Cena do filme "Modigliani: paixão pela vida" |
O papel das manifestações artísticas na atualidade
Quando se difere arte
popular de arte erudita, a princípio enxerga-se apenas a desigualdade existente
entre a divisão econômico-social das classes. Porém, é necessário observar a
diferença entre forma e qualidade dessas mesmas artes, o que explica, portanto,
essa distinção natural.
As artes, em geral,
costumam hoje ser distinguidas em folclore, arte popular, erudita ou de elite,
e as de massa, cada qual obedecendo aos seus critérios lógicos. Com um processo
iniciado pela filosofia desde a Grécia, o
desencanto do mundo, isto é, a
passagem do mito à razão, da magia à ciência e à lógica, este fez com que se
liberassem as artes da função e finalidade religiosas, dando-lhes autonomia.
Walter Benjamin enxergou
nisso a possibilidade de uma maior democratização da cultura e das artes, visto
que a popularização de obras consideradas de elite proporcionariam um maior
envolvimento cultural das classes menos desfavorecidas. A exemplo da Bíblia
sagrada que, ao ser traduzida, inicialmente para o alemão por Martin Lutero,
utilizando-se da imprensa de Gutemberb, contribuiu com a ajuda protestante para
difundir a religião cristã de forma mais ampla. Além de conscientizar a
população, agora mais instruída, acerca das mentiras de seus governantes.
Contudo, Benjamin deixou
de lado outro aspecto que seus colegas da escola de Frankfurt examinaram com
mais detalhe. As artes, agora autônomas, foram submetidas às regras do mercado
capitalista e à ideologia massificadora da indústria cultural.
Com a massificação das
artes pela indústria cultural, expressão esta criada por Theodor Adorno e Max
Horkheimer, que significa que as obras de arte são apenas mercadorias, fica
claro que as expressões artísticas e intelectuais estão sendo cada vez mais
vulgarizadas. Em vez de difundir e divulgar a cultura, despertando certo
interesse até natural por ela, essa popularização da arte consegue desde então,
banalizá-la a ponto de não mais haver qualquer sensibilidade ou reflexão na área
artística.
Deste modo, sendo as
manifestações artísticas construídas ou produzidas em alta escala, as obras de
arte tornam-se, na atualidade, uma mercadoria em potencial, ou seja, possuem um
valor de troca e um valor de uso.
No filme "Modigliani: paixão pela vida",
isto fica bastante claro, especialmente num trecho em que o protagonista
pergunta ao pintor Renoir quanto custara a mansão em que ele reside. O velho
artista responde de forma irônica, ao afirmar que ela lhe valera "alguns
quadros."
A insistência da
personagem Modigliani em não ceder a esta nova realidade, também acaba
contribuindo, inclusive, no comprometimento de sua saúde, levando-o ao
desequilíbrio constate com a bebida e as drogas. E nem mesmo a sua visível
esquizofrenia conseguia esconder o fato de que ele não concordava com essa
banalização da arte que, se por um lado contribuiu para torná-la acessível às
camadas mais pobres, por outro também acabou comprometendo a sua qualidade.
Paulo A.
Vieira, 01/07/2010
Pura realidade
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