domingo, 25 de novembro de 2012

MEU 15° TRABALHO ACADÊMICO

                           A MANIPULAÇÃO DA NOTÍCIA

Análise referente à disciplina Teoria da Comunicação, ministrada pela professora mestre, Adriana Alves.

Tomando como base os fundamentos específicos da teoria do Newsmaking, em uma análise mais detalhada sobre o conteúdo do longa MAD CITY – O QUARTO PODER (1997), do diretor Costa Grava, podemos observar que os bastidores da notícia nem sempre refletem a realidade como um todo, e podem esconder muito mais do que se supunha. Trata-se, no entanto, da manipulação exacerbada dos fatos, das barganhas e acordos realizados por certos profissionais e empresas oportunistas que visam, acima de tudo, a sua projeção no cenário midiático. A ética no jornalismo sempre bateu de frente com o sensacionalismo desmedido e com a falta de responsabilidade em muitos conteúdos divulgados.
A construção de uma notícia, bem como a credibilidade de uma empresa do ramo da comunicação, está longe de ser considerado o espelho do real. Ela depende, efetivamente, de alguns fatores básicos que vão desde os interesses pessoal-empresariais (na sua grande maioria), da conveniência dos fatos, das circunstâncias e dos momentos oportunos em que se dão esses fatos e, principalmente, do lucro obtido pela “mercadoria”, criando uma suposta realidade da qual certamente poucos irão discutir. Segundo o comentarista Paulo Francis (1930/ 1997), “jornalismo é uma questão de ênfase”, muito embora possamos justificar a ideia de que a imprensa não reflita a realidade em si, apenas “ajuda” a construí-la. Valores como a ética e a razão nem sempre conseguem se sobrepor diante dos interesses comerciais de algumas empresas de comunicação, como ficou demonstrado no filme O QUARTO PODER.
O filme mostra, de forma pertinente, o poder da mídia em construir ou desconstruir uma imagem, ou seja, de manipular a realidade de tal forma que chega a ser inquestionável. Esse paradigma da construção social da realidade não é uma autonomia incondicional do repórter ou jornalista, mas sim, de um planejamento produtivo de sua empresa e ao qual ele fica submetido, consistindo, pois, a base da teoria do Newsmaking. Alguns jornalistas, entretanto, conseguem fazer o diferencial, na medida em que se encontrem com a “faca” e o “queijo” na mão, um furo jornalístico em andamento e o qual possa lhe render créditos.
A partir do momento em que a personagem Sam Baily, interpretado pelo ator John travolta, adentra armado em um museu de história, situado na cidade americana de Madeline, Califórnia, para tentar reaver o seu emprego de segurança, uma série de acontecimentos inesperados começa a desenrolar-se no decorrer da trama. Um tiro acidental que acaba ferindo seu colega de profissão o coloca em uma situação delicada, na qual ele se obriga a fazer algo que não queria até o momento, como manter um grupo de crianças como reféns. É quando, coincidentemente, entra em cena a figura de Max Brackett, interpretado pelo ator Dustin hoffman, um jornalista decadente que enxerga nesse fato um furo jornalístico e ainda a possibilidade de uma rápida ascensão no meio televisivo.
Inicia-se, então, uma sucessão inusitada de ocorrências, onde todos os passos de Sam e até da própria polícia são mediados por Brackett, numa suposta tentativa sua de amenizar o problema na busca por uma solução. Brackett consegue, entre outras coisas, convencer o diretor da emissora de tv, na qual ele trabalha como freelance, a entrar no ar ao vivo mostrando uma entrevista exclusiva com Sam, mesmo a contragosto de Kevin Hollander, o âncora desta emissora. A maneira como ele conduz a entrevista, direcionando perguntas e respostas previamente analisadas, apresentando Sam como uma vítima em potencial desse incidente, fica claro e evidente a manipulação dos fatos. A personagem de Sam, por sua vez, é realmente um indivíduo carismático, ingênuo e bastante influenciável, a porta de entrada utilizada por Brackett para assumir o controle da situação e até comover a opinião pública, atingindo assim o emocional do espectador, embora que tudo seja em seu próprio favor.
A situação se complica quando Cliff, o segurança baleado, morre no hospital, complicando de vez a imagem de Sam. Vendo finalmente a que ponto chegou sua situação, Sam desiste do sequestro e libera a diretora do museu e as crianças, explodindo em seguida o local num ato suicida. Brackett, que a essa altura havia deixado de lado os seus sentimentos, deixa prevalecer a sua compaixão e conclui que, através da força imposta pela mídia, acabara de tirar a vida de um ser- humano. 
De acordo com a teoria do Newsmaking, que tem perspectiva e método construtivista, a notícia tem um caráter convencional, pois elas informam e têm referência na realidade. Entretanto, também ajudam a construir essa mesma realidade, possuindo uma lógica interna de constituição que influencia todo o processo de construção. É exatamente nesse contexto em que se insere o desencadeamento da trama, cujo final acaba por revelar a consequência trágica ocasionada por uma grande farsa, um circo armado em torno de um episódio que poderia muito bem passar despercebido. O modelo teórico do Newsmaking, cuja sistematização é feita por autores como Mauro Wolf e Nelson Traquina, por exemplo, leva em consideração critérios como noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos organizacionais, construção da audiência e rotinas de produção.
Uma das mais respeitadas pesquisadoras do Newsmaking, a socióloga Gaye Tuchman, defende a ideia de que o processo de produção da notícia é planejado como uma rotina industrial. Portanto, como já fora analisado antes, o jornalista não tem uma autonomia própria e incondicional em sua prática profissional, ficando sempre sujeito à submissão de um planejamento produtivo. Jornalistas como Max Brackett e tantos outros da vida real procuram, enfim, ser a exceção dessa regra, fazendo uso de sua própria ética.




Um comentário:

  1. É, infelizmente vivemos num mundo em que não se pode ganhar dinheiro profissionalmente sem, na maioria das vezes, submeter-se às regras de superiores que não se importam com palavras como verdade, imparcialidade, mas privilegiam sempre e, acima de tudo, a possibilidade de lucratividade, de ganhos em cifras. Contudo, sonhar não custa nada. Quem sabe um dia as pessoas vão ter o real direito de viver de verdade, de ser semelhante, e sentir-se ouvido e visto sem outras intenções...

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