O Blog literário – e interdisciplinar – Paulo Seixas chegou hoje
aos 100.000 (cem mil) acessos, uma ideia que se iniciou há mais de cinco anos e
que teve continuidade graças a você, amigo internauta, leitor frequente das
minhas ideias aqui expostas. Em comemoração a esta marca alcançada, publiquei
esta postagem super especial, uma crônica que escrevi há algum tempo e na qual
relato um sonho de liberdade que alimentarei até o último dia da minha vida.
Confiram o texto e viagem nas minhas ideias...
MEU INUSITADO
SONHO DE CONSUMO...
Acredito que todo ser humano cultive em seu consciente um sonho impossível de se realizar, alguma coisa material talvez difícil de conquistar com o fruto de seu trabalho e que, até por vergonha de expressar, procura deixar guardado a sete chaves. Porém, como não faço parte desse todo, eu jamais esconderia de ninguém e muito menos de mim mesmo, a fantasia de poder algum dia possuir um espaço só meu em meio à natureza, semelhante, quem sabe, a uma espécie de chácara, afastada de tudo e de todos. A sua localização teria que ser, impreterivelmente, dentro dos limites da cidade de Queimadas (PB), onde eu gostaria de concretizar esta ideia.
Quem me dera ter a felicidade
de um dia não precisar mais conviver ou ter que olhar para a cara de vizinhos, essa praga que,
invariavelmente, incomoda até mesmo quando não faz nada. Esse é e será sempre o
meu maior sonho de consumo, poder morar em um ambiente tranquilo, altamente sossegado,
onde pudesse contemplar a natureza a todo o momento, e acordar todos os dias com o canto dos pássaros, respirando
o oxigênio puro das árvores e flores que eu mesmo plantara.
A minha morada seria uma
casa aparentemente simples, diga-se rústica, porém projetada com certo
conforto, sendo quase toda construída em madeira e com grandes janelas em suas
laterais – tipo um bangalô norte americano. Teria ainda uma lareira e uma
chaminé, lembrando de longe aquelas casinhas de férias (chalés) do inverno
europeu que vemos com frequência em filmes clássicos. Um firme alpendre onde eu
pudesse armar uma rede nos dias mais quentes, sentindo a brisa suave emanada
das folhas das árvores, na companhia de um bom livro. E sem esquecer também de
planejar um porão ou um sótão, dependendo de como ficasse o projeto final da
casa.
Não abriria mão de que
ela fosse totalmente decorada com móveis antigos, da sala à cozinha. Inclusive, não poderia faltar um
fogão à lenha em
sua composição, bem como todos os seus apetrechos e utensílios, a exemplo de panelas de barro e colheres de pau. Não iria conservar nenhum
aparelho eletrodoméstico dentro de casa, exceto uma antiga geladeira da década
de 1950 e ainda uma velha vitrola na qual eu haveria de ouvir os meus LP’s de
Raul Seixas. E também onde eu ouviria ao entardecer a velha canção Luar do Sertão, na voz do saudoso cantor
Vicente Celestino, contemplando a beleza crepuscular dos verões paraibanos.
Ergueria essa minha
“choupana” personalizada no centro de algum terreno nas proximidades de
Queimadas, possivelmente na altura do posto rodoviário, antes da comunidade da
Pedra do Sino. Algo em torno, talvez, de uns 5.000 metros quadrados,
de preferência onde já tivessem plantadas algumas árvores bem frondosas. Pois
entra aqui um outro sonho da minha juventude: Construir uma casinha no alto de
uma árvore. Sim, isso mesmo! Daquelas casinhas que, por sua vez, vemos em
filmes americanos, e que necessitam de uma escadinha do tipo escotilha para
subir. Lá do alto (oito a dez metros do chão) eu teria uma vista bem ampla de
toda a área em volta, e onde eu, finalmente, iria incentivar na fundação do meu
sonhado clubinho da infância... mas claro, isso eu deixaria à parte dos meus
sobrinhos mais novos em alguma visita que me fizessem. À noite, eu poderia aproveitar
a instalação para contar estrelas a olho nu e fazer pedidos ao ver alguma
estrela cadente.
