IMEMORÁVEIS
DE CERTO FUNCIONÁRIO
(ENTREGADOR)
DA
ÁGUA PURA
A SUCURSAL DO INFERNO
PARTE VII
O ÚLTIMO SUSPIRO
A minha vida é uma
tristeza,
Nada acontece, para
variar.
Eu sequer tenho a
certeza
De que algo vai
mudar.
E pra aumentar a
frustração
Trancaram-me nessa
prisão,
Sem chance de me
soltar.
Por Deus, o quê que eu fiz
Para merecer tanto castigo?
Eu nunca fui tão infeliz,
E é por isso que eu digo:
Nenhum sofrimento é nobre,
Tudo só cai no “lombo” do pobre
Desamparado e sem abrigo.
A vida não pode
esperar,
Eu quero a minha
“alforria”,
Para eu poder,
então, viajar,
E só assim a minha
alegria
Finalmente ela vai
voltar,
Nunca mais vou me
lembrar
De toda e qualquer
agonia.
Vivo em
busca da felicidade
E longe
de qualquer tortura.
Minha
ambição, na verdade,
Era ser
gari da Prefeitura.
Mas
para minha infelicidade,
Com
tanto serviço nessa cidade,
Vim
parar logo na Água Pura.
As escolhas que nós
fazemos
Nem sempre dão bons
resultados.
Às vezes, nem
chance temos,
Só apenas de ser
humilhados.
Até porque
trabalhar com crente
Que é a pior espécie
de gente,
Deixa o sujeito
mais revoltado.
Não há
palavras de consolo
E que
me façam entender,
Sou
pobre, mas não sou tolo,
E cego
é quem não quer ver.
É muito
fácil para um cidadão
Se
esconder em uma religião,
Com uma
Bíblia sempre a reler.
“- Com uma Bíblia
na mão
E uma cara de débil
mental,
Pregando a
enganação
Da Igreja
Universal.
Ou será que é outra
igreja dessas?
Ah, não faz mal.
Igreja de enganar
Otário é tudo
igual!”. (Gabriel, O Pensador)
Crente
rico é um hipócrita
Não
acredita e nem confessa.
Crente
pobre é um idiota
Que se
engana com promessa.
Para
viver nessa realidade
Cheia
de ódio e de maldade,
Só o
dinheiro é que interessa
Não sou nenhum
mercenário,
Sou apenas um
realista.
Já me fizeram de
otário,
Tentaram tapar
minha vista...
Lamento essa minha
arrogância,
Mas de crente quero
distância;
Estão fora da minha
lista!
Voltando
ao ponto inicial
Um
emprego é uma conquista,
Ralando
aqui só me dei mal
E eu
que era tão otimista...
Agora é
meter a firma no pau,
Descolar
uma grana legal
E
procurar um bom analista.
Mais uma vítima da
Água Pura
E que ainda não
recobrou o tom,
Testemunha viva
dessa loucura
Das cansativas idas
ao Leblon.
Um sobrevivente,
herói e poeta,
Que decidiu cair
fora na hora certa,
Pois ainda sabe o
que é bom.
É
natural que o cansaço
Tenha
tomado conta de mim,
O meu
corpo é só inchaço,
Um
sofrimento que não tem fim.
Agora
só restou-me o bagaço,
O selim
arrancou meu cabaço
E vou
levando a vida assim.
Foram mais de
33.000
As águas que eu
entreguei,
Cada cliente, puta
que pariu!
Velha chata,
maluco, até gay.
Mas também muita
gente boa
Inclusive, algumas
“coroas”
Com as quais eu
namorei.
Neste
depósito da Água Pura
Baixa
toda corja de gente:
O
nanico, de baixa estatura,
Alto, forte e até deficiente.
Sem
falar nos tipos imundos:
Ladrão,
traficante, vagabundo...
A
escória está toda presente!
Tudo quanto é
cafajeste,
Mas também muito
coitado,
Reprovado em
qualquer teste
Ou pela vida
abandonado.
Gente que vive na sarjeta
E que vem atrás da
gorjeta;
Às vezes sai
decepcionado.
Eu
levaria meu tempo todo
Falando
deste lugar estranho,
Não
quero aprofundar nesse lodo
Senão
daqui a pouco eu apanho.
Mas
quero apenas ressaltar,
A saúde
vem em primeiro lugar;
Esse é
o nosso maior ganho.
A minha única
ligação
Com esta empresa
fodida,
É por conta da
situação
Desta loja estar
quase falida.
E para aumentar o
meu stress
Sequer pagam o
FGTS,
Um atraso para a
minha vida.
Ainda
que eu quisesse
Já não
dava mais para “ralar”.
Quem
sente dor não esquece
E nem
dá para ignorar.
É a
coluna dolorida,
A saúde
comprometida;
É o
cúmulo do azar!
Um homem que nunca
mente,
Às vezes, pode
levar um tempão
Para provar que
está doente
E sem a menor
condição,
De atender
imediatamente
À exigência de um
cliente
E em seguida à do
patrão.
Só
quero agora me curar,
Dor nas
costas não é moleza.
Nunca
mais volto a trabalhar
E a
enfrentar essa dureza.
Serviço
bom para mim, talvez,
Só
trabalhando metade do mês,
E não
sofrendo nessa tristeza.
Estou pensando em
me “encostar”,
Dar entrada na
aposentadoria,
Tirar o meu tempo
para viajar,
Esquecer de vez
essa agonia.
Lá na Paraíba, eu
posso apostar,
Nunca mais vou
querer lembrar
Que fui entregador
algum dia.
RIO, 01/NOVEMBRO/2006
Continua...
Eita que resenha! kkkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirINTERESSANTE!!!
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