quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O PAPEL DAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS NA ATUALIDADE - 46° TEXTO ACADÊMICO

Cena do filme "Modigliani: paixão pela vida"
O papel das manifestações artísticas na atualidade

Quando se difere arte popular de arte erudita, a princípio enxerga-se apenas a desigualdade existente entre a divisão econômico-social das classes. Porém, é necessário observar a diferença entre forma e qualidade dessas mesmas artes, o que explica, portanto, essa distinção natural.
As artes, em geral, costumam hoje ser distinguidas em folclore, arte popular, erudita ou de elite, e as de massa, cada qual obedecendo aos seus critérios lógicos. Com um processo iniciado pela filosofia desde a Grécia, o desencanto do mundo, isto é, a passagem do mito à razão, da magia à ciência e à lógica, este fez com que se liberassem as artes da função e finalidade religiosas, dando-lhes autonomia.
Walter Benjamin enxergou nisso a possibilidade de uma maior democratização da cultura e das artes, visto que a popularização de obras consideradas de elite proporcionariam um maior envolvimento cultural das classes menos desfavorecidas. A exemplo da Bíblia sagrada que, ao ser traduzida, inicialmente para o alemão por Martin Lutero, utilizando-se da imprensa de Gutemberb, contribuiu com a ajuda protestante para difundir a religião cristã de forma mais ampla. Além de conscientizar a população, agora mais instruída, acerca das mentiras de seus governantes.
Contudo, Benjamin deixou de lado outro aspecto que seus colegas da escola de Frankfurt examinaram com mais detalhe. As artes, agora autônomas, foram submetidas às regras do mercado capitalista e à ideologia massificadora da indústria cultural.
Com a massificação das artes pela indústria cultural, expressão esta criada por Theodor Adorno e Max Horkheimer, que significa que as obras de arte são apenas mercadorias, fica claro que as expressões artísticas e intelectuais estão sendo cada vez mais vulgarizadas. Em vez de difundir e divulgar a cultura, despertando certo interesse até natural por ela, essa popularização da arte consegue desde então, banalizá-la a ponto de não mais haver qualquer sensibilidade ou reflexão na área artística.
Deste modo, sendo as manifestações artísticas construídas ou produzidas em alta escala, as obras de arte tornam-se, na atualidade, uma mercadoria em potencial, ou seja, possuem um valor de troca e um valor de uso.
No filme "Modigliani: paixão pela vida", isto fica bastante claro, especialmente num trecho em que o protagonista pergunta ao pintor Renoir quanto custara a mansão em que ele reside. O velho artista responde de forma irônica, ao afirmar que ela lhe valera "alguns quadros."
A insistência da personagem Modigliani em não ceder a esta nova realidade, também acaba contribuindo, inclusive, no comprometimento de sua saúde, levando-o ao desequilíbrio constate com a bebida e as drogas. E nem mesmo a sua visível esquizofrenia conseguia esconder o fato de que ele não concordava com essa banalização da arte que, se por um lado contribuiu para torná-la acessível às camadas mais pobres, por outro também acabou comprometendo a sua qualidade.


                                                                               Paulo A. Vieira, 01/07/2010


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