Uma composição do poeta potiguar, Lino Sapo, com algumas
"pinceladas" do poeta Paulo Seixas.
– O BERÇO DA CORRUPÇÃO –
Nesses
tempos de crise
De
grande repercussão,
Recordo-me
muito bem
De
certa corrupção
Que
eu pude assistir,
E
também pude sentir
Pela
dor da usurpação.
Foi
na minha terrinha
Que
esse fato se deu,
Na
Cachoeira do Sapo,
Muita
gente envolveu.
Eram
apenas crianças,
Fazendo
tal lambança,
Vejam
o que aconteceu.
Eu,
um menino buchudo,
Em
meio a outro bocado,
Sem
brinquedo nenhum
Pra
brincarmos animados,
Andávamos
insatisfeitos,
Juntos,
demos um jeito,
De
ser impossibilitados.
Resolvemos
o problema
Com
alguma inteligência,
Instituímos
uma moeda
Com
muita competência.
Feita
de maço de cigarros,
Esse
nosso dinheiro bizarro
Supria
a nossa carência.
Maços
usados serviam
Pro
dinheiro confeccionar,
Era
aceito pela criançada
Nos
joguinhos a se brincar.
Fosse
bingo, tila, dominó,
Baralho,
sinuca e bozó,
Todos
podiam apostar.
Até
em jogo do bicho
Tinha
a sua validade,
As
notas eram aceitas
Em
toda a comunidade.
Eram
a maior diversão,
Se
num tivesse elas, então,
Não
havia competitividade.
No
alpendre de seu Pedro
Fizemos
o nosso cassino,
Vivia
a toda hora entupido
Com
tudo que era menino.
E
tome jogo e tome jogo
Pra
alegria daquele povo
Que
tava ali se divertindo.
Aqui
e acolá uns bofetes
De
moleque se pegando,
Quando
no jogo perdiam
E
das notas iam alisando.
Por
fora da brincadeira,
De
perto tomava madeira
Quem
ficava mangando.
O
fluxo era bem grande
Nas
mãos da meninada
Que
saía das escolas
Direto
para as calçadas.
Jogarem
até o anoitecer
Até
a última nota perder,
Ou
inda serem trocadas.
Foi
um tempo áureo
Da
minha diversão,
Os
brinquedos caros
A
gente num tinha não.
Me
divertia todo dia
E
desde já eu aprendia
A
arte da competição.
Devido
à crise de notas
Já
difícil de se achar,
Pelas
ruas de cachoeira
Todos
viviam a procurar.
Saindo
de pista afora,
Querendo
sem demora
Novas
notas encontrar.
Pra
solucionar essa crise
Até
de sabonete criaram,
Era
mais uma nova nota
Que
à moeda local aliaram.
E
tome nota, tome nota,
Gerando
inclusive, agiota,
Que
com isso lucraram.
O
grande amigo Josa
Um
menino inteligente,
Pensou
numa solução
E
apresentou pra gente.
Visando
a coisa organizar,
Pra
todo mundo brincar
De
maneira eficiente.
Disse:
As notas terão valor
De
acordo com o preço.
Os
cigarros mais caros
Junto
com seus adereços.
As
quantias serão maiores,
Os
baratos ficam menores,
-
Se aceitarem, agradeço!
A
turma logo gostou
E
pensou em aceitar.
Mas
pra isso acontecer,
Teria
que regulamentar.
E
assim, houve eleição,
Fizemos
escolher, então,
Quem
ia nos representar.
Mas
aí o bicho pegou.
Era
tanto do candidato
Querendo
se eleger
Sem
pensar no gasto
Da
campanha eleitoral,
E
achando isso legal
Caíram
no plano nefasto.
E
após essa dita eleição
Havia
um prefeito eleito,
Mais
cinco vereadores
Também
venceram o pleito.
Instaurava-se
a instituição
Que
tinha a nobre missão
De
fazer alguns acertos.
Agregar
valor às notas
Duma
forma equilibrada
Dando
fim às desavenças
Entre
toda a criançada,
Que
buscava supervalorizar
As
notas que iam gastar
Quando
iam as calçadas.
Seu
primeiro ato público
Eu
jamais vou esquecer.
Fundaram
assim, um banco,
No
intuito de corresponder
Às
novas necessidades
De
toda a comunidade,
Que
queria uma conta ter.
