Análise
referente à disciplina Teoria da Comunicação, ministrada pela professora mestre, Adriana Alves.
Tomando
como base os fundamentos específicos da teoria do Newsmaking, em uma análise
mais detalhada sobre o conteúdo do longa MAD CITY – O QUARTO PODER (1997), do
diretor Costa Grava, podemos observar que os bastidores da notícia nem sempre
refletem a realidade como um todo, e podem esconder muito mais do que se
supunha. Trata-se, no entanto, da manipulação exacerbada dos fatos, das
barganhas e acordos realizados por certos profissionais e empresas oportunistas
que visam, acima de tudo, a sua projeção no cenário midiático. A ética no
jornalismo sempre bateu de frente com o sensacionalismo desmedido e com a falta
de responsabilidade em muitos conteúdos divulgados.
A
construção de uma notícia, bem como a credibilidade de uma empresa do ramo da
comunicação, está longe de ser considerado o espelho do real. Ela depende,
efetivamente, de alguns fatores básicos que vão desde os interesses pessoal-empresariais
(na sua grande maioria), da conveniência dos fatos, das circunstâncias e dos
momentos oportunos em que se dão esses fatos e, principalmente, do lucro obtido
pela “mercadoria”, criando uma suposta realidade da qual certamente poucos irão
discutir. Segundo o comentarista Paulo Francis (1930/ 1997), “jornalismo é uma
questão de ênfase”, muito embora possamos justificar a ideia de que a imprensa
não reflita a realidade em si, apenas “ajuda” a construí-la. Valores como a
ética e a razão nem sempre conseguem se sobrepor diante dos interesses
comerciais de algumas empresas de comunicação, como ficou demonstrado no filme
O QUARTO PODER.
O
filme mostra, de forma pertinente, o poder da mídia em construir ou
desconstruir uma imagem, ou seja, de manipular a realidade de tal forma que
chega a ser inquestionável. Esse paradigma da construção social da realidade
não é uma autonomia incondicional do repórter ou jornalista, mas sim, de um
planejamento produtivo de sua empresa e ao qual ele fica submetido, consistindo,
pois, a base da teoria do Newsmaking. Alguns jornalistas, entretanto, conseguem
fazer o diferencial, na medida em que se encontrem com a “faca” e o “queijo” na
mão, um furo jornalístico em andamento e o qual possa lhe render créditos.
A
partir do momento em que a personagem Sam Baily, interpretado pelo ator John
travolta, adentra armado em um museu de história, situado na cidade americana
de Madeline, Califórnia, para tentar reaver o seu emprego de segurança, uma
série de acontecimentos inesperados começa a desenrolar-se no decorrer da
trama. Um tiro acidental que acaba ferindo seu colega de profissão o coloca em
uma situação delicada, na qual ele se obriga a fazer algo que não queria até o
momento, como manter um grupo de crianças como reféns. É quando,
coincidentemente, entra em cena a figura de Max Brackett, interpretado pelo
ator Dustin hoffman, um jornalista decadente que enxerga nesse fato um furo
jornalístico e ainda a possibilidade de uma rápida ascensão no meio televisivo.
Inicia-se,
então, uma sucessão inusitada de ocorrências, onde todos os passos de Sam e até
da própria polícia são mediados por Brackett, numa suposta tentativa sua de
amenizar o problema na busca por uma solução. Brackett consegue, entre outras
coisas, convencer o diretor da emissora de tv, na qual ele trabalha como
freelance, a entrar no ar ao vivo mostrando uma entrevista exclusiva com Sam,
mesmo a contragosto de Kevin Hollander, o âncora desta emissora. A maneira como
ele conduz a entrevista, direcionando perguntas e respostas previamente
analisadas, apresentando Sam como uma vítima em potencial desse incidente, fica
claro e evidente a manipulação dos fatos. A personagem de Sam, por sua vez, é realmente
um indivíduo carismático, ingênuo e bastante influenciável, a porta de entrada
utilizada por Brackett para assumir o controle da situação e até comover a
opinião pública, atingindo assim o emocional do espectador, embora que tudo
seja em seu próprio favor.
A
situação se complica quando Cliff, o segurança baleado, morre no hospital,
complicando de vez a imagem de Sam. Vendo finalmente a que ponto chegou sua
situação, Sam desiste do sequestro e libera a diretora do museu e as crianças,
explodindo em seguida o local num ato suicida. Brackett, que a essa altura
havia deixado de lado os seus sentimentos, deixa prevalecer a sua compaixão e
conclui que, através da força imposta pela mídia, acabara de tirar a vida de um
ser- humano.
De
acordo com a teoria do Newsmaking, que tem perspectiva e método construtivista,
a notícia tem um caráter convencional, pois elas informam e têm referência na
realidade. Entretanto, também ajudam a construir essa mesma realidade,
possuindo uma lógica interna de constituição que influencia todo o processo de
construção. É exatamente nesse contexto em que se insere o desencadeamento da
trama, cujo final acaba por revelar a consequência trágica ocasionada por uma
grande farsa, um circo armado em torno de um episódio que poderia muito bem
passar despercebido. O modelo teórico do Newsmaking, cuja sistematização é
feita por autores como Mauro Wolf e Nelson Traquina, por exemplo, leva em
consideração critérios como noticiabilidade, valores-notícia, constrangimentos
organizacionais, construção da audiência e rotinas de produção.
Uma
das mais respeitadas pesquisadoras do Newsmaking, a socióloga Gaye Tuchman,
defende a ideia de que o processo de produção da notícia é planejado como uma
rotina industrial. Portanto, como já fora analisado antes, o jornalista não tem
uma autonomia própria e incondicional em sua prática profissional, ficando sempre
sujeito à submissão de um planejamento produtivo. Jornalistas como Max Brackett
e tantos outros da vida real procuram, enfim, ser a exceção dessa regra,
fazendo uso de sua própria ética.
É, infelizmente vivemos num mundo em que não se pode ganhar dinheiro profissionalmente sem, na maioria das vezes, submeter-se às regras de superiores que não se importam com palavras como verdade, imparcialidade, mas privilegiam sempre e, acima de tudo, a possibilidade de lucratividade, de ganhos em cifras. Contudo, sonhar não custa nada. Quem sabe um dia as pessoas vão ter o real direito de viver de verdade, de ser semelhante, e sentir-se ouvido e visto sem outras intenções...
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