terça-feira, 8 de maio de 2012

MINHAS MEMÓRIAS - CAP. 5 - FINAL

CAPÍTULO 5
A ERA DO REI DAS FRUTAS – PARTE III - FINAL

Em 1994 eu, aos 21 anos de idade, depois de haver raspado a cabeça (mas com a frustração de quem nunca fizera, até então, um vestibular), deixei o cabelo crescer por quase dois anos. O meu visual cabeludo dessa época (94/96), aliado à minha fama de maluco e de um ateu inveterado, culminava na mais absoluta provocação àqueles que não entendiam o meu jeito diferente (do jeito deles) de ser e de agir. Um cara do bem, um adepto e seguidor da ideologia “Raulseixística”, com uma filosofia de vida e um princípio muito simples: de fazer tudo aquilo que quero, pois é tudo da lei...
       A maior consequência disto, sem dúvida alguma, era a escassez de mulheres na minha vida. Nenhuma garota que eu imaginasse como uma provável candidata a ocupar uma vaga, há muito vazia no meu coração, iria querer namorar um cara que tinha fama de doido (a qual se justificava pelos meus atos). E com uma barba que mais parecia um “pai de chiqueiro”, apelido este colocado pelo meu amigo “Pepinha” (in memorian), que só se referia a mim da seguinte maneira: - “Béééé...”
O Klepson zoava-me que não era brincadeira. Sinto muita falta de suas “inventações” e de todas as suas “presepadas”, consequentemente. Mas nada comparado às minhas, é óbvio.
Sem falar naqueles dias em que eu me rebelava com a água e ficava, às vezes, mais de uma semana sem tomar banho e sem qualquer tipo de contato com a “coisa molhada” (o difícil era tentar esconder essa “atitude hippie” da minha mãe). O meu recorde, no entanto, foi de 12 dias, mas isso é um segredo que eu certamente irei levar para o túmulo.
Não foi à toa que eu saí quase “invicto” daqui da Paraíba, com pouca intimidade com o sexo oposto (até então, só havia dado dois “tapinhas na rachada”, o primeiro aos 23 anos). Toda garota que se aproximava de mim (mesmo eu estando com o banho e a barba em dia) só queria perguntar-me sobre cadernos, pedir-me algo emprestado ou talvez, até fazer-me de otário, usando-me como passatempo enquanto não avistava o seu pretendente ou alguém mais interessante com quem pudesse falar (raríssimas exceções).
Eu nunca ouvi, pelo menos ao que me consta, da boca de nenhuma “infeliz”, aquelas três palavrinhas mágicas e que fazem toda a diferença na vida de um homem. Um EU TE AMO, a essa altura dos acontecimentos, poderia ter mudado o rumo dessa minha vida. Mas isso seguramente sempre foi algo impossível de acontecer para uma criatura “inapaixonável” como eu, um sujeito preponderantemente incorrespondível, em se tratando de sentimentos. E nunca foi por falta de iniciativa própria, do tipo “correr atrás” ou “atirar para tudo que é lado”.
Ainda assim, apesar dos pesares, lembro-me que nessa época havia duas garotas em Queimadas as quais, devido suas atitudes para comigo, me marcaram profundamente. Uma delas, inclusive, não podia me ver (ela era cega), e a outra, vivia correndo atrás de mim (com pedras para arrebentar-me). Isso seria cômico se não fosse trágico, situações efetivamente corriqueiras nessa minha vida de fracassos e frustrações amorosas.
Devo lembrar, como exceção, um inimaginável romance de férias que tive com uma prima do Rio, quando estive lá pela primeira vez, em 1997. Mas isso foi algo que procuramos esconder de todos, uma atitude que certamente não partiu de mim. Aquele mês de julho definitivamente passou muito rápido, e eu não tive tempo de assimilar ao certo o que aconteceu.
Entretanto, aos 25 anos de idade, enfim, conheci uma loirinha que me fez mudar em muita coisa. Nara Aline, a minha primeira namorada. Por ela eu cheguei, até mesmo, a estudar durante algum tempo no colégio “Ernestão”, à noite, mesmo com um certificado de 2º grau concluído. Era só um pretexto para acompanhá-la até a escola (e poder vigiá-la melhor). Eu saía da classe do 3º ano científico, onde havia me matriculado, e ia assistir aula com a turma da 8ª série, onde ela estudava.
O problema é que eu gostava mais da Nara do que ela propriamente de mim. E, por não ter havido uma reciprocidade maior, o nosso romance não durou mais do que três meses. Por fim, como costumo dizer, eu a ganhei chorando e a perdi chorando, para alegria daqueles que torciam contra esse namoro. O meu “Exército de um homem só” desistira de lutar.
Isso me faz lembrar, agora, a Copa do Mundo de 98 (esta data será sempre uma referência), quando o Brasil foi desclassificado pela França, na final, e eu fui parar no meio da rua chorando, enrolado numa bandeira. As minhas lágrimas, no entanto, não eram exatamente para a nossa Seleção. Foi nesse bendito dia em que a Nara acabou comigo literalmente, e eu só aproveitei a oportunidade para disfarçar o que estava sentindo. Dramático? Sentimental demais? Sempre fui um babaca mesmo, e com B maiúsculo.
Somente 10 anos depois viria a conhecer Vilma (é isso mesmo, dez anos, o tempo que necessito para encontrar uma nova garota), aquela que seria, então, a minha segunda namorada, e que o “destino”, durante esse intervalo de tempo, ainda estava me reservando. Sobre ela, falarei um pouco depois, precisamente no penúltimo capítulo.
Durante essa época, e para minha sorte, eu já estava mesmo de partida para o Rio. Portanto, aproveitei para deixar registrado num daqueles folhetos que escrevi sobre Queimadas esse meu breve contato com a Nara, em forma de dedicatória. Hoje em dia somos amigos (apesar do quanto já brigamos), e alegro-me ao poder revê-la. Adoro suas filhas, Nayara e Íris.
Entre desilusões, inúmeros “nãos”, diversos “foras” e outros tantos “bolos”, creio que sempre fui uma vítima em potencial disso tudo. Mas, quando cheguei ao Rio de Janeiro e tão logo perdi a minha inocência e aquele jeitão de bobo, procurei descontar todo esse tempo perdido, frequentando lugares que eu até então só conhecia de “ouvir falar”, verdadeiros submundos da prostituição. Porém, isso é uma outra história.
Contudo, apesar de tantos agitos e de tantas molecagens no currículo, ainda assim eu era considerado um cidadão, um homem de bem do lugar e nem sabia. Para todos os efeitos, não havia nada que me desabonasse ou que se opusesse ao meu caráter.
Oportunamente cheguei a ser convocado para compor o quadro de jurados no fórum judicial de nossa comarca, ficando entre os 21 membros requisitados, uma avaliação que tive de positiva perante os “homens da Lei”. Mas isso, acredito, era devido à influência positiva que o meu pai exercia no lugar, sendo ele, portanto, o verdadeiro cidadão nessa história. Quanto ao que veio depois, eu realmente não sei, pois não compareci ao “convite” da audiência marcada. Não foi uma irresponsabilidade da minha parte, foi uma recusa mesmo. E o meu velho ainda pagou uma multa.


