RESENHA CRÍTICA DO LONGA - FAROESTE CABOCLO

  FAROESTE CABOCLO - A SAGA DE JOÃO DE SANTO CRISTO NO CINEMA

A célebre música de Renato Russo, Faroeste Caboclo, com mais de nove minutos de duração, veio, enfim, parar nas telas de cinema, uma produção da Globo Filmes com a direção do brasiliense, René Sampaio. A canção, composta por Renato em 1979, quando ele ainda fazia parte da extinta banda Aborto Elétrico, só veio a ser gravada no seu terceiro álbum, Que país é este, em 1987, já fazendo parte da discografia do grupo Legião Urbana.

Ao ser lançada, a música Faroeste Caboclo foi recebida, ainda a princípio, de forma um tanto estranha pelos fãs da banda, pois ninguém parecia entender a mensagem de Renato Russo naquela letra tão extensa. Nem mesmo as rádios da época queriam executá-la em suas programações, pelo fato dela ser considerada uma música inusitada e completamente fora dos padrões. Entretanto, pouco a pouco foi se tornando uma espécie de Cult pelos jovens dos anos 80 e das gerações seguintes, os quais procuram, até hoje, memorizá-la do início ao fim, buscando em seus versos uma total integração, tal qual se encontra na poesia de cordel. Sendo, inclusive, um convite agradável àqueles que se interessam em aprender a tocar violão.

A adaptação para o filme sofreu mudanças relevantes no roteiro, principalmente por não seguir à risca a história descrita na música. Contudo, a trama não deixou de revelar a essência da vida atribulada de João de Santo Cristo, um homem destemido e que é levado a fazer justiça com suas próprias mãos. Uma história de amor, ódio, vingança e violência, que narra os obstáculos percorridos por um nordestino negro, pobre e analfabeto que chega a Brasília, apresentando-se de imediato a um parente distante, Pablo. Por falta de opções, João acaba se tornando um traficante, ao mesmo tempo em que se apaixona por uma jovem rica, Maria Lúcia, filha de um Senador. Por vezes ele tenta deixar a vida do crime, mas acaba sendo morto por um traficante rival, Jeremias, num duelo à moda antiga. Fabrício Boliveira, Felipe Abib e Ísis Valverde interpretam, respectivamente, João de Santo Cristo, Jeremias e Maria Lúcia, personagens centrais da trama de Faroeste Caboclo.

A releitura da musica, realizada pelo diretor René Sampaio, ficou um tanto distante da obra original, fugindo de uma forma mais literal e deixando alguns fãs e admiradores de Renato Russo com certa insatisfação. Alguns acharam inaceitável, por exemplo, observar que determinados pontos cruciais da história original ficassem omitidos, dentre os quais, destaca-se a infância de João de Santo Cristo, algo que é primordial para o entendimento da obra.

Ao ser questionado sobre a direção do longa, Faroeste Caboclo, quando ainda em fase de produção, René Sampaio afirmou que “Todo mundo que ouviu a música naquela época ficava imaginando que aquela história daria um filme. Calhou que eu me tornei diretor e pude levar o projeto adiante. A ideia é fazer um filme fiel à letra do Renato”. E, para todos os efeitos, ele o fez. 
        Faroeste Caboclo é o tipo da canção que sempre se apresentou como uma proposta cinematográfica, um desafio para qualquer roteirista. Embora tenha sido realizado um trabalho cuidadoso, tornando mais realista a “via crucis” do protagonista João de Santo Cristo, o público precisa entender que se o diretor fosse mostrar com detalhes cada passo da música, o filme renderia umas quatro ou cinco horas de duração.

Referência:

Filme, Faroeste Caboclo, 2013
         Dirigido por: René Sampaio

Trabalho apresentado em cumprimento da disciplina Jornalismo Cultural, do meu (ex) Curso de Comunicação Social, em julho de 2013.

                                                        
                                                       Paulo A. Vieira