ANALISANDO O GÊNERO RESENHA
O escritor José Marques de Melo procurou definir,
de forma bastante relevante, a resenha, um gênero jornalístico que corresponde
a uma apreciação das obras de arte ou dos produtos culturais, com o objetivo de
orientar as escolhas e ações dos consumidores de arte. É um termo que ainda não
se generalizou no Brasil, onde persiste o emprego das palavras Crítica, significando as unidades
jornalísticas que cumprem tal função e Crítico
para designar quem as elabora.
Entretanto, Afrânio Coutinho, em referência ao
universo literário, procura ressaltar a diferença entre a crítica e a resenha.
Segundo ele, a resenha, outrora denominada de rodapé literário, é uma atividade
própria do jornalismo e se caracteriza por ser um “comentário breve”, ficando
“à margem” de uma obra ou saindo do “a propósito”. Já a crítica, ainda segundo
Afrânio Coutinho, “exige métodos e critérios que tornam o seu resultado
incompatível com o exercício periódico e regular em jornal... que é informação,
ocasional e leve”.
A resenha configura-se,
pois, como um gênero jornalístico destinado a orientar o público na escolha dos
produtos culturais em circulação no mercado. Não tem a intenção de oferecer um
julgamento estético de uma obra, mas de fazer uma apreciação ligeira da mesma.
Trata-se de uma atividade eminentemente utilitária e, segundo Todd Hunt, “informa”, proporcionando
conhecimento sobre o que está em circulação no mercado cultural e sobre a
natureza e a qualidade das obras comercializadas, a exemplo do cinema mundial.
De acordo com Fraser Bond, a resenha possui quatro
modalidades: clássica, relatorial, panorâmica e impressionista. Todd Hunt, porém, afirma a existência de
apenas duas: a autoritária e a impressionista. A classificação de Fraser Bond
fundamenta-se no método de apreciação utilizado pelo crítico.
Encarando com grande
rigor o que se produz no país como “crítica”, Afrânio Coutinho diz se tratar de
uma atividade muitas vezes exercida por pessoas sem qualquer qualificação,
predominando o “puro achismo”. Profissionais frustrados que buscaram abrigo nos
meios de comunicação para criticar aqueles que obtiveram êxito na produção
cultural. São capazes de glorificar ou de destruir uma imagem, convertendo-se
automaticamente em juízes.
Como afirmou certa vez o
comentarista Paulo Francis: - No Brasil é difícil haver “boas resenhas”. Ele
caracterizou as nossas resenhas como “palpites de marketing que pouco
interessam aos artistas, exceto se influem na venda do produto”. O principal
motivo disto acontecer é que todas as publicações pagam mal aos resenhadores e,
logo, se aparece alguém de nome assinando uma resenha é porque tem interesse
(positivo ou negativo) no produto. O que, de certa forma, acaba desvalorizando
a resenha. No entanto, um olho treinado distingue perfeitamente esse
“interesse”.
Por fim, a resenha não mais se
limita ao jornal diário, às revistas semanais, tendo hoje uma presença relativa
no rádio e na televisão, aonde vem sendo desenvolvida nos programas voltados
para a informação cultural.
Paulo A. Vieira
Muito bom Paulo! Concordo, texto bastante esclarecedor.
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