Antigo cartão do Rei das Frutas

A essa altura O Rei das Frutas já não caminhava bem das pernas e já dava sinais óbvios de que não podia mais sustentar a coroa, comportando dívidas que já ultrapassavam o limite do possível. Até que, em meados de 1998, depois de haver se envolvido com quase todos os agiotas locais e de ter liquidado com todo o patrimônio da família, comprometendo o seu crédito e até a sua honra, meu pai jogou tudo para o alto e foi embora para o Rio de Janeiro, acabando de vez com uma era de felicidade e prosperidade. Foram-se os anéis e só ficaram os dedos, nada mais.

3 comentários:

  1. Amigo Paulo - seus textos são aulas. EScrever bem assim não e dádiva pra qualquer um. Em breve um livro - estamos no aguardo! Um abraço de seu amigo Quiel.

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  2. Olá Paulo, obrigado por visitar os meus blogs e pela mensagem de opoio.
    Estou lendo o seu contos o Rei das fruta e gostei muito.
    E quanto as pergunta que me fez, eu vou escrevendo postando de madrugada, pois trabalho numa empresa francesa. Saint Gobain.
    Quanto ao que mais gosto dos blogs, gosto de todos, cada um revela um pouco dos meus sonhos e desejos.
    Obrigado mais uma vez, e bom dia.

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  3. Nossa. E se eu te contar que tenho um cartão de visitas do "O REI DAS FRUTAS" guardado até hoje???

    Excelente postagem...

    Abraços... Carlos Eduardo Lopes

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