Raul Seixas, Edith Wisner (esposa) e Paulo Coelho na Passeata Ouro de Tolo, Centro do RJ |
Há 44
anos, mais precisamente, no dia 07 de junho de 1973, Raul Seixas caminhou pelas
ruas do centro do Rio de Janeiro com seu violão, acompanhado pelo parceiro
musical da época, Paulo Coelho, cantando a música Ouro de Tolo e reunindo
muitos transeuntes naquela estranha passeata. Essa ação ficou registrada como a
"Passeata Ouro de Tolo", sendo a estratégia utilizada e porque não
dizer, a maneira mais barata dele promover o seu primeiro disco solo, Krig-há
bandolo! (Cuidado, aí vem o inimigo!), uma referência ao grito que os macacos
ensinaram ao personagem Tarzan.
Divulgada
primeiramente em um compacto simples pela produtora musical Philips, a faixa
Ouro de Tolo que Raul expôs ao público nesta passeata, integrou o disco que
mais tarde foi um sucesso de crítica e de venda na época.
Finalmente lançado em julho de 1973, o disco alcançou rapidamente as
paradas de sucesso e vendeu cerca de 60 mil cópias em poucos dias (um número bem
significativo pra época). Apresentava na capa um Raul Seixas magro, cabeludo,
sem camisa, com os braços abertos, olhos semicerrados e trazendo na palma da
mão direita o desenho de uma chave, o símbolo da Sociedade Alternativa, da qual
ele e Paulo Coelho se diziam os porta-vozes.
Definida
como uma estranha canção que critica o “abestalhamento” de uma sociedade
preocupada apenas com apartamentos, carros, dinheiro, emprego e sucesso, Ouro
de tolo provocava com seus versos ainda bem atuais quando afirmavam
“Eu devia
estar sorrindo e orgulhoso/ por ter finalmente vencido na vida/ mas eu acho
isso uma grande piada/ e um tanto quanto perigosa”.
Era
denominada por alguns de “hino”, e de “canção-lamento” por outros, a despeito
da letra quilométrica, questionando a apatia, o conformismo e o consumo
desenfreado da classe média brasileira à época. Esse cenário não mudou em nada
atualmente.
Confiram abaixo a letra de Ouro de Tolo, na
íntegra
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros por mês
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar um Corcel 73
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa
Eu devia estar contente
Por ter conseguido tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto: E daí?
Eu tenho uma porção de coisas grandes
Pra conquistar, e eu não posso ficar aí parado
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Pra ir com a família ao Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos
Ah! Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco praia, carro, jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco
É você olhar no espelho
Se sentir um grandessíssimo idiota
Saber que é humano, ridículo, limitado
Que só usa dez por cento de sua
Cabeça animal
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou
policial
Que está contribuindo com sua parte
Para nosso belo quadro social
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam
quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada cheia de dentes
Esperando a morte chegar
Porque longe das cercas embandeiradas que separam
quintais
No cume calmo do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora de um disco voador
Essa
letra ganhou ainda versões em inglês e espanhol, embora não tenham sido exploradas
comercialmente. São versões, entre tantas outras canções inéditas, que só
vieram ao conhecimento público após a morte de Raul.
ADAPTADO DA FONTE:
https://raulsseixas.wordpress.com/2013/06/19/raul-seixas-os-40-anos-de-ouro-detolo-porrosana-da-camara-teixeira/
Gita é realmente uma daquelas canções que jamais se perderão no tempo.
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