Olá amigos! Em especial, a galera
raulseixista.
Em homenagem ao seu 77º ano de nascimento, apresento aqui um cordel
biográfico, um material autoral e completamente inédito, onde abordo um pouco a
vida e a arte musical de Raul Santos Seixas. Espero que gostem dessa minha
produção e pesquisa sobre o eterno Maluco Beleza. Confiram a publicação e teçam
comentários.
CAMPINA GRANDE PB, DEZEMBRO/2021
Alguns
amigos me perguntam,
Outros
até fazem queixas,
Só
porque eu nunca escrevi
Um
cordel sobre Raul Seixas.
E
eu quase sempre digo:
É
a responsabilidade, amigo,
Que
me impede e nunca deixa.
No
entanto, hoje eu resolvi
Colocar
a cabeça pra pensar.
Versejar
sobre Raul, acredito,
É
algo que eu posso realizar.
Afinal,
são trinta anos de fã,
Entrando
pela noite e manhã,
Muita
coisa poderei rimar.
Farei,
portanto, uma cronologia
Onde
precisarei de um norte
Pra
falar de seu nascimento,
De
sua vida, até a morte.
Da
ascensão ao fracasso,
Assunto
para tanto eu acho.
Desejem-me,
pois, boa sorte!
Raul
Santos Seixas veio à luz,
Quis
Deus, em solo nordestino,
Pra
essa terra poder representar
E
fazer parte de seu destino.
E,
assim, aquela criança nascia,
28
de junho de 1945, na Bahia,
Um
alegre e saudável menino.
Foi
o ano da bomba atômica,
Algo
que Raul sempre lembrava.
Nascido
na capital, Salvador,
Em
uma família bem amparada,
Sendo
os seus pais verdadeiros
Raul
Varella Seixas, engenheiro,
E
Maria Eugênia, dona de casa.
O
seu irmão mais novo, Plínio,
Era
o companheiro de aventuras.
Quando
crianças, aprontavam todas,
Fazendo
todo tipo de diabruras.
Raul
desenhava histórias criadas,
Ficando
com parte da mesada
Do
seu irmãozinho caçula.
Cresceu
próximo um consulado,
Seus
amigos eram americanos.
Ficou
fluente em língua inglesa,
O
que servira pros seus planos.
Ágil,
ouvia de tudo, lia bastante,
Devorava
os livros na estante,
Evoluindo
em poucos anos.
Menino
precoce, aprendia rápido
O que
outros diferiam bem mais,
Absorvendo
culturas e línguas,
Tudo
sozinho, sem apoio dos pais.
A
escola não atraía sua atenção,
E
após ganhar seu primeiro violão,
Desde
cedo, já seguia seus ideais.
Fã
de Elvis de carteirinha,
Até
fã clube já havia fundado
Com
o amigo Waldir Serrão,
Sempre
presente do seu lado.
Mascava
chiclete, erguia a gola,
A
essa altura, falhava na escola,
Tendo
parcialmente abandonado.
Raul
Seixas, também Raulzito,
Apelido
da infância e juventude,
Cabulava
aulas para ouvir Rock;
Era
uma rebeldia essa sua atitude.
Adeus,
faculdade! Queria ser cantor,
Final
dos anos 1950, em Salvador,
Época
de pudor e de virtude.
Além
de música, amava cinema,
Aos
clássicos da época assistia.
E
lá no Cantinho da Música,
Uma
lojinha de discos que havia,
Raulzito
passava tardes inteiras
Ouvindo
a cultura estrangeira;
Do
mundo quase se esquecia.
Entre
os artistas que ele ouvia,
Elvis
Plesley, o seu ídolo maior.
Escutava
ainda Jerry Lee Lewis,
Chuck
Berry, Little Richard e não só.
Luiz
Gonzaga, nem se comenta...
The
Beatles, na década de 1960,
Inspirando-o
a compor melhor.
As
paixões na sua adolescência
Eram
música, literatura e cinema.
Planejava
ser um ator ou escritor.
Sonhar
demais era o seu problema.
No
Cine Roma, a muito filme assistia.
Segundo
consta, até roteiro escrevia,
Para
tudo, elaborava um esquema.
Arquivava
depois esse material,
Jogava
tudo dentro de um baú.
Não
era assim, muito organizado,
Aquele
jovem e adolescente Raul.
A
música em seu sangue pulsava,
E
o seu destino ali já traçava
A
via crúcis que faria no sul.
Não
demorou muito e Raulzito
Fundou
o primeiro grupo musical.
Eram
os Relâmpagos do Rock.
No
início, um tanto instrumental.
Veio
o The Panthers e depois já era
Chamado
de Raulzito e os Panteras,
Banda
que se tornou Profissional.
