Há vinte anos escrevi este cordel nada sadio falando sobre alguns problemas políticos e sociais de Queimadas, um folheto cujo conteúdo até procurei esconder dos amigos tempos depois. Mas, afinal, esconder por quê? Tudo bem que eu já não defendo essa postura mais radical, essa revolta de tudo e de todos, assumindo a posição, inclusive, de um ateu que desrespeitava as religiões e seus adeptos. Foi apenas uma fase rebelde da minha vida... Enfim, trago aqui pra vocês este material corrigido apenas na parte ortográfico/gramatical e com alguns nomes poupados, uma vez que as verdades em meio às brincadeiras aqui contidas continuam bem atuais.
FDP³ Produções apresenta: A SOLUÇÃO DE QUEIMADAS (Definitiva)
Meu primeiro folheto de cordel, de 1997
Uma proposta viável, talvez até duas, visando o desenvolvimento
do lugar. (Ah, ah!)
Esta cidade de Queimadas
Nem Jesus consegue dar jeito.
Aqui nunca
acontece nada
E nestes versos
aproveito
Pra falar dessa
adm. errada
Do nosso
excelentíssimo prefeito.
Não posso e nem
devo elogiar
Um local como este daqui,
Onde não tem sequer um lugar
Para o povão se divertir.
E o seu............ só faz conversar,
Falar besteiras e mentir.
Já está mais do
que na hora
De alguém parar para
pensar,
Que nossa cidade
precisa agora
É de mais gente
pra trabalhar.
Mesmo sabendo que
embora
Por todo este
município afora
Muitos recebem
sem se justificar.
Nossa cidade tá
precisando
É de mais áreas
de lazer,
Pois chega o fim
de semana
E não há nada pra
se fazer.
Sábado à noite e
domingo
É mesmo de
entristecer.
Se este lugar tiver de crescer
Será mesmo na base do empurrão,
Pois para uma cidade engrandecer
É necessário um prefeito ter
Coragem, pulso firme e ação.
Como é que eu
posso gostar
De alguma forma
desta cidade,
Se não há uma
praça, um lugar
Que possa servir
à comunidade?!
Nesta porcaria de
cidade
Um hospital
sequer não tem,
Há uma velha
maternidade
E que, na
verdade,
Não serve a ninguém.
Queimadas não tem
conserto,
Quem dera uma
real solução.
Mas volto a falar
a respeito
Daqueles terrenos
em doação,
Os mesmos que a
Prefeitura
Estava cedendo ao povão.
.........., o nosso ex-prefeito
Pisou na bola e agiu mal
Misturou política no meio,
Favorecimentos, coisa e tal,
Tendo que se explicar direito
Indo até parar no hospital.
Ele bem que
tentou se defender
Daquele seu ato
tão infeliz,
Do qual foi
vítima e inocente
- Isso é o que
ele ainda diz.
E quem quiser
terra ou semente
Que vá pedir ao senhor juiz.
Pois terra é para
quem precisa,
Não pra quem já tem
onde morar,
E a vez é dos mais
humildes
Que não têm onde
se abrigar.
Por enquanto os
que ganharam
Só pensam em
vender e alugar.
Sobretudo alguns funcionários
Que trabalham na Prefeitura,
Esses já ganharam terrenos,
Os melhores a essa altura.
Deixando a pobreza na mão
E por debaixo da fartura.
Tem funcionário
no poder
Que sobre ele eu digo
até,
Se hoje em dia
anda de carro
É porque já andou
muito a pé,
Descontando em
cima de todos
O seu egoísmo e a
sua falta de fé.
É, a história
desses terrenos
Não ficou muito
bem explicada,
Não houve uma satisfação
amena
E eu sequer
consegui foi nada.
Um pedaço de
terra, pelo menos,
Para erguer num
espaço pleno
Um puteiro aqui em Queimadas.
Só ficaram enrolando o assunto
E contornando toda situação,
Mas o que eu queria muito
Que era uma boa explicação,
Talvez eu vá ouvir algum dia
Da própria boca de Seu........
Só fiquei com a
terra dos dedos
E nas unhas que
ainda não lavei.
Contudo, revelarei
um segredo,
Fato este que até
agora não contei.
Nada que possa
ocasionar medo,
Uma vez que eu jamais
vacilei.
É a simples falta
do que fazer
Que me obriga
assim a rimar,
Tenho muito o que
vos dizer
Pois calado não consigo
ficar,
E que tal se eu
me atrever
Tentar buscar ou
até escolher
Uma solução para este lugar?!
