A PERTURBAÇÃO SONORA DE CADA DIA
Contrariando o que dissera o músico Renato Russo (1960 – 1996) em uma de suas canções, esperando por mim, de 1995, não seria a solidão agora, mesmo em todo seu potencial, o mal do século. Em algumas circunstâncias, talvez até venha a sê-lo. Porém, sabemos que esta é uma visão bastante romântica, sonhadora e um tanto poética do artista. Além do mais, um enorme benefício proporcionado pela solidão, certamente o maior deles, é exatamente na questão que se refere ao silêncio, algo que, infelizmente, encontra-se cada vez mais escasso, quase impraticável nos dias de hoje. Em especial, nas áreas urbanas e de maior concentração de pessoas.
Não bastasse o barulho natural existente nos grandes centros, ocasionado por uma série de fatores inevitáveis, pertinentes nesses meios, também virou moda o fato de todo mundo hoje em dia querer fazer a sua “zoada” particular, sem importar-se de maneira alguma com as atitudes e consequências de seus atos. Eis aqui, portanto, o verdadeiro mal do século XXI, um problema que não se restringe apenas às periferias e lugares mais ignorados pelas leis, como poderia se imaginar.
Para a consultora de vendas, Luciana Albino Vieira, 40 anos, casada, moradora do bairro da Liberdade, em Campina grande, este é um mal que assola todos os níveis e classes sociais, não excluindo ninguém. Ela afirma que os protagonistas do barulho são pessoas, na maioria das vezes, agressivas, em busca de confusões. E só precisam de uma desculpa para aflorarem suas frustrações, recorrendo então ao barulho.
Seja num final de semana, quando se reúne toda uma “galera” em volta de uma laje, a fim de providenciarem churrascos, feijoadas e ainda o consumo indiscriminado de bebidas alcoólicas, em festinhas que costumam atravessar a noite inteira. Ou mesmo no dia a dia, nos lares comuns, onde muitos indivíduos cultivam o péssimo hábito de ouvirem suas músicas (ou o equivalente a isso) em volumes altíssimos, contribuindo da mesma forma com a perturbação da lei e da ordem. Para tanto, são necessárias apenas duas ferramentas fundamentais: um aparelho de som “turbinado” e, na maioria absoluta das vezes, a falta de respeito e de consideração para com os vizinhos e demais pessoas. Isso sem falar nos meios alternativos e até automotivos de se gerar barulho, motivos que nos fazem enxergar um futuro nada promissor nesse sentido.
Segundo Luciana, é necessário um olhar mais atento das autoridades para esse problema, uma vez que a falta de fiscalização deixa as portas abertas para que muitos interpretem a lei da maneira que lhes for conveniente. Ou seja, achar que se pode fazer tudo antes das 22:Hs. Um mero engano.
“Ao entrarmos em um ônibus ou em qualquer outro meio de transporte coletivo, normalmente a primeira coisa com a qual nos deparamos agora é com um sujeito sem educação ouvindo músicas em um aparelho de celular infernal, sem fones de ouvido, invadindo descaradamente o espaço do passageiro ao lado. E aquilo para ele é algo tão natural como se estivesse na sala de sua própria casa.” A falta de educação, conclui Luciana, é algo que já ultrapassou todos os limites possíveis.
Um automóvel hoje em dia já não é apenas e tão somente um simples meio de transporte. Ele pode ser, ao mesmo tempo, um carro e também um barulhento “trio elétrico baiano”. Sensação em bares e ambientes desse tipo, costuma comportar em seu porta-malas um equipamento de som que, por vezes, supera o valor do próprio veículo.
Essa é a nova moda que tanto incomoda... |
Por outro lado, próximo a um desses barzinhos da vida, encontra-se muitas vezes um vizinho que necessita dormir, descansar após atravessar algum plantão noturno no trabalho. Ou talvez, um idoso com problemas de saúde, uma criança recém nascida, e até mesmo, um estudante que precisa de silêncio para concentrar-se nos estudos. A ausência gritante de educação e de bom senso em alguns indivíduos (bem como de leis mais rígidas e menos tolerantes), é que leva um sujeito à conclusão de que, quanto mais barulho difundido, mais rápida será sua ascensão entre aqueles que “rezam” na mesma cartilha ou, como diria o cantor e compositor Raul Seixas, “que se lambuzam na mesma lama”. Essa é a nova moda que tanto incomoda, a provocação, a falta de limites baseada nos exageros do álcool e até das drogas.
E como todo assunto que é de interesse público (aqui de saúde pública), ganhando proporções em nível nacional, este não foge à regra. Tornando-se viável, portanto, a implementação de leis específicas e que atendam exclusivamente ao problema, como um projeto de lei que proíba definitivamente a instalação de equipamentos de sons automotivos em veículos de passeio. Ou que, pelo menos, condicionem a montagem desse tipo de aparelhagem ensurdecedora a uma prévia autorização do poder público. Uma solução drástica para um flagelo que só aumenta a cada dia que passa, aumentando inclusive, o risco de problemas auditivos posteriores na popoulação em geral.
Como diria o carioca, durma com um barulho desses e acorde de cara bonita!
Paulo Seixas
Pois é, seu Paulo. Durma com um barulho desses e acorde de cara bonita! É tenso viu? Eu tinha um professor que chamava os tais dos "paredões" de: recado de otário! Kk.
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