Em
1968 sai o primeiro disco.
Infelizmente,
não vendeu nada.
Não
acertaram no repertório,
Ficando
a banda ultrapassada.
Separando
agora o trigo do joio,
Foram
tocar como banda de apoio.
Depois
encerrando sua jornada.
Algumas
músicas desse álbum
São
verdadeiras obras primas.
Porém,
não atraíram o mercado
Que
era exigente e, ainda por cima,
Época
da Jovem Guarda, Bossa Nova.
Suas
canções não passaram na prova,
Brincadeiras,
Menina de Amaralina...
Antes
disso, ainda em 1964,
O
The Panthers, não me engano,
Formado
por Raulzito, Carleba,
Carlos
Eládio Gil-Braz e Mariano,
Gravaram
um compacto resumido.
As
canções Nanny e Coração Partido
Jamais
foram lançadas, por anos.
A
convite de Jerry Adriani,
Raul
volta pro Rio de Janeiro.
Tornou-se
um produtor musical,
Produzindo
discos de terceiros.
Artistas
que alcançaram fama,
Odair
José, Leno, Lilian, Diana...
Além
de compor o tempo inteiro.
Dentre
essas composições épicas,
Algumas
vieram a se destacar.
Ainda
Queima a Esperança, Diana,
Bela
canção que ela veio a gravar.
Doce
Doce Amor, de Jerry Adriani,
Se
Ainda Existe Amor, não se engane,
Gravada
pelo grande Balthazar.
Após
dois anos na antiga CBS,
Aproveitou
viagem do presidente
E
com outros parceiros (reza a lenda)
Gravaram
um disco independente.
Sociedade
da Grã Ordem Kavernista,
Álbum
icônico de quatro artistas,
Uma
obra totalmente diferente.
Ligeiramente
retirado das lojas,
Outro
disco que não vendeu nada.
E
assim Raulzito, Sergio Sampaio,
Edy
Star e a Miriam Batucada,
Devido
àquela grande ousadia,
Foram
cantar em outra freguesia,
Deixando
a passagem carimbada.
Em
1972, participou do VII FIC,
Festival
Internacional da Canção.
Defendendo
o seu “Let me Sing”,
Conquistou
a terceira colocação.
Isso
abriu as portas para o artista
Que
enxergava, a perder de vista,
Alcançar
a fama e a consagração.
Mas,
deixando de lado o artista,
Falando
de Raul como pessoa,
Ele
fora um ser humano incrível,
Bom
pai, amoroso, uma alma boa.
Às
vezes, pra família ficava difícil
Ter
que conviver com seus vícios,
Onde
recomendações eram à toa.
Raul
viveu com cinco mulheres,
Algumas
amou sua vida inteira.
Teve
Edith, Glória, Tânia, Ângela
E
Lena, sua última companheira.
Um
pai solitário de três filhas,
A
Simone, a Scarlet e a Vivian,
De
mães americanas e brasileira.
Nos
anos de 1980, com frequência,
Raul
dava entrada em hospitais.
Conforme
o alcoolismo aumentava,
Seu
corpo demonstrava os sinais.
Frágil
e forte ao mesmo tempo,
Raul
tinha pressa e um só intento:
Deixar
no mundo as suas digitais.
Sonhava
ser um grande escritor,
Um
sonho que nunca foi realizado.
Escrever
o dia todo, camisa aberta...
Igual
seu conterrâneo, Jorge Amado.
Mas
foi através da música que Raul
Transmitiu
seu recado, de norte a sul,
Surtindo
assim, melhor resultado.
Um
misto de filósofo e profeta,
Raul
Seixas era muito inteligente.
Um
artista, de fato, muito antenado,
Enxergando
sempre à sua frente.
No
entanto, perdia-se em atitudes,
Descuidando
até da própria saúde,
Assunto,
para ele, pouco atraente.
E
foi assim que o nosso herói,
Sempre
fiel ao seu próprio apelo,
Em
1973, lançou Krig-há, Bandolo!
Após
ter conhecido Paulo Coelho.
O
disco que o lançou ao sucesso,
Ouro
de Tolo lhe rendeu tal acesso,
Gravar
pela Philips, grande selo.
Antes
de lançar Krig-há, Bandolo!
Raul
teve uma ideia interessante.
Organizou,
então, uma passeata,
Divulgando
seu hit mais marcante.
Pelo
centro do Rio fez aglomeração
Tocando
Ouro de Tolo no violão,
Causando
impressão relevante.
Em
parceria com Paulo Coelho,
Hoje
em dia, um renomado escritor,
Raul
lançou álbuns memoráveis
E
na música nacional se consagrou.
