QUANDO A EVOLUÇÃO ENTRA EM CONFLITO COM A
TRADIÇÃO. O FIM DO JORNALISMO IMPRESSO?
Com o advento e uso da
internet pela imprensa para a rápida difusão e propagação de notícias, em nível
mundial, muito tem se falado no fim quase irremediável do Jornalismo impresso,
especialmente aqui no Brasil. Segundo alguns pesquisadores, como Ignácio
Ramonet, editor do histórico “Le Monde Diplomatique” e autor de alguns livros
de repercussão mundial, não é impossível que, daqui algumas décadas ou, quem
sabe, anos, possamos deixar de ter o contato físico e direto com livros, revistas
e jornais.
Para muitos, a rede
mundial de computadores é a principal responsável pela possível extinção do
jornalismo impresso. E esse tipo de afirmação sempre surge a cada vez que uma
nova mídia aparece, responsabilizando-a pelo fim da mídia anterior. Foi dessa
forma com o aparecimento do rádio em relação ao impresso, assim como da TV em
relação ao rádio. E a bola da vez agora é o fim do impresso pela internet.
Mas será que é tão conclusivo
assim o fim do impresso?
Muitas pessoas, além de terem
o jornal impresso como sua principal ferramenta de comunicação, tem também a
herança cultural de folhear o material durante o café da manhã, ou ainda, no
intervalo do trabalho ou de uma aula. É muito comum nos dias atuais vermos pessoas
que gostam de resolver as palavras cruzadas e jogos contidos nos jornais, e que,
por certo, irão sentir falta de realizar estas atividades caso o impresso venha
a ser extinto.
No entanto, há outras que
já não conseguem viver sem o uso das novas tecnologias. E usam ferramentas como
tablets, ipods, smartphones para se comunicarem ou receber algum tipo de
informação. A comodidade de se ter acesso ao conhecimento onde e quando se deseja
é um dos principais motivos para o grande aumento de leitores em portais de
notícias.
Um tema que diverge
opiniões. O professor Luís Barbosa de Aguiar, docente efetivo da Universidade
Estadual da Paraíba, UEPB, argumenta que o impresso tende a diminuir com o
aparecimento dos jornais online, mas que, apesar disso, não irá desaparecer por
completo. Segundo ele, os jornais continuarão em menor número, mas que ainda irão
instigar o interesse de seus leitores. Ele lembra também que há publicações, a
exemplo da revista Veja - uma grande
campeã de vendas entre as demais revistas impressas - que já possuem duas plataformas, disponibilizando versões online
para seus leitores virtuais.
Outra questão que faz com
que enfraqueça tanto o número de leitores de impressos é a plataforma de
leitura dos jornais, muitas vezes, com informações desnecessárias, ou que não
instiga o interesse do leitor, tornando cansativa a leitura. Enquanto que na
internet alguém pode selecionar apenas o que possa lhe interessar, excluindo
aquilo que não tem importância com grande facilidade.
De acordo com Adriana
Alves, professora do Curso de Comunicação Social da UEPB,
numa transcrição literal de suas palavras, ela afirma não fazer “futurologias”
sobre o possível fim do jornal impresso, mas que aceita discutir alguns fatores
que provocaram ou aceleraram para este tema em voga no jornalismo
contemporâneo. Segundo ela, “Sempre quando uma nova tecnologia surge, há sempre
o discurso apocalíptico de que o outro meio vai acabar. Isso ocorreu com o
rádio, TV e agora com a internet. A história, por si só mostrou, até agora, que
nenhuma mídia morreu porque outra nasceu. O que há hoje é a retroalimentação
das mídias como nos diz Castells ou uma Cultura das Mídias, como vai atestar
Lúcia Santaella, e que vem reconfigurando o jornalismo como um todo: novos
processos (o cidadão participando), novos modelos de negócio (o Jornalismo
digital, por exemplo), novas funções (gestores de mídias sociais, monitoramento
de mídias), novas rotinas produtivas, etc.
Por trás disso tudo, está
um agravamento de base econômica própria do capitalismo. Jornais fechando por,
em grande maioria, má administração interna, queda dos anunciantes, etc. O
avanço das tecnologias digitais agrava, acelera esse processo que já vem
capengando há um tempo, e põe em xeque toda a estrutura jornalística em questão. Philipe Meyer,
pesquisador americano, diz que os jornais vão desaparecer em 2040.
Particularmente, prefiro pensar como o historiador Erick Hobsbawn (1917- 2012)
de que a imprensa vive ‘tempos interessantes, tempos conflituosos e tempos de
incertezas’ ", conclui Adriana.
Para Rachel Farias,
estudante de Jornalismo da UEPB, “O fim do impresso, pelo menos, em curto
prazo, é uma hipótese sem fundamento, visto que muita gente ainda não tem o
acesso diário e contínuo da internet, tornando para estas pessoas bem mais
prático e barato ir à banca comprar um jornal”. Ela lembra também a questão da
insegurança, pois dentro de um ônibus você pode ler um jornal tranquilamente. Mas,
será que se fosse ler a partir de um tablet, por exemplo, estaria tranquilo ao
fazê-lo?
Contudo,
é importante ressaltar que vivemos em plena era digital, e a informatização já
provocou uma verdadeira revolução nos meios de comunicação. Alguns livros e
revistas, como se sabe, já são agora publicados exclusivamente pela internet,
condenando a um fim muito próximo, até por comodidade, o acesso físico de
pessoas às bibliotecas convencionais.
Há, no
entanto, aqueles que acreditam que dificilmente os impressos vão desaparecer,
principalmente devido à sua força cultural e tradicional como tem se
apresentado nessas últimas décadas, e até séculos.
CARMEM ROSANE e PAULO A. VIEIRA
Novembro de 2013
Lembro bem que quando fomos entrevistar Aguiar, cancelei em vez de salvar tudo o que ele havia falado e vc ficou muito bravo.
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