sexta-feira, 4 de abril de 2014

ARTIGO DE OPINIÃO ACERCA DA PESQUISA REALIZADA PELO IPEA, MARÇO DE 2014

                        
      QUANDO OS PAPÉIS E OS VALORES SE INVERTEM...
 
Duas semanas atrás o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou uma pesquisa que causou bastante polêmica, onde os resultados apontavam que a maioria dos entrevistados (quase 60% do total) acredita que, o simples fato de uma mulher usar roupa comportada pode ajudar consideravelmente a evitar estupros. A frase que teria surgido durante as entrevistas de que "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros" gerou indignação e inúmeros protestos na internet.
No entanto, algumas informações veiculadas nessa pesquisa foram de certa forma, deturpadas, não compreendendo com a realidade dos fatos. Em outras circunstâncias possivelmente alguém responderia que é um direito que cabe a toda mulher, ou mesmo ao próprio homem, vestir-se como bem entender e de andar com a roupa que melhor lhe convier. Embora sabendo que num país preconceituoso e sem leis rígidas como esse nosso, onde fica difícil para o cidadão reclamar por justiça e direitos, e onde músicas com letras pornográficas e de baixo nível despertam o desejo sexual de jovens e adolescentes de maneira assustadora, talvez o ideal fosse prevenir antes para não ter do que reclamar depois. Do contrário, é pagar para ver e apostar na sorte, infelizmente.
A questão é que uma mini saia ou qualquer outra roupa minúscula dessa espécie desperta sim a libido de um homem, isso é fato. Faz parte da natureza humana, principalmente de todo macho viril, excitar-se com uma postura mais sensual do sexo oposto, mas nem por isso, representando um risco à integridade física e moral da mulher. Também é óbvio que ele deva controlar ao máximo esses seus “instintos proibidos”, ignorando qualquer pretensão sexual motivada nesse meio tempo. De qualquer maneira, aquele que considerar-se hétero masculino e que nunca tiver se sentido atraído pela sensualidade provocante de uma roupa feminina mais curta, que atire a primeira pedra. Todavia, se faz necessário lembrar que para um estuprador em potencial, aquele que fará valer de uma maneira ou de outra os seus anseios mais hediondos e nefastos, ele só precisará mesmo é de uma mulher indefesa e em situação de risco para poder realizar o seu intento, independentemente das vestes que ela esteja usando no momento. Essa prática é quase sempre a regra.
Nas regiões litorâneas do Brasil, onde a cultura relativa ao uso de vestes mínimas é bem diferente das de outras localidades, chega a ser algo bastante comum para uma mulher desfilar unicamente de biquíni pelas ruas de sua cidade. A maneira de se comportar e de agir com o próprio corpo, especialmente por parte das mulheres, varia conforme o lugar e o ambiente em que se convive, não havendo pré-requisitos ou um padrão específico de como se vestir adequadamente, desde que procure cobrir a nudez frontal. Seria uma burrice comparar a nossa cultura com os costumes e tradições de outros povos, muçulmanos, por exemplo, que obrigam suas mulheres a se cobrir da cabeça aos pés, porém não evitando, deste modo, que elas fiquem propensas ao estupro tanto quanto as mulheres aqui do ocidente.
O estupro é um ato abominável praticado por seres humanos doentes ou fora de si, que podem ou não ser motivados pela vestimenta alheia. Partindo dessa premissa, é como se a mulher contemporânea que se veste de uma determinada forma estivesse provocando e que o estuprador tem uma pretensa autorização para fazer uso daquele corpo que está sendo exposto. Por outro lado, é inútil perguntar a homens que nunca estupraram ninguém como eles acham que os estupradores pensam, algo que fica completamente fora de cogitação. Uma coisa é certa: Ao praticar um estupro, o indivíduo sabe bem o que está fazendo, sob o efeito ou não de drogas, doente ou são. Alegar que um estuprador estava drogado para que ele se safe do crime cometido, é procurar se questionar porque ele não entrou na jaula de um leão furioso em vez de assassinar os sonhos e fantasias de uma menina.
Por acaso alguma pessoa merece ser estuprada? É evidente que não. No entanto, fica um ponto em aberto no qual se faz imperativo algumas analogias: se uma pessoa não deseja que seu carro seja roubado, então é mais prudente que ela não o deixe estacionado em algum lugar aberto e com a chave na ignição. Da mesma forma que duas mulheres saem para uma balada na casa de alguém, uma veste roupas comportadas e não bebe muito, enquanto a outra veste roupas extremamente vulgares e fica bêbada a ponto de desmaiar em algum quarto. Qual das duas tem mais chance de ser assediada? 
         A verdade é que criminosos irão sempre existir. Falar que se deve ensinar o estuprador a não estuprar é o mesmo que tentar ensinar um leão a não comer carne. É o tipo de crime horrendo que ninguém espera que aconteça, porém acontece, dentro de qualquer nível ou padrão social. Então mulheres, tenham ao menos o devido valor e respeito ao seu corpo para que isso nunca venha lhes ocorrer.


                                                                                                Paulo Seixas


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