Gita,
disco (de ouro) que vendeu mais,
Novo
Aeon, Há dez mil anos atrás...
E
o dia em que a Terra parou.
Este
último, com Cláudio Roberto,
Outro
grande parceiro e compositor.
Além
da faixa título, um sucesso,
Outra
excelente canção se destacou:
Maluco
Beleza, das mais conhecidas;
A música
que transformou sua vida
E
como a ser chamado ele passou.
Pregando
a Sociedade Alternativa,
Foi
torturado e expulso do Brasil.
Era
apenas uma música, entretanto,
Não
foi assim que a ditadura reagiu...
Em
seus shows fazia manifestos,
Militares
encararam o seu protesto
Uma
subversão à pátria mãe gentil.
Ligado
a temas místicos, esotéricos,
Raul
e Paulo Coelho embarcaram
Nas
ideias do bruxo Aleister Crowley,
Onde
perderam mais que ganharam.
Foi
aí que o nosso roqueiro baiano,
Por
pouco, não entrou pelo cano
Com
drogas que lhe apresentaram.
Uma
época controlada pelo governo,
Onde
ninguém dizia o que pensava.
Raul
ousou manifestar-se contra,
A
Sociedade Alternativa que falava.
A
“Cidade das Estrelas”, a anarquia
Não
passava de uma grande utopia,
Um
sonho que nem Raul acreditava.
Ao
final da década de 1970
Gravou
discos que poucos cobram.
Em
1978, lançou Mata Virgem e,
1979,
Por Quem Os Sinos Dobram.
Em
1980 deu a volta por cima,
Abre-te
Sésamo, hits que animam
E
nas prateleiras nunca sobram.
Um
pioneiro do Rock Brasil,
Em
vários gêneros ele gravou.
Cantou
Tango, Bolero e Baladas,
Até
Rock com Baião Raul misturou.
Revolucionou
a música brasileira,
Embora
achasse isso uma “besteira”,
Como
em tantos shows declarou.
Raul
compôs com vários parceiros,
Os
principais, devo aqui destacar.
Paulo
Coelho e Cláudio Roberto,
Os
mais importantes a se lembrar.
Com
cada mulher, acreditem ou não,
Raul
tem uma ou outra composição;
Até
de seu pai chegou a gravar.
Durante
a década de 1980
Colecionou
sucessos e fracassos,
Gravando
alguns discos bacanas,
Cometendo
um ou outro embaraço.
Sobretudo,
em shows, fazia besteiras,
Sendo
até confundido em Caieiras (SP)
Com
um sósia invadindo seu espaço.
Agora
imaginem essa situação:
Raul
preso, indo pra delegacia,
Foi
confundido com ele mesmo
Por
um delegado que lhe batia.
Foi
vexame, um constrangimento,
Por
não andar com documentos,
Descobriu
o que um artista valia.
Isso
era um motivo suficiente
Pra
ele mergulhar em depressão.
Bebia
e se drogava sem limite
Até
seu corpo chegar à exaustão.
Vivia
decepcionado com a vida,
Refugiando-se
na droga, na bebida,
Transformando
seus dias em ilusão.
E,
apesar de tantos problemas,
No
tocante à sua vida particular,
Fica
difícil separar Raul Seixas
Do
artista que ele soube cultivar.
Compositor,
instrumentista e poeta,
Um
cantor de capacidade repleta,
Tinha
realmente o que mostrar.
Registrando
seus últimos álbuns
(após
Abre-te Sésamo), o disco da vez
Foi
intitulado apenas de Raul Seixas,
Um
LP conhecido, gravado em 1983.
Disco
de ouro com Carimbador Maluco,
“Música
infantil”
que
lhe rendeu lucro;
Até
um especial na Globo ele fez.
No
ano seguinte, Metrô Linha 743
(lembrando
somente disco oficial),
Um
álbum todo em preto e branco,
Com
algumas novidades, por sinal.
1985,
1986... não gravou disco algum,
1987,
Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!
Um
retorno de forma magistral.
Esse
álbum foi um grande sucesso,
Na
língua nordestina, um “estouro”.
Trazendo
o hit Cowboy fora da lei
Que
lhe rendeu outro disco de ouro.
E,
apesar de sua saúde debilitada,
Raul
ainda colocava o pé na estrada,
Como
fez um dia com Ouro de Tolo.
Em 1988, A Pedra do Gênesis,
Este que fora o seu penúltimo LP.
Um
disco gravado no peito e na raça,
Onde
seus fãs puderam perceber
Toda
a fragilidade do cantor.
Já
sem voz, esvaindo-se em dor,
Ainda
assim, não parava de beber.
