malhar ou “roubar” um Judas de alguém.
Certa vez, os amigos Roniclay e “Preá” tentaram roubar o nosso Judas numa operação ousada, laçando uma corda em volta do boneco e prendendo-a no pára-choque de um carro. Eles bem que tentaram. Porém, nesse dia, tínhamos o “Baiano”, um companheiro nosso e que não permitiu tal afronta, defendendo com unhas e dentes, tal qual uma fera, o nosso território. A João Barbosa não era uma rua de “frouxos”.

A PANELA DE BARRO E OS COZIDOS
Numa certa noite de sexta-feira, do ano de 1994 ou 1995, acredito, eu e Pedro tivemos uma ideia que entraria para os “Anais da história queimadense”. Decidimos, numa reunião a dois, que iríamos comprar uma panela de barro, dessas enormes que se vende nas feiras, e juntos cozinharmos uma porção bem generosa de “angu” para a galera comer com leite em plena rua, de preferência que fosse ao lado da igreja matriz. Não sei por que, mas esses pensamentos vinham quase sempre à noite, e no dia seguinte dávamos qualquer jeito de colocá-los em prática.
No sábado, portanto, dia posterior a essa ideia, e sabendo que haveria uma festa à noite no Clube Municipal (este que ficava bem próximo à igreja), nos apressamos em ir à feira, pela manhã, comprar a dita panela e dar início ao nosso plano. Com a primeira etapa concluída, agora só nos restava providenciar o leite, alguns talheres e pratos descartáveis (embalagens de goiabada, só para zoar), e em seguida, botar o “xerém” para cozinhar no fogo de lenha. Tudo isso se passava no quintal da casa de Ironildo que, pacientemente, fazia o possível para colaborar.
Por volta das 19h00, vendo todo mundo arrumadinho e se encaminhando para a festa (inclusive Pedro, que nessas horas me deixava sozinho), lá vinha eu, empurrando um carrinho de mão com uma panela de angu quentinha, cheirosa, prontinha para ser devorada (o interior dela, óbvio). Tudo coisa de primeira qualidade, limpinha, feita com carinho e capricho pela cozinheira Selha, nossa amiga e voluntária, a qual trabalhou por vários anos com Seu Dino, pai de Moisés, na época do bar.
Estrategicamente, eu estacionei o carrinho entre a igreja e o prédio do clube, antes mesmo de se iniciar a festa, atraindo nesse ínterim alguns simpáticos esfomeados com os seus bolsos respectivamente vazios. Não tardou muito e todos já haviam se rendido completamente ao cozido que, aliás, estava uma delícia.
Era uma beleza ver aqueles “boyzinhos” todos comendo angu com leite na escadaria da igreja, fingindo-se brincando, mas deixando a fome superar a própria vergonha. Sem citar nomes, eu afirmo que alguns chegaram, inclusive, a repetir o prato mais de uma vez. Ao fim, e já sem nenhuma cerimônia, rasparam até o fundo da panela. Uma cena hilária. Aos curiosos, eu afirmava apenas que havia assumido um compromisso com a fome do lugar, e muita gente ia na onda.
Fizemos também uma gostosa feijoada, a qual parecia ter mais carne do que propriamente feijão, servida em copinhos plásticos e regada à cachaça (dentro do limite). Esta segunda “ceia” gratuita, por sua vez, se deu da mesma forma e no mesmo lugar que a outra, porém, teve a participação efetiva de uma turminha que contribuiu com alguns ingredientes e também com a organização do “evento”.
E por fim teve ainda um panelaço de batata-doce cozinhada, com direito até mesmo a café (cortesias totais e exclusivas do “Rei das Frutas”, o meu provedor natural) e que eu fiz questão de levar, pessoalmente, para a entrada da palhoça da então quadrilha junina do saudoso professor José Miranda. Nessa noite até o amigo David fotógrafo, sempre rodeado de mulheres bonitas, provou da batata e do café. Pena que ele não registrou aquele momento, eternizando numa fotografia.

       Em outra ocasião eu, Pedro, “Mininim” (que não sentia vergonha de absolutamente nada), Jailson, “Aliada” e outros, dos quais não me lembro agora, compramos cem pães na padaria do finado Zé Gomes e colocamo-os em um enorme saco plástico transparente. Providenciamos também algumas garrafas PET para fazer refresco e, como sempre, fomos todos perturbar na frente do Clube, em uma noite de festa.
O desperdício causado pela manipulação insensata dos pães e também a falta de respeito para com as garotas (jogávamos miolo de pão em suas costas, entre outras coisas) culminaram com a presença de Inácio “charuto”, o tocador de Berimbau, quando nós praticamente o “entupimos” de pão, fazendo-os descer por sua goela abaixo. Essa noite foi definitivamente a minha diplomação de cara-de-pau.
Havia ainda as “farras” que promovíamos com frutas, jacas em especial, quando eu e alguns parceiros resolvíamos levar uma dessas para o meio da rua, geralmente à noite, e a devorávamos tal qual uma manada de porcos. A falta de educação era, sem dúvida, a nossa marca registrada.

PEGADINHAS COM LATAS, MOEDAS, CAIXAS DE PAPELÃO E ATÉ COM FEZES (?)
Mais do que uma simples brincadeira de mau gosto (porém muito engraçada), esta pegadinha a seguir era também um meio mesquinho e um tanto covarde de divertir-se à custa alheia, feminina de preferência.
Com um risco mínimo de acidentes, porém máximo de constrangimento aos que participavam (involuntariamente) dessa minha “experiência”, eu amarrava algumas latinhas vazias de refrigerante nas extremidades de um fio de nylon, bem fininho, com cerca de 2 a 3 metros de comprimento. Então, à noite, numa esquina movimentada, esticava-o horizontalmente a uma altura aproximada de 20 centímetros do chão, cruzando uma calçada, e sempre procurando esconder as latas. Aí era só esperar pelas vítimas que, sem nada perceber, enroscavam os pés na linha quando passavam, arrastando assim as latinhas. Um verdadeiro escândalo!
Outra bastante divertida era a pegadinha da moeda. Eu grudava com cola instantânea uma moeda de um real no chão, também se utilizando de uma calçada bem movimentada. Aí era só aguardar alguém vir pegar o seu “achado”. Muito hilário. Semelhante, aliás, à pegadinha da cédula que eu também amarrava a um fio de nylon para fisgar alguns “sortudos”.
Inventávamos ainda outras armadilhas não muito originais, como colocar um paralelepípedo debaixo de uma pequena caixa de papelão, numa calçada, e ficar esperando que alguém passasse e chutasse. Uma maldade sem tamanho.
Mas a pior delas, sem sombra de dúvida, era simular uma briga entre dois sujeitos para atrair a atenção de curiosos. Durante a “discussão” inicial (tudo premeditado), um deles afirmava que só não iria mesmo brigar porque o outro se encontrava, de fato, com um pedaço de pau na mão. Então, de repente, alguém surgia do meio da confusão já formada para resolver o impasse, dizendo:
- Não seja por isso. Ei, você aí, entregue esse pau para alguém e enfrente o cara como um homem!
Quando um voluntário, ansioso para ver a briga rolar, esticava a mão para pegar o pedaço de pau, não percebia que a ponta do mesmo estava toda “lambuzada” de cocô e a fedentina então tomava conta do babaca.
Os que participavam dessa armação eram verdadeiros “atores”.
Continua...

Um comentário: