terça-feira, 1 de novembro de 2011

UM TANGO HOMENAGEANDO A MORTE

        Em junho de 1976, o cantor e compositor baiano Raul Seixas, falecido em 21 de agosto de 1989, compôs esta canção, um tango que homenageava um dos maiores mistérios da vida; a própria morte. É uma letra forte e um tanto profética, fazendo-se necessária - até pelo seu próprio contexto - ser lembrada durante esta semana, quando muitos procuram reverenciar os seus entes queridos que já se foram. Vejam abaixo, na íntegra, a letra desta música, que também leva a assinatura do escritor Paulo Coelho.


Canto para minha morte

Raul Seixas         

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa,
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez.
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar...


Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando,
Embora eu ainda não a conheça?


Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar.
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida.
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.


Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas... Um acidente de carro,
O coração que se recusa a bater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida,
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...


Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar.
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos. Na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...


Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar.
Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida.
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida.


Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho

 

3 comentários:

  1. sou fascinado por esse tema.

    A VELHA DA CAPA PRETA.

    segundo siba veloso, ela é uma atriz enxerida com presença garantida no fim de toda novela.

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  2. SEMPRE CITO ESTA CANÇÃO QUANDO FALO DE RAUL PARA ALGUÉM.É SOMBRIA E PROFÉTICA.

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  3. SÓ ESPERO QUE ESSE TAL UÍSQUE QUE RAUL FALA,SEJA NO MÍNIMO UM GREEN LABEL,E NÃO UM TEACHER'S DA VIDA.VIVA RAUL.

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