Na
companhia de Marcelo Nova,
Com
quem até já havia gravado,
Realizou
uma turnê pelo Brasil,
Havendo
cinquenta shows realizado.
Foi,
de certa forma, uma despedida,
Quando
Raul lançou ainda em vida
Seu
último LP, A Panela do Diabo.
Uma
parceria que gerou frutos,
Marcelo
virou psicólogo (sem divã),
Guiando
Raul nos últimos momentos,
Plantando
a semente do amanhã.
Visto
por alguns como aproveitador,
Guiou
Raul na alegria e na dor,
Exercendo
papel de discípulo e fã.
Raul
Seixas e Marcelo Nova
Na
mesma “panela” cozinhavam.
Era
o que crentes e evangélicos
A
respeito da dupla comentavam.
Inclusive,
o nome desse último disco
Foram
eles que deram, acredito,
Pelo
que tanto sugestionavam.
Um
álbum polêmico que, no final,
O quarto
disco de ouro mereceu.
Lançado
em 19 de agosto de 1989,
Dois
dias depois, Raul Seixas faleceu.
Canções
inesquecíveis, frente e verso,
Século
XXI, Carpinteiro do Universo...
100
mil cópias rapidamente vendeu.
Como
diziam Raul e Marcelo,
(Taí
o troco, entendam como quiser)
“O
sucesso da minha existência
Está
ligado ao exercício da fé.
Pois,
se ela remove montanhas...
Quem
sabe, pode trazer grana
E também
um monte de mulher.”
Nascido
de uma família católica,
Pouco
demonstrava religiosidade.
Cético
e agnóstico, amava filosofia,
No
conhecimento, rebatia verdades.
Do
muito que observou e aprendeu,
Não
convém chamar Raul de ateu,
Pois
respeitava todas as divindades.
Entre
os cem maiores cantores
Do
cenário musical brasileiro,
Raul
apresenta discos e músicas
Bem
colocados em nosso cancioneiro.
É
o artista de quem mais se escreveu,
Biografias
que muita gente já leu,
Críticos
e famosos do país inteiro.
Fãs
clubes espalhados pelo Brasil,
Raul
detém marcas impressionantes.
Pai
do Rock brasileiro, virou mito.
Ouvir
“Toca Raul!” é algo constante.
E
como um fã póstumo que sou,
Ouço
Raul Seixas aonde eu vou,
Seja
Gita, Metamorfose Ambulante...
Em
agosto de 1989, veio a falecer,
Em
São Paulo, no seu apartamento.
Foi
encontrado por sua empregada.
Descansou,
enfim, do seu sofrimento.
Porém,
causando aos fãs comoção
E,
durante o velório, mais emoção.
Por
fim, na Bahia, o sepultamento.
Há
quem diga que não morreu,
Pois
ele vive em nossos corações.
Talvez
pegou algum disco voador
E
foi parar em outras dimensões.
Em
algum lugar, no nada infinito,
Flamejando
o seu Rock, o seu grito,
Liderando
e arrastando multidões.
Raul
para sempre será lembrado,
Disso
eu tenho absoluta certeza.
A
sua obra musical é um legado
De
vasto conhecimento e riqueza.
O
Raulseixismo é uma religião,
Propagando
a poesia e a canção
Do nosso eterno Maluco Beleza.
Sobre o autor:
Paulo Albino Vieira, mais conhecido por Paulo Seixas, pseudônimo que faz referência ao seu ídolo musical, Raul Seixas, nasceu no Rio de Janeiro no dia 1º de fevereiro de 1973 e, aos três anos de idade, veio com seus pais morar na cidade de Queimadas, Paraíba. Formado em Jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), antes disso, ele já desenvolvia projetos na área de literatura/poesia de cordel, uma paixão que começou desde a sua infância. Atualmente, ministra palestras sobre o tema em escolas municipais e particulares.
Rebelde, anarquista, talvez um pouco exagerado,
Assim
foi Raulzito, qual verdadeira lenda viva.
Uma
figura expressiva, baiano pra lá de arretado,
Levando à criação de uma Sociedade Alternativa.
Somada
à trajetória de seus grandes sucessos
Em
uma carreira um tanto quanto conturbada,
Incluem-se
canções antológicas e letras de protesto;
Xeque-mate
na hipocrisia das mentes acomodadas.
A
despeito, Ouro de tolo, que de simples manifesto
Simbolizou
uma década egoísta e desenfreada.
“Luar
é meu nome aos avessos, não tem fim nem começo.”
(RAUL
SEIXAS)
Parabéns pelo cordel! São várias curiosidades sobre Raulzito que eu até então, desconhecia. Obrigado portanto por me fazer conhecê-las.
ResponderExcluirParabéns,
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