Eu já estou é mesmo farto
De tanta igreja que se abre,
De evangélicos, de católicos,
Protestantes, pastores, padres...
Inúmeras religiões e crendices,
Entre tantas outras idiotices
E enganações que se sabe.
Até já vi escrito
numa igreja:
“Venha aqui, pare
de sofrer!”
Isso é a mais
pura safadeza
E ninguém parece
perceber.
Somente uma
pessoa indefesa
Em tal palhaçada
pode crer.
Tem católico que
vai à missa
Durante a semana
e aos domingos,
Mas que peca pelo
ano inteiro,
Levando o tempo
só mentindo.
Falando da vida
dos outros,
Desta maneira se divertindo.
De início, minha meta não é igreja
Mas nem por isso eu tiro sarro,
Não chega a ser problema meu
Que cada Pastor tenha seu carro
À custa de seus pobres “irmãos”;
Nesse ponto eu até me amarro...
Quem tem muito
não se conforma
Quer sempre mais, pensem nisso.
Às vezes eu paro
para pensar
E nesse ponto
mesmo insisto:
De que valeu o
ensinamento
E todo o amor de Jesus Cristo?
Por isso não
quero juntar-se
A ninguém, e nem
preciso,
Eu sou feliz
desta maneira
Digo isto neste
improviso.
E peço atenção
redobrada
Para um
importante aviso:
Venderei, enfim, a alma ao Diabo
Para conseguir um investimento,
Vou lidar com bastante cuidado
Sei que é um negócio azarento.
Mas parece que dá resultado;
Um esforço que dá rendimento.
Só será
necessário para isso
Que eu vá numa
encruzilhada,
Assinar a esse
compromisso -
Minha alma é tudo
ou nada!
A mudança dependerá
disso;
É uma atitude considerada.
E o “tinhoso” que
não se meta
A querer vir me
passar rasteira,
Seja com sangue
ou com caneta
Assinarei sem
qualquer besteira,
Vendendo de vez a
alma ao capeta
Já que não posso vendê-la na feira.
Com o dinheiro desse “negócio”
Eu vou investir e botar fé,
Não quero ninguém como sócio
Pra instalar então um cabaré.
Só vou exigir material do nosso
Em se tratando de mulher.
Tudo quanto é “quenga”
e puta
Deste município
queimadense,
Poderão logo
entrar na disputa,
Reservando um
lugar na frente,
Transformando
assim nossa luta
Numa prática “digna e decente”.
Queimadas tá
precisando urgente
Não só de
paróquias ou de igrejas,
Mas sim de um
cabaré decente
Isso é o que todo
povo deseja,
Onde nada se
passa pela mente,
Exceto uma deliciosa safadeza.
E do jeito que há necessitado
Haverá muitos clientes ao dia,
Um espaço bem requintado
Nunca há de faltar freguesia.
Penso nos lucros e no resultado;
- É como ganhar numa loteria!
O povo aqui de
Queimadas
Que eu já sei bem
como é,
À tarde irá para as
igrejas
E de noite, toca pro
cabaré.
Provando assim a
luxúria
E toda a sua
falta de fé.
Há uma favela
aqui por perto
Conhecida por
“Boca do Boi,”
Só conhece o
lugar ao certo
Quem lá perto um
dia já foi.
Vez em quando se
vê urubu
Sobrevoando, Deus me perdoe!
Não é um lugar muito admirado
E eu nem sequer conheço bem,
Só sei que é bastante visitado
Devido às quengas que por lá tem;
Quando meu cabaré for inaugurado
Garanto que lá não vai mais ninguém.
A “Boca do Boi”
deixará de existir
Porque vai ficar
sem ninguém,
O Palhoção da
Serra, esse vai falir
E eu até já sei
disso muito bem,
Só um cabaré é
que poderá suprir
A necessidade que
esse povo tem.
Virão fregueses até
de longe
Dos sítios, vilas
e povoados,
E esses tarados
que se escondem
Em Dona “Dôra”,
atrás do mercado,
Logo mais terão
um lugar aonde
Eles possam
“foder” sossegados.
Qualquer um que me censure
Se eu não estiver com a razão,
Um lugar cheio de vagabunda
De quenga, viado e sapatão,
Onde se tem lugar para tudo
Menos pra um cabaré. E então?!
Se ninguém mais
tomar partido
Muito em breve
providenciarei isso,
Mas é melhor que
fique entendido;
- Não estou
firmando um compromisso!
Cada vez mais eu
estou convencido
Que ninguém pode
permanecer omisso.
