IMEMORÁVEIS
DE CERTO FUNCIONÁRIO
(ENTREGADOR)
DA
ÁGUA PURA
A SUCURSAL DO INFERNO
PARTE VIII - FINAL
O ENTREGADOR DE AÇO
Foi na falta do que
fazer
Que ontem me pus a
lembrar,
De um “peão” bom
pra valer
E a sua história eu
vou contar.
Trata-se de um
“coroa”,
Um sujeito gente
boa
Que não tem medo de
ralar.
Nunca
aqui, na Água Pura,
Houve
um caso parecido,
Um
exemplo de bravura
E de um
homem destemido.
Ele tem
mais de “quarenta”
E o
“véi” ainda aguenta
Encarar
esse suicídio.
Vai gostar de
trabalhar assim
Lá pras bandas da
“Baixada”,
Encarar esse
serviço ruim
E nunca reclamar de
nada,
Recebe de mim um
elogio:
Entregador assim,
no Rio,
Merece um patrão
camarada.
Para
encarar essa jornada
E ainda
morar tão longe,
É
preciso ter fé na parada
E uma
paciência de monge.
Preguiço
com ele não tem vez,
Só de
pensar na entrega do mês
Tem
“neguim” que até se esconde.
Todo dia, podem
acreditar,
Antes mesmo de o
sol nascer,
Ele já começa a se
levantar
E nunca falta o que
fazer.
Arruma-se, prepara
a marmita,
Escova o dente lá
na “bica”
E numa prece se põe
a dizer:
-
Senhor, muito obrigado
Por
mais este dia de ação.
À noite,
mesmo cansado,
Farei
uma outra oração.
Para
“Nossa Senhora da Caixinha”
Me
aproximar mais das velhinhas,
Mas só
as de bom coração!
E corre para pegar
o trem
Lá pelas quatro da
manhã,
Não espera por mais
ninguém,
“Voa” que nem avião
da TAM.
Antes, toma um café
com “broa”,
Dá um beijinho na
“patroa”,
Aquela que é sua
maior fã.
E
quando o galo vem cantar
Esse
“véio” já está a caminho,
Sem ter
com quem conversar,
Às
vezes, ele viaja sozinho.
E
finalmente chega à Central,
Pega um
ônibus da Real,
Já com
dois sacos de lanchinho.
E às seis horas,
sempre fiel
Ele chega em
Copacabana,
Atravessa a
Princesa Isabel,
No boteco toma uma
“cana”,
E se prepara pra
mais um dia,
Cheio de gás e
correria
Para levantar uma
grana.
Mas aí
começa uma espera
Da qual
ele não pode fugir:
Fica na
porta de sentinela
Esperando
o Mazinho abrir.
E o
tempo vai se passando,
Os
outros “peão” vão chegando,
Uns a
chorar, outros a sorrir...
Esse é o “Antônio
Virgulino”,
Um descendente de
Lampião,
Caboclo, forte,
desde menino,
Lá pelas quebradas
do Sertão.
Um paraibano macho
e valente
Que faz inveja a
muita gente,
Por sua garra e
determinação.
Quando
criança não pôde estudar,
Mas
felizmente aprendeu a ler.
Nas
entregas sabe se virar,
Nome de
rua dá pra entender.
Porém,
se vê algo diferente,
Ele
vem, pergunta pra gente;
Um
segundo não pode perder.
Ele até já deixou
de almoçar
Por uma entrega lá
no Leblon,
Como crente que
vive a pregar,
Para ele tudo
sempre está bom.
Carreto recusado
pela gente,
Para ele é como um
presente;
Seu “Toin” nunca
perde o tom!
E se
alguém se descuidar
Ele
toma a vez na moral,
Fura a
fila sem se desculpar,
Tudo na
maior cara de pau.
Seu
Antônio é mesmo um barato,
Com
aquele seu bigode de rato
E com
aquela cara de mau.
Encara um caminhão
carregado
Como se estivesse
brincando,
É forte como um boi
de arado
E tem disposição
até sobrando.
Para acompanhar
esse coroa
Tem que ter a saúde
muito boa,
Ou alguém vai sair
reclamando...
A sua
fama de olho grande
O
incomoda um pouquinho,
Pois
ele não é um muquirana
E
tampouco um cara mesquinho.
E essa
sua correria desesperada,
Além de
prejuízo, não dá em nada,
Como
puxar o saco de Mazinho.
E Seu Antônio já
aprendeu
Que o bom é ficar
na moleza,
E também já se
convenceu
Que é melhor fugir
da brabeza.
Carreto longe até o
Diabo teme,
A preferência é
ficar pelo Leme,
Tapeando com muita
esperteza.
Enfim,
vou por aqui encerrar,
Desse
testemunho não abro mão.
Só pra
esclarecer, devo lembrar:
Tudo o
que falo é de coração.
Estou
certo de que finalmente
Encontrei
um grande concorrente
Que
merece minha consideração.
RIO, 02/MARÇO/2008
AGRADECIMENTOS
A Água pura foi para mim uma espécie de
“Faculdade” no Rio de Janeiro, uma verdadeira lição de vida, um lugar onde eu realmente
aprendi muita coisa. Principalmente, a “abrir os olhos”, ficando mais esperto
diante das maldades da vida.
Brincadeiras à parte, agradeço o
“aprendizado forçado” que tive ao longo desse período (2003 a 2007), convivendo com
pessoas tão diferentes e de níveis tão desiguais, desde o simples empregado até
o alto empresário.
O trabalho em si era pesado e de certa
forma, até desumano, nunca quis me enganar. Mas serviu-me de alerta para que eu
buscasse algo de melhor na minha vida. Na verdade, ainda estou buscando.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPelo que foi mostrado aqui, esse senhor só podia mesmo ser um super homem, rsrsrsrsrs...
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