O PRECONCEITO GERADO PELOS OLHOS DA IGNORÂNCIA

       Não sei até que ponto essa história pode ser verídica, um fato que possivelmente ocorrera há muitos anos atrás aqui no Nordeste. Desde jovem lembro-me de ouvir essa narrativa, que não deixa de ser cômica se, por outro lado, não fosse tão constrangedora. É mais ou menos assim:

       Um grupo de estudantes universitários da rede pública do Estado da Paraíba saiu em excursão para a Bahia, onde todos foram vestidos e devidamente padronizados com camisas que traziam estampadas a bandeira do Estado, com suas cores preta e vermelha, trazendo ainda a palavra NEGO em letras brancas. Como sabemos, essa foi a frase pronunciada por João Pessoa, governador da Paraíba (1928-1930) e que, à época, rompeu com o governo federal ao rejeitar a candidatura de Júlio Prestes para a presidência da república.

       Ao serem recepcionados na rodoviária de Salvador, os estudantes foram logo hostilizados por vários baianos um pouco desinformados. O problema estava exatamente na palavra escrita na camisa, NEGO (que é a conjugação do verbo "negar" no presente do indicativo), algo que, a princípio, foi visto com olhares tortos. Logo se espalhou um boato de que os estudantes paraibanos tinham vindo ali com a intenção de discriminar racialmente os negros da Bahia, talvez pelo fato dos universitários serem, em sua maioria, brancos.

       A sorte foi que não demorou muito e logo apareceram alguns professores baianos que vieram ali justamente para recepcionar os jovens estudantes. E, tão logo puderam esclarecer o significado daquelas camisas para os mais “ofendidos”, os ânimos foram acalmados e todos ficaram tranquilos. Principalmente os estudantes, que mal chegaram de viagem e viram a hora serem linchados ali mesmo, na rodoviária.