No alto dos meus 41 anos
de idade percebo que, pelas minhas contas, já atravessei, como espectador, por oito
Copas do mundo (contando a partir de 1982, a primeira Copa de que me lembro), sempre
exercendo o papel de um nacionalista convicto e orgulhoso, um verdadeiro
patriota. Mas, acima de tudo, de um torcedor vibrante da nossa Seleção
Brasileira de Futebol, apesar de não ser nenhum fanático pelo esporte (Pra ser
sincero, pretendo continuar com esse pensamento).
No entanto, o meu
posicionamento nesta Copa 2014, realizada aqui no Brasil, será de completa
neutralidade, uma vez que a importância dada a este evento, no meu entender, já
perpassou os limites do bom senso. Ao inicio dos jogos, procurarei me comportar
da seguinte maneira: Se vencer, beleza, se perder, pra mim tanto faz. Ambos os
resultados não me farão a menor diferença, pois tenho motivos mais que
suficientes pra pensar assim. Creio que pra tudo nessa vida deve haver um
limite, e o meu já se esgotou faz muito tempo.
Encarando o fato de ser
um brasileiro há muito desesperançado, filho de uma pátria arruinada pela
corrupção e praticamente abandonada diante da violência e da criminalidade, só me
resta aceitar que este nosso país, no momento tão fragilizado em que se
encontra, deveria se manifestar e mover fundos em benefício do seu povo, e não
em prol de um acontecimento que só irá durar cerca de um mês. O Brasil tem
problemas muito mais sérios e urgentes para serem solucionados, a começar pelo
descaso na saúde, na educação e na própria segurança pública, entre outras
tantas deficiências que afetam a sociedade.
Somente exemplificando
essa minha revolta (que é a bandeira de luta também de outros tantos brasileiros
indignados), o tempo recorde em que construíram tantos estádios de futebol e
toda a mega preparação e estrutura utilizada pra essa Copa, o mesmo parece não
ter sido suficiente pra colocar em prática o antigo projeto de transposição de
parte das águas do rio São Francisco, uma forma de amenizar a escassez de água
no nosso Nordeste. Por que será que deixaram de lado assim o povo nordestino, num
completo descaso por parte do governo federal, tendo em vista a urgência por
água em praticamente toda a região?
Só pra termos uma ideia
do problema e da necessidade por água em grande parte do Nordeste, metade da
criação de gado foi completamente dizimada durante a seca do ano passado,
morrendo de sede e de inanição milhões de cabeças, em quase todos os Estados. E
com o desequilíbrio que o clima vem apresentando nesses últimos tempos, o
período de chuvas para este ano não vem correspondendo às expectativas dos
agricultores, fazendo com que muitos sequer se arrisquem a plantar.
Não vem ao caso aqui
discussões políticas ou o partido da situação, nem a proveniência dos recursos
aplicados, tanto para a Copa como para o projeto da transposição. O que está em
questão é a falta de respeito para com o povo do Nordeste, que mais uma vez foi
esquecido e agora trocado por um esporte. Mas o nordestino nunca desiste. Nosso
povo tem fibra, é persistente e batalhador. Nossa gente luta e suporta as
consequências e até os preconceitos com a seca.
No meu ponto de vista,
creio que água gera vida, enquanto o futebol, nesses últimos tempos, tem gerado
morte...
Paulo Seixas
Paulo sinceramente, até os protestos estão atrasados, eles deveriam ter iniciado logo após a divulgação que o Brasil seria sede do mundial.
ResponderExcluir