Depois
de criado o banco
Colocaram
um gerente
Que
recebia os depósitos
E
emprestava aos clientes.
Controlavam
os gastos
E
sem deixar rastos
Enganavam
inocentes.
Notas
de Derby e Belmonte
Que
tinham pouco valor
Eram
trocadas no banco
Por
outras de valor superior.
Plaza,
Carlton, Mistral,
Holywood
e continental,
Também
se tornaram inferior.
E
pra ampliar o quadro
Os
“diamantes” inventaram,
Era
vidro de para brisa
Que
na BR juntaram.
Bem
antes de se lançar,
Houve
o cuidado de catar,
Quase
tudo eles estocaram.
Depois
de tudo definido
Lançaram
no mercado
A
um preço alto em notas
As
quais haviam rebaixado.
O
banco fazia a transação
E
participando da diversão,
Havia
moleque indignado.
Depois
dum mês inteiro
De
diamante vendido,
Acharam
por desaforo
Dar
um golpe atrevido.
Diamante
valia mais não,
O
tiraram de circulação,
Um
golpe bem sucedido.
Vendendo
seus diamantes
De
maneira superfaturada,
O
banco reteve as notas
De
toda aquela meninada.
E
agora sem circulação
Deixou
toda a população
Sem
praticamente nada.
Foi
a crise de oitenta
Que
a criançada sentiu,
Não
havia mais notinhas
Pois
o banco ali mentiu.
Vendendo
seus diamantes
Num
plano mirabolante,
E
que depois sucumbiu.
E
ainda por desforra
Para
muito desvalorizar,
Derramaram
pelas ruas
Pra
todo mundo pegar.
E
disseram em nota:
Diamante
já não voga,
O
banco decidiu anular.
Mudaram
de novo o valor,
O
que era, transformaram.
Notas
com alguma valia,
Novamente
rebaixaram.
E
quem tinha sua riqueza
Retornou
para a pobreza,
Pois
um golpe aplicaram.
O
banco saiu mais rico
A
meninada, miserável.
Sem
nenhuma nota agora,
Numa
situação deplorável.
As
que tinham, perdeu valor,
Um
verdadeiro despudor
Nunca
por nós imaginável.
Aconteceu
uma revolta
Por
toda a comunidade,
Banco
e cassino reviraram
Sem
dó e nem piedade.
Houve
muitos bofetes
Ameaças
com canivete
Perante
essa maldade.
Depois
desse episódio
Nunca
mais eu brinquei.
Fiquei
também frustrado
E
nunca mais que VOTEI.
Nem
mesmo de brincadeira,
Pois
sei que só tem sujeira;
Na
política me decepcionei.
Embora
não queira lembrar,
Nunca
consegui esquecer.
Hoje
assisto à realidade
Vendo
a sujeira acontecer.
Seja
no cenário nacional,
Estadual
ou municipal,
Outro
golpe prevalecer.
Nunca
darei cabimento
Nem
a golpista ou ladrão,
Não
falo por fingimento,
Detesto
essa podridão.
Essa
classe tão infeliz
De
político que se diz
Ser
o melhor pra nação.
Não
acredito em bancos,
Muito
menos em políticos,
Depois
dessa que passei,
Desse
fato bem verídico.
Me
afetou quando criança,
Um
símbolo da esperança,
Vendo
esses atos ilícitos.
Por
isso que eu afirmo
Com
absoluta convicção,
Dando
aqui meu parecer
Sobre
a atual corrupção.
Vivemos
um retrocesso,
O
Senado e o Congresso
Tá
infestado de ladrão.
O
Brasil perdeu as rédeas,
Nosso
país tá corrompido,
Nas
mãos de malfeitores,
De
político descomprometido,
Que
só entende de manobras,
Ou
de superfaturar obras,
Deixando
nosso povo falido.
São,
por certo, os meninos
Que
algumas décadas atrás,
Lá
na Cachoeira do Sapo,
Das
notinhas e tudo mais,
Aproveitaram
aquela febre
Passando
gato por lebre,
Enganando
os demais.
Minhas
notas eu guardei
Para
sempre na lembrança,
Tomadas
inteligentemente
Por
um bando de crianças
Já
inspiradas na política,
E
com essa atitude ilícita,
Destruíram-me
a confiança.
Fim
isso foi do meu tempo de guri, brinquei muito com essas notinhas, shua, shua, shua
ResponderExcluir