Vou conversar com
...................
E explicar tudo
direitinho,
Eu não posso
garantir, não,
Mas ganho a velha
com jeitinho,
E ela me cede o
que ......... não deu
Para a realização
de um sonho meu,
Uma casa velha já
é o caminho.
Mas não adianta só conversar,
O “projeto” é viável e verdadeiro
Alguém haverá de se mobilizar
Pois não conseguindo o dinheiro,
Este sonho não pode acabar
Pra alegria desse povo inteiro,
Um cabaré ainda hei de instalar
Nem que pra isso eu morra primeiro.
Nesse sentido eu
penso diferente
Dessa maioria tão
infeliz,
Que se dizem tão
inocentes
Mas apenas o
Diabo é quem diz.
Xingam-me de
louco e não sabem
Que ser louco é que me torna feliz.
E por falar em
loucura
Essa “virtude”
maravilhosa que é,
Eu agora já ando
pensando,
Em outro plano
considerando
E refletindo
muito até.
Possa ser que um
financiamento
Com o Diabo dê no
pé.
Mas como nunca
perco a fé
Arrendarei então
um terreno,
Nem que pra isso
eu fique devendo
Vou construir nele o cabaré.
Neste lugar há mesmo necessidade
De um ambiente ou coisa assim,
Insisto nisso pensando em todos
Pois não penso somente em mim.
Acredito que viver neste mundo
Foi justamente para o que vim.
Poderei talvez
com os lucros
Dessa minha
pequena empresa
(Onde nada se
fabrica
Senão uma boa
safadeza),
Mas só depois de
tudo quitado
E quando o caixa
tiver beleza,
Descolar então um
terreno maior
Pensar alto ou
até melhor
E construir uma
grande igreja.
Aí sim, farei um bom investimento
Todos nós sabemos bem disso,
Que por todo saco de cimento
Que a minha “fé” empregar nisso,
Terei logo o seu rendimento
Duplicado no compromisso.
Um compromisso de
fé
Para com os meus
caros irmãos,
De conseguir a
salvação até
Sem perda e sem
devolução.
Tomando a grana
dos “Mané”
Vendendo o
paraíso à prestação,
Eu nunca mais
andarei a pé;
Comprarei logo um
avião!
Pois como já
dizia Raul seixas
Nos altos e
baixos da maré,
“O sucesso da
minha existência
Está ligado ao
exercício da fé,
Pois se ela
remove montanhas
Também traz grana e muita mulher.”
Assim como alguns pastores
Que eu conheço muito bem,
Pregando a justiça divina
E tomando dos que nada tem,
Pregarei então minha “doutrina”;
- Na paz do Diabo digo amém!
Queimadas se
tornou um reduto
Desses “FDPS”
de gravata,
Que tem coragem
de roubar os pobres
Da maneira mais
cruel e insensata.
Cadê Deus nessa
hora, tirou férias?
Tomem-se providências imediatas.
Com uma bíblia na mão ou no sovaco
Saem por aí, difundindo
a enganação,
Aparentemente
convence, mas o fato
É que eles querem
mesmo é pôr a mão
No dinheiro e no
patrimônio do fraco,
Que entrega tudo sem dizer não.
Mas é do otário que vive o malandro
Assim diz um ditado popular,
E o que tem de filha da puta roubando
Aqui não daria para contar.
Melhor é continuar imaginando
O que eu direi ao sair “pregando”,
E o que farei ao começar a “rezar”.
Vou fazer uma
revolução
No infinito universo
religioso,
Mesclando várias
religiões
Em um culto esplendoroso.
Regado à luxúria
e consumo,
Em vez de hóstia,
só uísque e fumo;
Será um banquete
maravilhoso!
Realizarei ainda
toda semana
Uma celebração
divina,
Onde darei às
velhas o pão
Com uma dose de
Estricnina,
E ensinarei o
“ABC” da igreja
Só para as moças
e meninas.
Não que eu seja um ateu
Eu acredito em tudo o mais,
Acredito que exista Deus,
O Demônio, o Satanás...
E cuidado com Zé Pilintra
Ele pode te catar por trás!
Seria bom se todo
esse povo,
Eu, você, ele...
qualquer um,
Nunca rogasse ao
Deus-Poderoso
Pois nós temos
algo em comum;
Somos uma raça impura até na voz
E cada qual que se diga ofendido;
Se Jesus Cristo morreu mesmo por nós
Ainda hoje deve tá arrependido.
QUEIMADAS,
DEZEMBRO/1997.
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