Hoje, dia 18 de dezembro de 2020, o meu Blog Literário - e interdisciplinar - Paulo Seixas completa 10 anos em atividade, publicando com a mesma frequência inicial textos dos mais variados gêneros (autorais ou não), a exemplo de artigos, crônicas, cordéis, poemas diversos e até mesmo material jornalístico e vídeos. E para comemorar mais uma data, estou publicando este antigo cordel que ajudei a reeditar (em muito breve, sairá impresso), o qual narra um triste acontecimento sobre uma personagem bastante conhecida da história de Queimadas.
Queimadas
é minha Terra
Onde
nela fui nascida,
Não
posso falar mal dela,
Pois
não sou desconhecida.
E
nela eu vivo fazendo
Todo
trabalho da vida.
Aqui mesmo, em minha Terra
Mora um digno cidadão,
Honrado e caprichoso,
Não é dono de brasão.
Mas em sua residência
Nunca lhe faltou o pão.
O
seu nome é Cícero Lopes,
Um
homem muito decente.
Além
de muito caritativo,
Em
farmácia é competente.
Gosta
de enterrar os mortos,
Sente
por quem está doente.
Todo
mundo lhe aprecia
Devido
ser tão honrado,
Muito
sério e agradável
Pelo
povo é respeitado.
É
difícil o “cabra” bom
Pra
não ser martirizado.
Ele aplica injeção,
Faz qualquer tratamento,
Em caso de enfermagem
Ele tem conhecimento.
Então, sobre seu acidente
Quero dar seguimento.
Ele
foi à Guritiba
Aplicar
uma injeção
Na
mulher do velho Braz.
E,
por azar ou tentação,
A
bicicleta quebrou-se,
Seu
Cícero caiu no chão.
Esse
caso foi passado
A 10
do mês mariano.
Quando
ele se viu no chão
Da
vida perdeu o plano.
Com
Jesus no coração,
Entregou-se
ao desengano.
Ele ainda viu uma moça
Pertinho dele chegar,
Um olho saltou da caixa
Faz pena até de contar.
Coitado. Ele estava vivo
Mas não podia nem falar.
Seu
rosto todo estragado
O
sangue em bica descia,
Entrava
pela boca dele
E
ele o sangue engolia.
Prostrado
em cima do solo,
Nem
falava e nem ouvia.
Dez
dentes de sua boca
Saltaram
no acidente.
Sua
língua retalhada,
Quem
tem bom coração, sente.
Ver
Seu Cícero sair bom,
Chegar
em casa doente.
Logo se espalhou a notícia,
Um rapaz seguiu no giro.
Botou Seu Cícero no Jipe
De Valdimir Cassimiro
Seu Cícero chegou em casa
Somente dando suspiro.
A
sua esposa ficou
Como
louca, lamentando.
Vendo
a hora morrer,
Consolava-se
chorando.
Com
três filhinhos ao lado
Tudo triste, lastimando.
Todo
pessoal vizinho
Por
Seu Cícero perguntava.
De
fato, se ele morresse,
O
Castanho se acabava.
E
ele em cima da cama
Não
via o que se passava.
Cuidaram em seu tratamento
Com o maior desespero.
Dr. Ari foi o seu médico,
Gastando muito dinheiro.
Ainda não ficando bom
O distinto cavalheiro.
Com
nove pontos na língua
Foi
grande admiração
Seu
Cícero não ter morrido.
Ele
já me disse, então,
Que
termina ainda fazendo
Nos
olhos operação.
Deus
o livre de tão cedo
Dele
vir à triste morte.
Pois
ele sofreu demais,
Não
morreu por ser tão forte.
Até
o nosso vigário
Bendisse
a sua sorte.
Já gastou 700 mil
Nessa enfermidade comprida.
Mas não tem nada com isso,
Que isso não lhe intimida.
Ele perdeu o dinheiro,
Porém, ficou com a vida.
A
vida é que vale tudo,
Dinheiro
não vale nada.
Ele
me contou o caso
Eu
fiquei penalizada.
A
sua esposa também
Já
está mais conformada.
Já
que Seu Cícero ficou
Com
sua língua incompleta,
Eu
vou lhe dar um conselho
Em
minha ideia completa.
Para
ele nunca mais
Viajar
de bicicleta.
O nosso Vital do Rêgo
Também sentiu sua dor.
Ele gosta de Seu Cícero,
Tem sido seu protetor.
Deus queira que Vital
Nunca diminua seu valor.
Aqui
termino meus versos,
Quero
agora um perdão seu.
Eu
não estava presente
Quando
este caso se deu.
Não
contei nem a metade
Do
que Seu Cícero sofreu.
Seu Cícero sem dúvida é uma das figuras mais populares de Queimadas. Parabéns pela iniciativa!
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