Não é difícil imaginar como
seria a vida artística do roqueiro baiano Raul Seixas nos dias de hoje, caso
não tivesse pego o seu disco voador e nos deixado precocemente em agosto de 1989. Possivelmente,
seria um Caetano Veloso da vida, ou mesmo um Chico Buarque de Holanda, monstros
consagrados da MPB e que sabem por A mais B que não vale a pena produzir uma
obra maravilhosa num país onde somente o lixo musical que tem vez. Também é fato que a
boa música no Brasil vem perdendo espaço, gradativamente, virando nostalgia e até artigo
de luxo, sendo ouvida e absorvida apenas por uma minoria, a qual se pode
denominar de "resistência". Felizmente, ainda há pessoas de bom gosto neste país e com um conhecimento musical acima da média, gente que se recusa a aceitar o
padrão imposto pelas mídias, de que essas necroses musicais da atualidade sejam
a única opção no que se refere a música.
Não é de hoje que o consumo
da música no Brasil vem sendo realizado de forma meramente comercial, com
interesse apenas financeiro das mídias propagadoras e sem qualquer compromisso
com a qualidade daquilo que difundem, especialmente nas rádios. Uma vez que,
com a chegada desse novo milênio, definitivamente acabou-se a cultura, a criatividade,
a inspiração e a arte de produzir boas canções que se eternizam e até viram
referência para outros músicos. Musicalmente falando, o nosso país fica mais pobre
a cada ano que passa. E, infelizmente, não há substitutos à altura para
artistas como Raul Seixas ou Roberto Carlos, por exemplo, isso falando apenas em nível
de Brasil. Sem falar que a massa pensante vai desaparecendo na mesma proporção,
cedendo espaço para uma geração ignorante e cada vez menos exigente no critério
musical. Pra não dizer muito burra, incapaz de formar uma opinião crítica e
inteligente a respeito de qualquer coisa. Que Noé volte logo pra construir
outra arca, e dessa vez, lembre-se de salvar apenas os animais ditos
irracionais.
O próprio Raul Seixas se
deixava influenciar musicalmente e até mesmo plagiava o que houve de melhor na
música em épocas passadas. Isso sempre fez parte no mundo da música. Porém,
Raul deixou um legado musical importantíssimo e que será lembrado por muito
tempo ainda, sendo uma referência para várias gerações de músicos e ouvintes, eternizado
nas ações propagatórias de seus inúmeros fãs.
Por outro lado, a banalização atual nas composições desses
músicos geração 2000 chega a ser deprimente... melodias paupérrimas, repetitivas,
onde a maioria das letras são verdadeiros filmes pornográficos para cegos (há
exceções, sem generalizar). Mas tudo com o aval das grandes mídias, que
empurram toda essa lama nos ouvidos já condicionados da grande massa. Chega a beirar uma alienação. Isso faz
qualquer pessoa de bom senso indagar: Anitta funkeira subir no mesmo palco que
Roberto Carlos e até cantar ao seu lado, será que é realmente da vontade dele?
Ironicamente, tudo aquilo que era marginalizado nas décadas de 1950, 1960 e 1970, a exemplo de como Elvis Presley cantava, dançava e se comportava nos palcos, atualmente é o que temos e o que conhecemos de melhor na música. Mas isso se explica da seguinte forma: A ignorância musical que se vê hoje é exatamente o contrário daquilo que se via antigamente. Antes havia preconceito e sobrava em qualidade. Hoje praticamente não existe mais qualidade e o que é pior: não se pode tocar muito no assunto, para não gerar preconceito. Portanto, pode-se chegar à seguinte conclusão: é bastante improvável que a bregadeira funk de hoje e "cantores" como Anitta, Ludmila e companhia, reconhecidamente um lixo musical pra ser ignorado e descartado, vão ser algo pra ser avaliado como positivo no futuro. Caso isso aconteça, aí sim, com certeza, Noé vai ter chegado atrasado...
Paulo Seixas, 13/04/2023
Raul é eterno. Suas músicas são verdadeiras obras primas.
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