Em volta da casa
principal, eu plantaria dezenas de árvores frutíferas, como jaqueiras,
mangueiras, pés de siriguela, caju, jambo, pitomba... assim como também
cultivaria uma horta com uma infinidade de opções, várias qualidades de
legumes, verduras e hortaliças. E para todos os lados que se pudesse olhar, haveria
plantas ornamentais das mais diversas variedades e espécies, fossem elas
cultivadas em jarros ou mesmo plantadas no chão. Não iria faltar ambiente verde
nessa área. O meu carinho pelas plantas só pode ser comparado à minha vontade
de criar alguns animais de estimação, um sonho que alimento desde a
adolescência. Entre eles, os meus filhotes de Rottweiler e possivelmente, de
algum felino.
Mas não me refiro a um
gato qualquer, e sim, um felino exótico, algo semelhante a um leopardo ou mesmo
um leão, o qual seria domesticado pra viver vigiadamente solto. Um animal cuja aquisição seria importado, como também licenciado pelos órgãos competentes. E, além disso, eu
gostaria de conservar algumas espécies raras de aves, as quais seriam bem
acomodadas em um enorme viveiro também licenciado, proporcionando-lhes todo o
conforto possível. Teria do mesmo modo um belo pavão, com suas cores
inconfundíveis, bem como um gavião da espécie Harpia, transformando de vez as
dependências do terreno num pequeno zoológico. Dentro de casa eu manteria um grande
aquário, todo decorado com paisagens submarinas, com peixinhos dourados ornamentando a minha
sala.
E não poderia jamais
faltar nesse projeto um laguinho artificial nos fundos da chácara, com um belo
casal de cisnes e seus filhotinhos nadando em sua volta, onde eu iria construir
uma fonte que seria permanentemente abastecida por um poço artesiano. E talvez eu construísse ainda um pequeno fosso ao
lado, onde eu colocaria um casal de jacarés, outro sonho inusitado que
acompanha o projeto dessa casa e todo o estilo natural de vida que eu passaria
a ter. Difícil mesmo é imaginar que alguma mulher quisesse adotar comigo essa
minha convivência hippie...
Eu não pensaria duas
vezes em renunciar a qualquer tipo de vida em sociedade para isolar-me de vez
do resto do mundo. Pois há muito cheguei à breve conclusão de que não resta mais nada “aproveitável” nessa realidade em que
vivemos. A cada dia que se passa a humanidade está ficando mais egoísta, mesquinha
e covarde. A falsidade e toda uma inversão de valores morais dominam agora em
todos os sentidos. Ninguém consegue inspirar mais confiança, e por isso mesmo não
vejo mais motivos pra acreditar que isso algum dia vai mudar, ou que valha a
pena lutar por este mundo.
Apesar de tudo, continuo venerando a vida como ninguém, embora
condenando esse
sistema falho e maldito que corrompeu a humanidade. Gostaria de poder amanhecer
todos os dias desejando um bom dia aos animais e às minhas plantas, onde eu
tivesse apenas o sol por testemunha. Como diria Roberto Carlos, “Eu queria
falar de alegria ao invés de tristeza, mas não sou capaz. Eu queria ser
civilizado como os animais.”
Entretanto, por incrível
que pareça, ainda gosto de cultivar certos rituais (nada no campo religioso),
de propagar algumas tradições seculares e positivas, as quais estão deixando agora
de existir pela simples ignorância de muitos. Como um patriota que sou, apesar
dos pesares, queria poder aos domingos exercer o simples dever cívico de hastear
a bandeira do Brasil e cantar o hino nacional com a mão junto ao peito,
lamentando amargamente o que os políticos e suas leis fajutas fizeram com o
nosso país no decorrer dos tempos. Talvez pudesse desfrutar desses momentos ao
lado de alguns amigos verdadeiros, em reuniões alegres regadas à poesia, prosa
e vinho.
Espero não morrer antes
de concretizar este sonho...
Paulo Seixas, março/2015
Realmente, um sonho bem inusitado rsrsrsrsrs
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